“MÃE E MESTRA”
A reportagem televisiva
No dia treze de Outubro, um programa televisivo passou uma reportagem sobre “Os Padres Políticos”. Entre os vários sacerdotes apresentados, mereceu-me especial atenção o Padre Martins Júnior, da Madeira, por ter sido referenciado o seu processo de reintegração na Igreja.
Não foi sem razão que a nomeação de D. António Carrilho fez renascer na Igreja do Funchal a esperança de ver resolvido um problema que a afectava havia cerca de trinta anos. Assim, em 10 de Julho de 2008, o Gabinete de Informação da Diocese do Funchal fez sair uma nota em que esclarecia: “ A situação jurídico-canónica do Rev. Padre Martins mantém-se inalterada. No entanto, com a chegada do novo Bispo ao Funchal em Maio de 2007, iniciou-se um caminho de diálogo e aproximação, tendo em vista a sua reconciliação e integração plena na comunhão da Igreja diocesana.” Este sinal de abertura reforçou a esperança de uma solução rápida para o “caso Pe. Martins” que, a partir daí, saltou para a ribalta da comunicação social e passou a ser um assunto recorrente nos serviços noticiosos.
Quem é este Sacerdote?
O Pe. Martins Júnior ordenou-se presbítero em 1962. Em 27 de Julho de 1977, o então Bispo do Funchal, D. Francisco Santana, suspendeu-o do exercício sacerdotal, devido à sua actividade política, considerada contrária às orientações canónicas. Foi presidente da Câmara de Machico entre 1990 e 1998, tendo depois exercido funções de deputado na Assembleia Regional da Madeira. Em 1974, fora nomeado pároco de Ribeira Seca e, graças ao apoio do povo nunca mais abandonou a paróquia mesmo depois de ser suspenso do exercício sacerdotal. Por isso, o Ministério Público, após denúncia, instaurou-lhe, em 1991, um processo-crime de “abuso de designação, sinal ou uniforme”, conforme a Concordata de 1940. Como, entretanto, a Concordata fora revista, o seu julgamento foi suspenso.
A carta Quando em Agosto passado soube, pela comunicação social, que o novo Bispo do Funchal, D. António Carrilho, que eu conhecera quando era Bispo Auxiliar da nossa Diocese, tinha dado início a “um ciclo de diálogo, tendo em vista a integração plena (do Pe. Martins) na comunhão da Igreja”, escrevi-lhe uma carta, em 19 de Agosto, a que, cordialmente, me respondeu, com um “Bem Haja!”, num cartão pessoal, logo no dia 28 desse mês.
Transcreverei apenas o que considero mais importante.
“ Excia Reverendíssima
Esta carta ter-lhe-á causado surpresa até porque poderá não estar a reconhecer-me. (…)
Em 1992, visitei, com minha esposa e meus dois filhos, a Ilha da Madeira. Nessa data, quis falar com o Pe. Martins Júnior que eu conhecia apenas pela comunicação social e que era o presidente da Câmara do Machico. Dirigi-me ao edifício da Câmara e apresentei-me à secretária do Presidente como sendo um cristão da diocese do Porto que estava de visita à Madeira e gostaria de falar com o Pe. Martins. Logo este saiu do seu gabinete, saudou-me efusivamente bem como aos meus familiares e convidou-nos a entrar. Já dentro do seu gabinete, falámos longamente sobre a Igreja do Porto que ele afirmou muito admirar bem como de D. António Ferreira Gomes. Falou-me com entusiasmo da sua actividade pastoral. (…) Não teve uma palavra de censura para com a hierarquia. Falou-me sempre como um”homem da Igreja”. Senti que amava a Igreja e a parcela do Povo de Deus que esta lhe confiara.
Foi, por isso, que com muito agrado li uma notícia que, referindo-se ao Senhor D. António Carrilho, dizia que iniciou “um ciclo de diálogo e aproximação, tendo em vista a reconciliação e a integração plena (do Pe. Martins) na comunhão da Igreja”
Fiquei feliz ao ver que há um bispo que, colaborando “em tudo aquilo” que seja para o bem comum”, afirma a isenção e autonomia”, face ao poder político. E o Pe. Martins é um problema de Igreja que só a esta compete resolver.
Senhor Bispo, veja nesta minha carta um acto de gratidão para quem, sem me conhecer, tão bem me recebeu só porque era seu irmão na Igreja.
Resta-me, humildemente, louvar a sua iniciativa e desejar-lhe as maiores felicidades na sua actividade episcopal em favor de uma Igreja que salva na Fraternidade. (…)”
A razão do título Em 1961, no septuagésimo aniversário da “Rerum Novarum”, Sua Santidade o Papa João XXIII, de veneranda memória, publicou uma Encíclica sobre a “Evolução da Questão Social á luz da Doutrina Cristã,”. Na sua introdução dizia:
“Mãe e mestra de todos os povos, a Igreja Universal foi fundada por Jesus Cristo, a fim de que todos, vindo no seu seio e no seu amor, através dos séculos, encontrem plenitude de vida mais elevada e penhor seguro de salvação.”
A Encíclica “Mater et Magistra” , para além de ser uma lufada de ar fresco que marcou profundamente a doutrina social da Igreja, sempre me encantou pelo seu título: “Mãe e Mestra”. Neste caso, a ordem dos factores não é arbitrária. O bondoso Papa João quis dizer-nos que, antes de tudo, a Igreja é Mãe.
A Igreja é Mestra (“Mestra em Humanidade”) e, como tal, deve aconselhar o caminho, rasgar horizontes, fornecer ideais, mas, antes de ser Mestra, é Mãe. E a Mãe é aquela que ama o filho, mesmo quando este não realizou os ideais que para ele sonhara, mesmo quando trilhou caminhos bem diferentes daqueles que lhe ensinara, mesmo quando ele lhe aparece desfigurado como “filho pródigo”. Mais ainda, a mãe não se limita a esperar o filho e a recebê-lo quando ele regressa, mas, aflita, vai à sua procura quando ele se transviou. As mães que me estão a ler compreendem bem o que estou a dizer…Se a Igreja, como mestra, orienta para o ideal; como mãe, acolhe o real.
Como eu lembro o que respondeu uma mãe quando uma vizinha lhe criticava o filho que não seguira os caminhos que a sociedade enaltecia e ela sempre desejara: “Sabes, tu falas assim porque não o amas; se fosses a sua mãe, não falarias assim…”. Isto é que é ser mãe…
Creio que agora, amigo leitor, já compreendeu o título que escolhi para este meu texto. São atitudes como a que D. António Carrilho tomou em relação ao Padre Martins Júnior que dão razão ao nosso “Bom Papa João” e nos fazem sentir que a Igreja é verdadeiramente Mãe.
No dia treze de Outubro, um programa televisivo passou uma reportagem sobre “Os Padres Políticos”. Entre os vários sacerdotes apresentados, mereceu-me especial atenção o Padre Martins Júnior, da Madeira, por ter sido referenciado o seu processo de reintegração na Igreja.
Não foi sem razão que a nomeação de D. António Carrilho fez renascer na Igreja do Funchal a esperança de ver resolvido um problema que a afectava havia cerca de trinta anos. Assim, em 10 de Julho de 2008, o Gabinete de Informação da Diocese do Funchal fez sair uma nota em que esclarecia: “ A situação jurídico-canónica do Rev. Padre Martins mantém-se inalterada. No entanto, com a chegada do novo Bispo ao Funchal em Maio de 2007, iniciou-se um caminho de diálogo e aproximação, tendo em vista a sua reconciliação e integração plena na comunhão da Igreja diocesana.” Este sinal de abertura reforçou a esperança de uma solução rápida para o “caso Pe. Martins” que, a partir daí, saltou para a ribalta da comunicação social e passou a ser um assunto recorrente nos serviços noticiosos.
Quem é este Sacerdote?
O Pe. Martins Júnior ordenou-se presbítero em 1962. Em 27 de Julho de 1977, o então Bispo do Funchal, D. Francisco Santana, suspendeu-o do exercício sacerdotal, devido à sua actividade política, considerada contrária às orientações canónicas. Foi presidente da Câmara de Machico entre 1990 e 1998, tendo depois exercido funções de deputado na Assembleia Regional da Madeira. Em 1974, fora nomeado pároco de Ribeira Seca e, graças ao apoio do povo nunca mais abandonou a paróquia mesmo depois de ser suspenso do exercício sacerdotal. Por isso, o Ministério Público, após denúncia, instaurou-lhe, em 1991, um processo-crime de “abuso de designação, sinal ou uniforme”, conforme a Concordata de 1940. Como, entretanto, a Concordata fora revista, o seu julgamento foi suspenso.
A carta Quando em Agosto passado soube, pela comunicação social, que o novo Bispo do Funchal, D. António Carrilho, que eu conhecera quando era Bispo Auxiliar da nossa Diocese, tinha dado início a “um ciclo de diálogo, tendo em vista a integração plena (do Pe. Martins) na comunhão da Igreja”, escrevi-lhe uma carta, em 19 de Agosto, a que, cordialmente, me respondeu, com um “Bem Haja!”, num cartão pessoal, logo no dia 28 desse mês.
Transcreverei apenas o que considero mais importante.
“ Excia Reverendíssima
Esta carta ter-lhe-á causado surpresa até porque poderá não estar a reconhecer-me. (…)
Em 1992, visitei, com minha esposa e meus dois filhos, a Ilha da Madeira. Nessa data, quis falar com o Pe. Martins Júnior que eu conhecia apenas pela comunicação social e que era o presidente da Câmara do Machico. Dirigi-me ao edifício da Câmara e apresentei-me à secretária do Presidente como sendo um cristão da diocese do Porto que estava de visita à Madeira e gostaria de falar com o Pe. Martins. Logo este saiu do seu gabinete, saudou-me efusivamente bem como aos meus familiares e convidou-nos a entrar. Já dentro do seu gabinete, falámos longamente sobre a Igreja do Porto que ele afirmou muito admirar bem como de D. António Ferreira Gomes. Falou-me com entusiasmo da sua actividade pastoral. (…) Não teve uma palavra de censura para com a hierarquia. Falou-me sempre como um”homem da Igreja”. Senti que amava a Igreja e a parcela do Povo de Deus que esta lhe confiara.
Foi, por isso, que com muito agrado li uma notícia que, referindo-se ao Senhor D. António Carrilho, dizia que iniciou “um ciclo de diálogo e aproximação, tendo em vista a reconciliação e a integração plena (do Pe. Martins) na comunhão da Igreja”
Fiquei feliz ao ver que há um bispo que, colaborando “em tudo aquilo” que seja para o bem comum”, afirma a isenção e autonomia”, face ao poder político. E o Pe. Martins é um problema de Igreja que só a esta compete resolver.
Senhor Bispo, veja nesta minha carta um acto de gratidão para quem, sem me conhecer, tão bem me recebeu só porque era seu irmão na Igreja.
Resta-me, humildemente, louvar a sua iniciativa e desejar-lhe as maiores felicidades na sua actividade episcopal em favor de uma Igreja que salva na Fraternidade. (…)”
A razão do título Em 1961, no septuagésimo aniversário da “Rerum Novarum”, Sua Santidade o Papa João XXIII, de veneranda memória, publicou uma Encíclica sobre a “Evolução da Questão Social á luz da Doutrina Cristã,”. Na sua introdução dizia:
“Mãe e mestra de todos os povos, a Igreja Universal foi fundada por Jesus Cristo, a fim de que todos, vindo no seu seio e no seu amor, através dos séculos, encontrem plenitude de vida mais elevada e penhor seguro de salvação.”
A Encíclica “Mater et Magistra” , para além de ser uma lufada de ar fresco que marcou profundamente a doutrina social da Igreja, sempre me encantou pelo seu título: “Mãe e Mestra”. Neste caso, a ordem dos factores não é arbitrária. O bondoso Papa João quis dizer-nos que, antes de tudo, a Igreja é Mãe.
A Igreja é Mestra (“Mestra em Humanidade”) e, como tal, deve aconselhar o caminho, rasgar horizontes, fornecer ideais, mas, antes de ser Mestra, é Mãe. E a Mãe é aquela que ama o filho, mesmo quando este não realizou os ideais que para ele sonhara, mesmo quando trilhou caminhos bem diferentes daqueles que lhe ensinara, mesmo quando ele lhe aparece desfigurado como “filho pródigo”. Mais ainda, a mãe não se limita a esperar o filho e a recebê-lo quando ele regressa, mas, aflita, vai à sua procura quando ele se transviou. As mães que me estão a ler compreendem bem o que estou a dizer…Se a Igreja, como mestra, orienta para o ideal; como mãe, acolhe o real.
Como eu lembro o que respondeu uma mãe quando uma vizinha lhe criticava o filho que não seguira os caminhos que a sociedade enaltecia e ela sempre desejara: “Sabes, tu falas assim porque não o amas; se fosses a sua mãe, não falarias assim…”. Isto é que é ser mãe…
Creio que agora, amigo leitor, já compreendeu o título que escolhi para este meu texto. São atitudes como a que D. António Carrilho tomou em relação ao Padre Martins Júnior que dão razão ao nosso “Bom Papa João” e nos fazem sentir que a Igreja é verdadeiramente Mãe.
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