O Tanoeiro da Ribeira

domingo, fevereiro 01, 2009

PE. ADRIANO MARTINS E S. FRANCISCO DE SALES



Imagem de São Francisco de Sales que se venera na igreja de Santo Ildefonso no Porto

Quando, no dia 24 de Janeiro último, na Associação Católica do Porto, assistia ao colóquio em honra de S. Francisco de Sales, lembrei-me que aquela casa era a “menina bonita” do Pe. Adriano Martins, Pároco de Santo Ildefonso. Mesmo já alquebrado pelos anos e pela doença, raro era o dia em que não vinha até ali para conversar com um escol de homens que soube formar e que marcou a igreja e a sociedade portuense daquela época. Entre muitos outros, recordo os engenheiros Vilela Bouça, Guedes Cardoso e os comerciantes senhores Martins, Castro Neves e Januário, pai do Bispo D. Januário.

Monsenhor Adriano Moreira Martins

Pe. Adriano cultivou, durante toda a vida, a austeridade e a honradez que bebeu no seio de uma família, muito estimada, em Terronhas, Recarei, onde nasceu em 1881. Na imponência da sua figura, na força da sua palavra, na firmeza do seu carácter, no aprumo do seu porte estava um sacerdote carismático que honrou o clero do Porto e deixou “órfãos” todos os que, de lágrimas nos olhos, o acompanharam na sua última viagem até ao cemitério da sua terra natal.
A seu respeito, recordo o que me dizia Frei Geraldo “ sempre questionei a obediência, mas sempre obedeci”. Nem sempre estava de acordo com as orientações do Prelado da Diocese, mas sempre obedeceu.
À firmeza das suas convicções aliava a finura de um humor sempre oportuno e, por vezes, irónico. Num certo dia, veio ao escritório paroquial uma senhora que, com uma roupa muito jovem e o rosto muito polvilhado de pó de arroz, procurava disfarçar os anos que já ia contando. Enquanto falava com o coadjutor, o senhor Abade observava-a de alto a baixo. Quando a senhora saiu, perguntou ao seu colaborador: - “Que lhe pareceu esta senhora?” - “Boa pessoa mas, coitada, um pouco ridícula a querer passar por nova”. – “Pois é, responde o senhor Abade, era a figura que eu fazia se fosse adoptar os seus métodos pastorais”. A brincar costumava dizer que não dereria dar a comunhão a senhoras com os lábios muito pintados porque "Nosso Senhor não gosta de entrar em casas pintadas de fresco".
A melhor forma que tenho para o caracterizar é atribuir-lhe o que Jesus disse a respeito de Natanael “ Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade” (Jo. 1,47)

São Francisco de Sales

Velho lutador do diário católico portuense “A Palavra”, o Pe. Adriano via em S. Francisco de Sales, cuja imagem se venera na igreja de Santo Ildefonso, o seu modelo na eloquência, na tenacidade, na coragem, na verticalidade. Como ele o admirava! Com que sabedoria dele falava!... Gostava de referir que aquele Santo dizia:”apanham-se mais moscas com uma colher de mel do que com uma barril de vinagre” .Contava, ainda, que um dia S. Francisco de Sales entrou na sua Catedral de Genebra para pregar um sermão da Quaresma. Quando subiu ao púlpito, viu que a igreja estava totalmente vazia. Então, olhou para o sacrário e disse: Senhor, era em Tua honra que eu vinha falar. Mesmo sendo o único, vais ter de me ouvir. Pregou e gesticulou como se a igreja estivesse repleta de fiéis. No final, quando o Santo desceu do púlpito e se dirigia para a sacristia, saiu de trás de uma das colunas da Catedral um homem que lhe disse: - “Senhor Bispo, eu quero baptizar-me. Ouvi o seu sermão e agora vejo que o senhor acredita naquilo que diz.”
Não foi por acaso que, durante muitos anos, a festa de S. Francisco de Sales era comemorada com uma Missa na Igreja de Santo Ildefonso.
A Voz Portucalense, ao comemorar o Padroeiro dos Jornalistas, está também a prestar homenagem a Monsenhor Adriano Martins e a todos aqueles cristãos que, no dealbar do século XX, souberam dignificar a Igreja e honrar Cidade do Porto. Muitos deles têm o seu retrato na Associação Católica do Porto e, como dizia D. Manuel Clemente, certamente no Céu terão ficado satisfeitos com este retomar da história.