O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, junho 15, 2016

CONTINUAMOS EM PÁDUA...


 

 Ao caminhar na “Via Il Santo”, cruzei-me com a “Via Galileo Galilei” onde viveu o “pai da ciência moderna” quando ensinava na universidade local.

 
 
 
 
Este encontro da santidade com a ciência fez-me lembrar a carta que Galileu escreveu a Cristina de Lorena para demonstrar que o heliocentrismo não estava em contradição com a Fé. Dizia ele:

“Considerei necessário enfrentar os argumentos apresentados para contradizer conclusões puramente naturais e que não são de fé, baseados em passagens da Sagrada Escritura, que, muitas vezes, para além do sentido literal podem ser interpretadas de diversas maneiras”.

E, para não deixar dúvidas, clarifica: “É preciso saber-se que jamais trato de questões que afetem a religião ou a fé e que me atenho apenas a conclusões naturais a respeito dos movimentos celestes”.

Explica que “o motivo que os adversários apresentam para condenar a opinião da mobilidade da Terra e estabilidade do Sol é que, lendo-se nas Escrituras em muitas passagens que o Sol se move e que a Terra permanece parada e, não podendo a Escritura jamais mentir ou errar, segue-se daí, como consequência necessária, que é errónea e condenável a sentença de quem pretendesse afirmar que o Sol é por si mesmo imóvel e a Terra, móvel”

Afirma que “a Sagrada Escritura e a Natureza procedem igualmente do Verbo divino, aquela como ditado do Espírito Santo, e esta como executora fiel das ordens de Deus”. A Natureza não pode ser diferente do que ela é porque obedece a leis impostas pelo seu Criador, enquanto as palavras da Bíblia, que teve de adaptar a sua mensagem à cultura dos ouvintes, estão sujeitas a interpretações diversas.  Cita Tertuliano: “Nós declaramos que Deus deve ser conhecido primeiro pela Natureza e depois reconhecido pela doutrina: pela Natureza, através das obras; pela doutrina, através das pregações.”

E conclui: “Assim sendo, e posto que duas verdades não se podem contradizer, é ofício de sábios comentadores penetrar no verdadeiro sentido das passagens da Sagrada Escritura que indubitavelmente hão-de estar em concordância com as conclusões naturais cujo sentido manifesto ou demonstração necessária tenham estabelecido como certos e seguros”. A Ciência poderá ajudar a “clarificar o sentido das Escrituras no que respeita aos fenómenos naturais”.

Em síntese:  O  objetivo da Religião é de “nos levar para o Céu”, enquanto que o da Ciência é de nos mostrar “como vai o céu”.

Galileu era crente e respeitador da Igreja. Nesta longa carta, aqui apenas aflorada, revela grandes conhecimentos exegéticos e filosóficos, com permanente recurso a Doutores da Igreja e a filósofos da antiguidade clássica. Quanto dano se teria evitado, se os teólogos de então tivessem acolhido esta carta… Outros tempos?…

(15-6-2016)