O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, dezembro 05, 2007

PORTO – PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE


Foi no dia 4 de Dezembro de 1996 que a UNESCO aprovou a candidatura do Porto a Património Mundial da Humanidade.
Nesse dia, a nossa cidade pôde acrescentar o título: “Cidade Património da Humanidade” aos muitos de que já se orgulhava: “Cidade da Virgem”; “Cidade Invicta”; “Cidade da Liberdade”; “Cidade do Trabalho”. Aquela que começou por ser a cidade do bispo é agora um património aberto a toda a humanidade.
Ao ler o “Livro de Ouro” publicado pelo “O Comércio do Porto” a propósito desse evento, apercebo-me de que a maioria dos monumentos nele apresentados é obra da Igreja o que prova a importância desta na construção da identidade do Porto. Apenas alguns: Sé Catedral, Igreja dos Clérigos, Igreja de Santo Ildefonso, Colégio e Igreja de S. Lourenço, Igreja de S. Francisco, Igreja de Santa Clara, Paço Episcopal, Igreja e Hospital do Terço, Capela dos Alfaiates, Igreja Terceira dos Franciscanos, Igreja de S. Nicolau, Capela da Senhora do Ó, Capela da Lada, Palácio e Igreja de S. João Novo, Igreja da Misericórdia, Igreja dos Congregados, Igreja da Trindade, Capela de Nossa Senhora da Silva, Igreja dos Carmelitas, Igreja do Carmo, Igreja de S. José das Taipas, Igreja e Convento de S. Bento da Vitória, Igreja de Nossa Senhora da Vitória, Igreja de S. Pedro de Miragaia e, já em Gaia, Mosteiro da Serra do Pilar. Mas, mais que os monumentos, o que mais fascina é que o Porto Histórico, no seu todo, é uma obra de arte colectiva, é um monumento uno e único. Razão tinha o grande teólogo galego, Andrès Torres Queiruga, que ao contemplar o Porto afirmava: “ Não conheço cidade mais bonita que o Porto”.
Vista de Gaia, a Cidade surpreende-nos pela sua delicada harmonia na diversidade das suas formas e volumes, na pluralidade das suas torres e clarabóias, na variedade das suas cores. É “ cascata sanjoanina” como diz Carlos Tê, onde os grandes edifícios religiosos que dominam as alturas da Sé se combinam com o casario multifacetado que desce até á Ribeira.
Há, porém, um momento do dia em que o Porto se torna mágico. É quando o sol se põe no Oceano e as sombras avançam sobre a cidade. À medida que a noite cresce, as luzes das casas vão-se acendendo lenta e progressivamente: uma aqui, outra ali, ora no morro da Sé ora junto ao rio. É um bailado de luz e sombras que se projecta nas águas negras do Douro.
Este ano, um grupo de portuenses denominado “Cidadãos do Porto” decidiu comemorar a data, sob a divisa “eu imPORTO-me”.
Concentrámo-nos no cimo do “Morro da Pena Ventosa”, junto da velha Sé, no local onde em 1147, o Bispo do Porto, D. Pedro Pitões, convenceu os Cruzados Nórdicos a irem ajudar D. Afonso Henriques a conquistar Lisboa aos Mouros.
Depois, descemos em direcção à Ribeira, pelas ruas das Aldas, Penaventosa, Santana. Ao passar junto do que resta do velho arco que deu nome ao romance de Almeida Garrett. “ O Arco de Santana”, parámos para contemplar a linda imagem de Santa Ana, incrustada no suporte do arco e admirarmos as velas que a devoção mantém acesas.
A partir daí, entramos no Porto Burguês pelas ruas da Bainharia e dos Mercadores. À medida que descemos aquelas ruas sinuosas e alcantiladas, vamo-nos impregnando de séculos de história e sentimos que, a cada passo que damos, são séculos que se somem sob nossos pés.

Na Praça do Infante, junto ao Palácio da Bolsa, congregaram-se os diferentes grupos que se tinham juntado em diversos pontos, sempre acompanhados por artistas da cidade. Às 20 horas, num palco improvisado na escadaria do Palácio, Rui Abrunhosa cantou a “Balada de Gisberta” que dedicou a todos os que são marginalizados e esquecidos. Depois da participação das “ Vozes da Rádio”, de Ana Deus e os Gambozinos, e do Conjunto de António Mafra, a festa atingiu o seu auge quando Rui Veloso cantou o seu “Porto Sentido” acompanhado pela assembleia que marcava o ritmo da música com as lanternas acesas.
Às 22 horas, já dentro do Palácio da Bolsa, Pedro Burmester executou parte duma partitura de Jonh Cage. Foram quatro minutos e trinta e três segundos de um profundo e significativo silêncio partilhado por toda assistência que enchia completamente o Salão Árabe. Foi uma forma de Pedro Burmester participar nestas comemorações sem quebrar a sua promessa de não mais tocar no Porto enquanto Rui Rio for Presidente da Câmara. Assim, contornou a questão: interpretou sem tocar. Com efeito, nesta partitura não há música, há apenas silêncio porque, como diz o seu autor “tudo o que fazemos é música” e pode haver muita musicalidade numa partitura sem música. E foi impressionante a dignidade com que Pedro Burmester fez a sua interpretação, a forma como saudou a assistência no princípio e no fim, a postura que manteve durante a actuação, folheando por três vezes os papéis da partitura porque, como disse no início, tratava-se duma peça com três andamentos. De seguida, falou Álvaro Gómez-Ferrer Bayo, consultor da UNESCO que avaliou a candidatura do Porto e propôs a inclusão do centro Histórico na Lista do Património Mundial. Que bom foi ouvir este arquitecto espanhol falar dos afectos, das cores e dos cheiros do Porto e ouvi-lo dizer que a história, a arquitectura, o urbanismo a geografia (que o rio Douro muito enriquece) e as gentes se congregaram para fazer do Porto um sítio único no Mundo.