"TOADA DE PORTALEGRE"
“Portalegre, cidade/ do Alto Alentejo, cercada/ de serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros (…) Toda aberta ao sol que abrasa,/ao frio que tolhe, gela /e ao vento que anda, desanda (…) Serras deitadas nas nuvens,/vagas e azuis da distância.”
Foi este poema que me levou a visitar a cidade que José Régio adotou como sua.
E duas surpresas me
esperavam.
A primeira foi na Casa de José Régio onde, para além do poeta, fui
encontrar o colecionador que, em Cântico
Negro, escreveu: ” Não sei por onde vou, /Não
sei para onde vou /- Sei que não vou por aí!”. Avesso a imposições, presou
acima de tudo a liberdade e buscou um caminho próprio de realização pessoal. Ao
percorrer os espaços em que viveu, de 1928 a 1967, senti que o apelo à
transcendência em Cristo, o Homem-Deus, o ajudou a dar sentido a uma vida que
foi “ um vendaval que se soltou.“. Os visitantes demoravam-se a observar o
espólio de arte sacra e de artesanato local, mas era, em religioso silêncio,
que paravam frente aos muitos “Cristos” e “Nossas Senhoras” que povoam toda a
casa. Esse recolhimento quase sagrado fez-se ainda mais forte na sala maior
junto a um enorme Crucifixo e
à imagem de Nossa Senhora que ele canta no poema:
"Tenho ao cimo da
escada, de maneira/que logo, entrando, os olhos me dão nela,/uma Nossa Senhora de madeira/arrancada a um Calvário de capela”. Senti uma
particular emoção ao ver, junto à imagem, este poema, assinado pelo autor, que
termina: – “Porque choras, Mulher?” – docemente a repreendo./ Mas à minh’alma, então,
chega de longe a sua voz /que eu bem
entendo:/ – “Não é por Ele…”/– “Eu sei! Teus filhos somos nós.”
Por muitas e variadas razões, Portalegre é digna de ser conhecida. ( 31-8-2016)
A segunda surpresa deu-se na Sé Catedral,
iniciada em 1556, onde sobressai a arte maneirista. “O que se lhe pôs de
barroco, a preencher o espaço de obras levadas pelo tempo ou vontade de
«actualizar», à custa do antigo, não teve força, nesta Sé, para minimizar o
conjunto harmonioso do seu Maneirismo que irrompe na pintura, relevo e
estatuária, na talha dos festões e das predelas, na embriaguez dos dourados” (Catedral de Portalegre). As variações
formais que se verificaram ao longo de 48 anos não roubaram unidade às noventa
e seis pinturas, o maior conjunto maneirista existente em Portugal. Ao
percorrer as capelas (Capela- mor, Santíssimo Sacramento, S. Pedro, Senhora da
Luz, Senhora do Carmo, S. Crispim e S. Crispiniano, Santa Catarina de Sena,
Santo António, Chagas, S. Mauro, Nome de Jesus, e S. Jorge,) os nossos olhos
fixam-se nas pinturas que rodeiam e explicam o retábulo.
Em 7 de abril, a União Europeia,distinguiu-a com
o prémio “Europa Nostra”, afirmando que o trabalho “escultórico e pictórico da
catedral é particularmente notável”.Por muitas e variadas razões, Portalegre é digna de ser conhecida. ( 31-8-2016)
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