UM TEXTO DE 1594
Entre
os milhares de peregrinos que calcorrearam o “Caminho Medieval de Santiago no
Porto” (cf. VP, 6/7/2016) encontra-se Juan Baptista Confalonieri que por aqui
passou em 27 de abril de 1594 e deixou esta descrição da cidade.
“O Porto é uma cidade pequena, com 2000 fogos,
muito linda, com muitos jardins, fontes e frescura; casas alegres e igualmente
as ruas. Está situada numa colina, porém tem duas ruas planíssimas, e uma, que
chamam a Rua Nova, está traçada a cordel. Para a banda de Coimbra, parece estar
colocada no meio de um cerro, e que acima dos muros coincide com o plano
superior do monte; apresenta-se em forma de meia-lua. Está rodeada de muros e
para a banda de Coimbra, sob os muros da cidade, passa o rio Douro, mais largo
que o Tibre em Roma. Tem maré, pois confina com o mar oceano, e por aí entram
os buques e vêm as provisões; também de Lamego chegam vinhos óptimos e
presuntos excelentes. Nesta cidade há grande abundância de tecidos, de muitas
classes e a bom preço, e são os mais famosos de todo o reino, branquíssimos;
também o fio é branco e finíssimo. Os víveres são muito baratos e o ar
perfeito.
A
igreja catedral do Porto é muito antiga, como se vê na fachada de pedras muito
velhas. Não é muito grande. E está conforme quase todas as catedrais destes reinos,
com três naves e a do cruzeiro, que aqui são muito estreitas e escuras. Tem
dois órgãos. No altar maior está o corpo de São Pantaleão numa arca grande de
prata dourada que mandou fazer o Rei D. Manuel de Portugal (e ali estão as
armas do Rei de Portugal), com o Santo no meio posto em cruz como Santo André,
e outras figuras de relevo, como a Fénix, naves etc. A cidade está posta como
uma malga, no vale e colina, e os muros dão a impressão de terminarem ao nível
do monte e não sobressaem visto em perspectiva. Há muito pescado e víveres
baratos. É tudo muito fresco, alegre com flores.”
Este
testemunho mostra como os estrangeiros, já no século XVI, apreciavam o Porto,
rico em água, flores e “ar perfeito”…
Escrito
numa época de transição, descreve-nos uma cidade que adquirira uma nova
centralidade comercial no vale do “Rio da Vila”, mas ainda mantinha a Sé na sua
originalidade. Fala de “duas ruas planíssimas”: a Rua Nova, ”traçada a cordel”
que vinha do reinado de D. João I, (atual Infante D. Henrique) e a rua das
Flores que, havia 76 anos, D. Manuel mandara abrir (1518) com o nome de “Santa
Catarina das Flores”. A Sé, “muito antiga”, conservava a fachada românica “de
pedras muito velhas” e a capela-mor primitiva que, passados 18 anos (1610), o
bispo D. Gonçalo de Morais iria demolir para construir a que ainda hoje se
conserva.
Do
Douro, chegavam “excelentes” vinhos e “óptimos” presuntos. Já então Lamego era
uma referência credora do nosso apreço…
(13-7-2016)
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