O Tanoeiro da Ribeira

quinta-feira, março 19, 2009

E A GALIZA AQUI TÃO PERTO...

Neste tempo em que…
. cada vez mais portugueses e galegos cruzam o rio Minho em viagens de negócio ou de recreio e o Porto se enche de turistas galegos;
. a auto-estrada nos coloca na Galiza em menos de uma hora;
. os autarcas do Norte de Portugal e da Galiza do “Eixo Atlântico” concertam estratégias para formarem uma euro-região transnacional no noroeste peninsular;
importa realçar que a fronteira que passa no meio do rio Minho é uma linha imaginária que foi traçada pelos políticos de antanho, não para favorecer o desenvolvimento dos povos, mas para que se saiba “quem manda em quem e quem obedece a quem”. É fruto do poder político e não do querer das gentes.

“O Minho une, não separa

Para ver as muitas vertentes que unem portugueses e galegos basta uma breve incursão:

- pela História e encontraremos a velha Gallaecia, província romana que, desde o rio Douro, se estendia até à costa cantábrica da Galiza: para os Romanos, a norte do Douro, todos nós éramos “galegos”;
- pela toponímia e veremos que os nomes das terras se repetem nos dois lados da fronteira: Gondomar, Baltar, Porto, Lordelo, Castelo, Vilar, Couto, e muitos outros;
- pela língua e literatura e encontraremos o galaico-português e o mesmo lirismo saudoso nas “Cantigas de Amigo” do “Ai flores…” do nosso rei D. Dinis e do “Ondas de mar de Vigo” do jogral galego, seu contemporâneo, Martin Codax:
-Ai flores, ai, flores do verde pino
Se sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?


Ondas do mar de Vigo
Se vistes meu amigo!
E ai Deus, se verrá cedo.



- pela geografia e daremos razão ao que disse o filólogo português Rodrigues Lapa:
Portugal não pára nas margens do Minho: estende-se naturalmente (…) até às costas do Cantábrico. O mesmo se pode dizer da Galiza: que não acaba no Minho, mas se prolonga suavemente, até às margens do Mondego”.

Permuta entre a Voz Portucalense e a Revista Encrucillada

Como sinal e reforço destes múltiplos encontros, as Direcções da Fundação Voz Portucalense e da Associación Encrucillada passaram recentemente a permutar as suas publicações, respectivamente o jornal “Voz Portucalense” e a “Encrucillada”, “Revista Galega de Pensamento Cristián” que se publica de dois em dois meses em volumes de cem a cento e vinte páginas. A Encrucillada é fruto do Vaticano II. Foi seu alfobre um grupo de sacerdotes galegos, conhecidos como “os europeos” por pertencerem ao “Colóquio Europeu de Paróquias” com quem fiz amizade no Colóquio de Turim em 1969. Dos “europeos”, com António Vilasó e Chao do Rego, era grande entusiasta o Paco, pároco de Aguinho, uma aldeia piscatória na “Costa da Morte”, que tinha como “filho espiritual” um jovem teólogo, seu paroquiano e professor no Seminário Maior de Santiago de Compostela, de nome Andrès Torres Queiruga. Foi este a alma-mater da revista, o seu primeiro director e a sua maior referência. No primeiro número, em Fevereiro de 1977, escrevia que a revista seria “ punto de encontro reflexivo, lugar de comuñón de experiencias para todos aqueles que comparten a nosa mesma fe, aínda que poidan ser diversos e plurais na súa interpretación reflexa, que iso é a teoloxía. E quere ser unha man tendida ao diálogo con aqueles que, sen compartir a nosa fe, se moven por idénticas arelas: servir a Galicia e servir ó ser humano de Galicia. “(Como as nossas línguas são parecidas!...)
Este projecto corporizou-se em mais de dois mil artigos assinados por cerca de 500 peritos em questões teológicas, culturais, sociais, políticas e económicas, sem olhar a credos ou ideologias políticas. Actualmente, a “Encrucillada” tem-se especializado em temas propriamente religiosos. Para além de constituir um importante acervo para o conhecimento da Galiza, da Igreja e do Mundo, a ela se deve a criação de uma teologia bem incarnada na realidade galega, sem deixa de sublinhar, com liberdade crítica, a transcendência como característica do ser pessoa.