O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, julho 13, 2016

UM TEXTO DE 1594



 

Entre os milhares de peregrinos que calcorrearam o “Caminho Medieval de Santiago no Porto” (cf. VP, 6/7/2016) encontra-se Juan Baptista Confalonieri que por aqui passou em 27 de abril de 1594 e deixou esta descrição da cidade.

 “O Porto é uma cidade pequena, com 2000 fogos, muito linda, com muitos jardins, fontes e frescura; casas alegres e igualmente as ruas. Está situada numa colina, porém tem duas ruas planíssimas, e uma, que chamam a Rua Nova, está traçada a cordel. Para a banda de Coimbra, parece estar colocada no meio de um cerro, e que acima dos muros coincide com o plano superior do monte; apresenta-se em forma de meia-lua. Está rodeada de muros e para a banda de Coimbra, sob os muros da cidade, passa o rio Douro, mais largo que o Tibre em Roma. Tem maré, pois confina com o mar oceano, e por aí entram os buques e vêm as provisões; também de Lamego chegam vinhos óptimos e presuntos excelentes. Nesta cidade há grande abundância de tecidos, de muitas classes e a bom preço, e são os mais famosos de todo o reino, branquíssimos; também o fio é branco e finíssimo. Os víveres são muito baratos e o ar perfeito.

A igreja catedral do Porto é muito antiga, como se vê na fachada de pedras muito velhas. Não é muito grande. E está conforme quase todas as catedrais destes reinos, com três naves e a do cruzeiro, que aqui são muito estreitas e escuras. Tem dois órgãos. No altar maior está o corpo de São Pantaleão numa arca grande de prata dourada que mandou fazer o Rei D. Manuel de Portugal (e ali estão as armas do Rei de Portugal), com o Santo no meio posto em cruz como Santo André, e outras figuras de relevo, como a Fénix, naves etc. A cidade está posta como uma malga, no vale e colina, e os muros dão a impressão de terminarem ao nível do monte e não sobressaem visto em perspectiva. Há muito pescado e víveres baratos. É tudo muito fresco, alegre com flores.”
 

Este testemunho mostra como os estrangeiros, já no século XVI, apreciavam o Porto, rico em água, flores e “ar perfeito”…

Escrito numa época de transição, descreve-nos uma cidade que adquirira uma nova centralidade comercial no vale do “Rio da Vila”, mas ainda mantinha a Sé na sua originalidade. Fala de “duas ruas planíssimas”: a Rua Nova, ”traçada a cordel” que vinha do reinado de D. João I, (atual Infante D. Henrique) e a rua das Flores que, havia 76 anos, D. Manuel mandara abrir (1518) com o nome de “Santa Catarina das Flores”. A Sé, “muito antiga”, conservava a fachada românica “de pedras muito velhas” e a capela-mor primitiva que, passados 18 anos (1610), o bispo D. Gonçalo de Morais iria demolir para construir a que ainda hoje se conserva.

Do Douro, chegavam “excelentes” vinhos e “óptimos” presuntos. Já então Lamego era uma referência credora do nosso apreço…

(13-7-2016)