O Tanoeiro da Ribeira

domingo, julho 13, 2008

CASA DA MÚSICA FAZ O SEU CAMINHO

UMA PRENDA PARA MANUEL DE OLIVEIRA

No passado domingo, 6 de Julho, a “Sala Suggia”, auditório principal da Casa da Música, encheu-se de uma assistência entusiasta para participar no espectáculo “ Aniki-Bobó segue o seu caminho”. Pelo seu grandioso palco não iria passar nenhum nome famoso do mundo do música, mas muitas crianças e jovens enquadrados por competentes profissionais. Pareciam bandos de andorinhas!…
O violoncelista Ernst Reijseger coordenava 56 violoncelistas com violoncelos de acordo com o tamanho dos seus executantes, oriundos de diversas escolas: Escola de Música Guilhermina Suggia, de Esposende, de Espinho, de Perosinho, de Fiães, do ESMAI, Academia de Música de Espinho, de Vilar do Paraíso ( a minha aluna Filipa Carvalho também lá estava com o seu violoncelo). Que graça tinha a mais pequenina com um violoncelo que, apesar de pequeno, a excedia em dimensões que não em talento!…
O coreógrafo e bailarino António Tavares encheu o palco com 47 actores/bailarinos moradores do Bairro do Aleixo, do Bairro do Lagarteiro, do Bairro do Cerco, alunos do Colégio Barão de Nova Sintra, Oficina de S. José, Colégio dos Órfãos e KSP. Como eu desejaria que os órgãos de comunicação social dessem relevo a este trabalho de promoção humana que se desenvolve nos bairros sociais e em comunidades educativas e deixassem de noticiar apenas o que de mal neles acontece…
Enquanto violoncelistas e bailarinos nos encantavam, Tiago Pereira, com um vídeo, onde cenas do filme Aniki-Bobó se articulavam com a actualidade, dava significado a tudo o que se passava no palco. Se os cenários eram outros, com os bairros sociais a substituírem o velho casario da Sé, a problemática e as vivências das personagens continuavam as mesmas. Porque os “olhos são as janelas da alma”, foram os olhares que mais realçaram a identidade entre o passado e o presente: olhares de revolta, de medo, de ansiedade, de tristeza, de alegria, de carinho, de confiança, de amor… Personagens diferentes, mas sempre os mesmos olhares.
Foi um espectáculo completo: música, teatro, bailado e… um apelo à esperança.
Está de parabéns o cineasta Manuel de Oliveira que, com a sua presença na sala e a sua participação no vídeo, enriqueceu este trabalho. Também alguns dos actores nos honraram com a sua presença, como fez Fernanda Grilo, a “Teresinha” do filme.
Está de parabéns a Casa da Música que está a cumprir o seu caminho, como afirma no programa que nos distribuiu: “ Nos 100 anos de Manoel de Oliveira, a Casa da Música revisita Aniki-Bobó, a primeira longa-metragem de um nome maior da sétima arte, um filme das nossas visa. (…) Estabelecendo paralelismos com o filme de 1942, esta peça de 2008 será, certamente, uma das maiores homenagens que pode fazer-se a Manoel de Oliveira e a Aniki-Bobó: levar para o primeiro plano protagonistas da vida real”. Ao fazê-lo a casa da Música cumpre o seu compromisso “ com as diferentes comunidades, tendo em vista a sua integração social e uma participação activa na vida cultural (…) num tecido urbano tradicionalmente associado a situações de exclusão”.
Estão de parabéns todos aqueles que nos bairros sociais e noutras comunidades trabalham pela integração e dignificação das suas crianças e jovens.
Estão, particularmente, de parabéns esses muitos jovens artistas que nos deliciaram e fizeram acreditar num amanhã melhor.
Razão tinha o Carlitos, um dos protagonistas do filme, quando dizia: “ As almas são borboletas que voam pelo ar fora … até se fazerem estrelas.
Quantas borboletas... quantas estrelas... encheram a Casa da Música…