SEM PAZ NÃO HÁ PERDÃO
Na Cooperativa Árvore...
No passado dia 13 de Fevereiro, a Cooperativa Árvore encheu-se para a apresentação do livro “Janela do (In)finito” do Pe. Anselmo Borges, professor de Filosofia na Universidade de Coimbra
Depois de convidar para a mesa os amigos António Reis, professor universitário e grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, Maria de Belém, deputada do PS e Paulo Rangel, deputado e líder da bancada do PSD, o Pe. Anselmo centrou a sua intervenção no parêntesis do (In)finito. Falou do homem como síntese de finito e infinito, alguém que, sentindo-se contingente, tem fome do absoluto. Ao ouvi-lo, lembrei-me de Santo Agostinho para quem o coração do Homem anda inquieto enquanto não repousar em Deus.
António Reis acentuou quão diversos são os caminhos que o homem percorre na busca da Infinitude. Realçou a laicidade do Estado como garante do respeito integral pelas diferentes expressões religiosas e afirmou a necessidade de um “ethos universal” como condição imprescindível para a construção da paz entre os povos.
Maria de Belém começou por afirmar que deve ao Porto a matriz identitária da sua personalidade e prestou homenagem ao Pe. Luís Rodrigues, da igreja da Lapa, que muito influenciou a sua adolescência. Contou que ele, ao comentar o episódio evangélico da ressuscitação de Lázaro, afirmou: Cristo disse “levanta-te e anda”; e Lázaro sentou-se e falou. Mesmo depois de ressuscitado, Lázaro não cumpriu cegamente a ordem que lhe foi dada. Foi este apelo à liberdade que lhe formatou a vida. E eu recordei o que escreveu um portuense ilustre nascido a menos de 100 metros da casa onde nos encontrávamos, Almeida Garrett: “Se na nossa cidade há muito quem troque o b por v, há muito pouco quem troque a liberdade pela servidão” .
Maria de Belém iniciou o seu comentário com “O enigma de uma janela” cujo fascínio “ está em que se vê de fora para dentro e de dentro para fora, mas de tal maneira que as duas visões não são coincidentes” E lamentou que a Igreja (“nós também somos Igreja”), por vezes, especialmente no ”Estatuto da Mulher”, seja mais uma janela de olhar para dentro que uma janela aberta à amplidão dos horizontes, como luz e vanguarda duma humanidade que se quer mais humana para ser mais divina.
Paulo Rangel, após comentar S. Paulo “Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher”(Gal. 3,28), rematou: “ Não há paz sem perdão; não há perdão sem religião”. Estas duas afirmações originaram um debate de grande elevação que mostrou que a paz é possível se houver tolerância ao nível do pensamento especulativo e convergência na acção. Todos concordaram que ”Sem perdão não há paz”. Porém, enquanto Paulo Rangel afirmava que a Ética dos Direitos Humanos, só por si, não garante a paz porque não inclui o perdão, os outros dois intervenientes defendiam que a Declaração Universal dos Direitos do Homem é condição necessária para a paz porque a Ética também inclui o perdão.
“Perdoa-nos… assim como nós perdoamos…”
Ao reflectir sobre o tema, senti vontade de rezar ”Pai Nosso…” e recordei-me dum colóquio sobre o conflito Israelo-Árabe, onde o conferencista afirmou que nunca se conseguirá uma paz duradoura porque a matriz cultural, comum a Judeus e Árabes, assenta na “Lei de Talião”. Ambos desconhecem o perdão. O perdão é uma proposta absolutamente revolucionário de Cristo, ao arrepio do “olho por olho, dente por dente”. E Ele não só pregou a necessidade do perdão como o testemunhou no alto do calvário:”Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc.23,34).
No amor, no perdão e na compaixão, Cristo é o “Príncipe da Paz”. Perdoando, também nós somos construtores de paz. Este poderia ser o lema para a nossa Quaresma.
No passado dia 13 de Fevereiro, a Cooperativa Árvore encheu-se para a apresentação do livro “Janela do (In)finito” do Pe. Anselmo Borges, professor de Filosofia na Universidade de Coimbra
Depois de convidar para a mesa os amigos António Reis, professor universitário e grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, Maria de Belém, deputada do PS e Paulo Rangel, deputado e líder da bancada do PSD, o Pe. Anselmo centrou a sua intervenção no parêntesis do (In)finito. Falou do homem como síntese de finito e infinito, alguém que, sentindo-se contingente, tem fome do absoluto. Ao ouvi-lo, lembrei-me de Santo Agostinho para quem o coração do Homem anda inquieto enquanto não repousar em Deus.
António Reis acentuou quão diversos são os caminhos que o homem percorre na busca da Infinitude. Realçou a laicidade do Estado como garante do respeito integral pelas diferentes expressões religiosas e afirmou a necessidade de um “ethos universal” como condição imprescindível para a construção da paz entre os povos.
Maria de Belém começou por afirmar que deve ao Porto a matriz identitária da sua personalidade e prestou homenagem ao Pe. Luís Rodrigues, da igreja da Lapa, que muito influenciou a sua adolescência. Contou que ele, ao comentar o episódio evangélico da ressuscitação de Lázaro, afirmou: Cristo disse “levanta-te e anda”; e Lázaro sentou-se e falou. Mesmo depois de ressuscitado, Lázaro não cumpriu cegamente a ordem que lhe foi dada. Foi este apelo à liberdade que lhe formatou a vida. E eu recordei o que escreveu um portuense ilustre nascido a menos de 100 metros da casa onde nos encontrávamos, Almeida Garrett: “Se na nossa cidade há muito quem troque o b por v, há muito pouco quem troque a liberdade pela servidão” .
Maria de Belém iniciou o seu comentário com “O enigma de uma janela” cujo fascínio “ está em que se vê de fora para dentro e de dentro para fora, mas de tal maneira que as duas visões não são coincidentes” E lamentou que a Igreja (“nós também somos Igreja”), por vezes, especialmente no ”Estatuto da Mulher”, seja mais uma janela de olhar para dentro que uma janela aberta à amplidão dos horizontes, como luz e vanguarda duma humanidade que se quer mais humana para ser mais divina.
Paulo Rangel, após comentar S. Paulo “Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher”(Gal. 3,28), rematou: “ Não há paz sem perdão; não há perdão sem religião”. Estas duas afirmações originaram um debate de grande elevação que mostrou que a paz é possível se houver tolerância ao nível do pensamento especulativo e convergência na acção. Todos concordaram que ”Sem perdão não há paz”. Porém, enquanto Paulo Rangel afirmava que a Ética dos Direitos Humanos, só por si, não garante a paz porque não inclui o perdão, os outros dois intervenientes defendiam que a Declaração Universal dos Direitos do Homem é condição necessária para a paz porque a Ética também inclui o perdão.
“Perdoa-nos… assim como nós perdoamos…”
Ao reflectir sobre o tema, senti vontade de rezar ”Pai Nosso…” e recordei-me dum colóquio sobre o conflito Israelo-Árabe, onde o conferencista afirmou que nunca se conseguirá uma paz duradoura porque a matriz cultural, comum a Judeus e Árabes, assenta na “Lei de Talião”. Ambos desconhecem o perdão. O perdão é uma proposta absolutamente revolucionário de Cristo, ao arrepio do “olho por olho, dente por dente”. E Ele não só pregou a necessidade do perdão como o testemunhou no alto do calvário:”Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc.23,34).
No amor, no perdão e na compaixão, Cristo é o “Príncipe da Paz”. Perdoando, também nós somos construtores de paz. Este poderia ser o lema para a nossa Quaresma.
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