CONTINUAMOS EM PÁDUA...
Ao caminhar na “Via Il Santo”, cruzei-me com a
“Via Galileo Galilei” onde viveu o “pai da ciência moderna” quando ensinava na
universidade local.
Este encontro da santidade com a ciência fez-me lembrar a
carta que Galileu escreveu a Cristina de Lorena para demonstrar que o
heliocentrismo não estava em contradição com a Fé. Dizia ele:
“Considerei necessário enfrentar
os argumentos apresentados para contradizer conclusões puramente naturais e que
não são de fé, baseados em passagens da Sagrada Escritura, que, muitas vezes,
para além do sentido literal podem ser interpretadas de diversas maneiras”.
E, para não deixar dúvidas,
clarifica: “É preciso saber-se que jamais trato de questões que afetem a
religião ou a fé e que me atenho apenas a conclusões naturais a respeito dos
movimentos celestes”.
Explica que “o motivo que os
adversários apresentam para condenar a opinião da mobilidade da Terra e
estabilidade do Sol é que, lendo-se nas Escrituras em muitas passagens que o
Sol se move e que a Terra permanece parada e, não podendo a Escritura jamais
mentir ou errar, segue-se daí, como consequência necessária, que é errónea e
condenável a sentença de quem pretendesse afirmar que o Sol é por si mesmo
imóvel e a Terra, móvel”
Afirma que “a Sagrada Escritura e a Natureza procedem
igualmente do Verbo divino, aquela como ditado do Espírito Santo, e esta como
executora fiel das ordens de Deus”. A Natureza
não pode ser diferente do que ela é porque obedece a leis impostas pelo seu
Criador, enquanto as palavras da Bíblia, que teve de adaptar a sua mensagem à
cultura dos ouvintes, estão sujeitas a interpretações diversas. Cita Tertuliano: “Nós declaramos que Deus
deve ser conhecido primeiro pela Natureza e depois reconhecido pela doutrina:
pela Natureza, através das obras; pela doutrina, através das pregações.”
E conclui: “Assim sendo, e posto
que duas verdades não se podem
contradizer, é ofício de sábios comentadores penetrar no verdadeiro sentido
das passagens da Sagrada Escritura que indubitavelmente hão-de estar em
concordância com as conclusões naturais cujo sentido manifesto ou demonstração
necessária tenham estabelecido como certos e seguros”. A Ciência poderá ajudar
a “clarificar o sentido das Escrituras no que respeita aos fenómenos naturais”.
Em síntese: O objetivo da Religião é de “nos levar para o
Céu”, enquanto que o da Ciência é de nos mostrar “como vai o céu”.
Galileu era crente e respeitador
da Igreja. Nesta longa carta, aqui apenas aflorada, revela grandes
conhecimentos exegéticos e filosóficos, com permanente recurso a Doutores da
Igreja e a filósofos da antiguidade clássica. Quanto dano se teria evitado, se
os teólogos de então tivessem acolhido esta carta… Outros tempos?…
(15-6-2016)
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