INFÂNCIA REVISITADA – PERIPÉCIAS III
Com os meus irmãos…
Éramos três filhos: o José Joaquim, mais velho que eu 12 anos, meu padrinho a quem sempre chamei “Padrinho” (nunca irmão), tratei por você e com quem dormia na cama quando criança; o António, mais velho do que eu dez anos, bom companheiro e grande compincha, e que já faleceu e eu que era o “testo da panela” que nascera quando já não se esperava. Diz-me a minha prima Zezinha Terrafeita que se constava na aldeia que eu nascera devido a um momento de maior alegria de meu pai, motivado por uma pinguita a mais, no dia da comunhão solene dos meus irmãos que comungaram no mesmo dia (um com 11 e outro com 9 anos). Fazendo as contas… até pode ter sido… Mas não foi por causa disso que eu fui menos amado. Bem pelo contrário, era o centro da família: o brinquedo dos meus irmãos e a preocupação dos meus pais – tive mimos que os outros não tiveram…
Das muitas peripécias que vivi com meus irmãos, destacarei apenas algumas que me perecem mais significativas…
1. “Padre Nosso…
Era eu muito pequeno, apareceu na aldeia um gato vadio, abandonado, elegante no seu porte de gato de cidade, felpudo com um comprido e sedoso pêlo branco. Era bonito aquele gato, um bicho fino e porque fino não caçava ratos, preferia banquetear-se com pintainhos e frangos, o raio do gato. Era fidalgo, como dizia minha mãe. De dia, atacava tudo o que fosse pintainho ou frango pequeno e, de noite, assaltava as capoeiras. Era um desassossego para toda a gente. A sua condenação à morte foi lavrada sem apelo nem agravo pelas mulheres do lugar lideradas pela tia Rita Queiroz. Mas, como que adivinhando a sentença que lhe fora aplicada, o dito cujo desaparecia de dia e, de noite, só se dava pela sua presença quando ,de manhã, se viam penas de frango espalhadas junto das capoeiras.
Porém, certa tarde de domingo, ele fora avistado nas proximidades de minha casa. Alertada por tal inusitada aparição diurna, logo a rapaziada da aldeia se juntou para uma batida. Fazendo grande algazarra e batendo com tudo o que provocasse barulho, desde tachos a panelas e testos, encurralaram-no no sótão de minha casa e, aí, num golpe de mestre, o senhor Moisés Vieira, agarrou-o e, batendo com ele pelas paredes, evitava que ele o arranhasse e… assim morreu. E o Tio Moisés transformou-se num herói para toda aquela pequenada que batia palmas perante tão inesperado espectáculo. Foi uma festa!...
Apesar de comer os pintainhos, um animal tão soberbo merecia um enterro a condizer. Organizou-se a procissão que conduziria o defunto até junto de uma pereira, ao fundo da nossa cortinha. Na frente, seguia um rapaz com dois paus cruzados a imitarem uma cruz; quatro dos rapazes mais velhos pegavam-lhe pelas patas; meu irmão António, com um saiote branco da mãe enfiado pela cabeça, fazia de padre, botava a reza e todos os acompanhantes (eu era um deles: que idade teria, se meu irmão António, mais velho dez anos, ainda se prestava a este papel?), respondiam em coro:
António - “ Padre Nosso
Todos - Rilha o ósso.
Rilha tu
Qu’eu já não posso”
E a reza repetiu-se durante todo o cortejo fúnebre.
Nunca mais me esqueci dos dentes “ arreganhados” do gato. Esta imagem perseguia-me e aterrorizava-me. Meu padrinho, quando nos íamos deitar, virava-se para mim com os dentes “arreganhados” e os dedos em forma de garras abertas só para me ouvir gritar: - Ó mãe! – Que é João! - É o padrinho a fazer caras feias!...- Maluco, não metas medo ao menino!... Deitava-me com aquela imagem assustadora e, para ter a certeza que não era o gato que eu estava a ver na escuridão, fechava os olhos e encostava-os às costas do meu padrinho e pensava cá para comigo: não, não é o gato porque aqui ficam as costas do meu padrinho!... E tocava-lhe para me certificar…
O que uma criança sofre…
2. Dá aqui!...
No verão, quando o milho andava a secar na eira, meus irmãos dormiam na “batediça” para o guardar: não podemos esquecer que era tempo de muita miséria e de racionamento dos produtos alimentares por causa da guerra… Dormiam os dois numa cama escondida atrás do erguedor.
Um dia ao fim da tarde quando meus irmãos e várias raparigas do lugar procediam ao “ meter o milho dentro” (o milho era espalhado na eira de manhã e, à noite, recolhia-se na “batediça”), meu padrinho pegou na pistola que tinham debaixo do travesseiro para o caso de aparecerem ladrões, e apontando-a para a Maria da Laura, diz:- Ó Maria, se eu quisesse…- Olha dá aqui…, responde a Maria ao mesmo tempo que lhe virava o rabo e apontava para a nádega direita. De repente, ouve-se um tiro e uma bala silvou e faiscou nas pedras da eira… Ficou tudo petrificado, sem sangue. Meu padrinho ficou branco como a cera. A Maria tremia… Graças a Deus, ninguém se feriu. E logo ali foi selado um pacto de silêncio para meu pai não saber. O pior era o pequenito que assistiu a tudo… - O João, tu não dizes a ninguém, nem à mãe!, ordenou-me meu padrinho – Stá bem eu não digo.
O que se passou? Meu padrinho puxou pelo gatilho, convencido que a pistola estava travada. Mas é que o António, antes, sem ele saber, tinha-lhe mexido e puxara a bala ao cano… E ela disparou…
Eu cumpri a promessa. Os pais não souberam de nada. E meu padrinho safou-se de grande castigo. Ainda dizem que as crianças não são capazes de guardar segredos…
3. Nariz e orelhas grandes…
Certa tarde, fui levar a merenda a meus irmãos que andavam a cortar mato na cavada da Seixosa. Enquanto comiam, o António vira-se para mim e diz: - Ó João, tenho estado a olhar para ti… Já reparaste que o teu nariz e as tuas orelhas são quase do tamanho das nossas? Repara para o teu tamanho. És muito mais pequeno que nós. O nariz e as orelhas vão crescer como o teu corpo e tu vais ter um nariz enorme e uma orelhas maiores que um burro, quando fores grande. E o meu padrinho, muito sério, confirmava as afirmações do irmão. Fiquei muito aflito e, quando cheguei a casa, desabafei à minha mãe. Ela sossegou-me. – “As orelhas e o nariz não crescem como o restante corpo”. E, à noite, lá estava a ralhar com eles: - “Seus malucos, só consumis o menino!...” E eles riam-se…
4. "Dido estoufo…"
Noutra ocasião, na mesma cavada, meus irmãos disseram-me que me iam ensinar um jogo. Encantado! – Nós dizemos uma palavra sempre começada por “dido”: por exemplo, “DidoPorto” e tu repetes a mesma palavra mas com o “dido” no fim: neste caso tu, responderias “Portodido”. Percebeste? Então vamos lá jogar. Começam eles: Didolisboa e eu Lisboadido. Didocoimbra e eu Coimbradido. Eles insistem, tens de ser mais rápido. Didocasa e eu Casadido; Didobola e eu Boladido;. Mais rápido! DidoRibeira e eu: Ribeiradido; Didopedra- Perdadido; Didopão - Pãodido; Didoquero – Querodido; Didoportugal - Portugaldido; Didoestoufo- Estoufodido. O quê? Interrompem eles com cara de muito escandalizados. - Disseste uma asneira! Vamos dizer à mãe. - Não disse nada. - Olha então repete: didoestoufo e eu -estoufodido –Vês repetiste a asneira. Tu disseste “estou fodido”. Só então percebi na esparrela em que tinha caído. E comecei a chorar. Eles pegaram em mim ao colo e, a brincar, atiraram comigo para cima de uma mouta de mato. - Não vamos dizer nada, só estávamos a brincar contigo. Mas nunca mais joguei com eles este jogo.
Criança sofre…
5. “ Procurem o touro!...”
“ Aquederrei”!... “Aquederrei”. Os gritos ecoaram na noite e vinham da casa da tia Margarida Leoa. Já escurecera há muito e toda a gente se havia recolhido em suas casas. Meus irmãos estavam a pensar o gado. Mal ouviram, largaram tudo e correram a socorrer - “ Que foi?... Que aconteceu?” - A porta está aberta e o toiro não está lá dentro. Roubaram-me o toiro, berrava a tia Leoa. Em tempo de miséria como aqueles para uma família pobre de três mulheres, caseiras da Cerqueda, um toiro era uma fortuna.
Meus irmãos, as filhas da casa, a Emília e a Palmira e outros rapazes que acorreram, agarraram em enxadas e foicinhas e lançaram-se à procura do ladrão. A noite estava escura. -“Está ali um homem atrás daquelas silvas, grita a Palmira. – Onde? – “Ali!...” E um homem, escorraçado, irrompe e desata a correr. -Ele vai a fugir”! Meus irmãos perseguem-no e só ouviam ele dizer: - “Não fui eu! Procurem o toiro!..”. Quando já estava mais próximo, meu padrinho arremessou-lhe uma enxada que quase o ia apanhando. Quando se viu em perigo, o vulto parou e berrou.- “ Sou eu, Zé Jaquim!” Meu padrinho ficou estarrecido, ia matando o professor Guedes que tinha sido seu professor. – “ Procurem o toiro!..”. Toda a gente ficou embasbacada – “ O Professor Guedes?!... Voltaram para casa à procura do toiro. E foram-no encontrar noutra corte. Alguém da casa, por engano, tinha-o metido numa corte que não era a dele…
Coitado do professor Guedes!... Que pouca sorte a dele! Há cada coincidência!... Que andaria ele a fazer por aqueles sítios escuros, àquela hora da noite? Aulas nocturnas? Nunca ninguém teve a ousadia de lhe perguntar nem ele disse. Mas da fama não se livrou e a sua postura de homem respeitável foi fortemente abalada. A Tia Leoa era uma viúva nova e pobre, mas de quem nunca se tinha ouvido dizer nada… Ao Professor Guedes não lhe interessavam os toiros… Regente escolar, solteirão (?), já adiantado na idade, procurava outras rezes e outras aves… Ia-lhe ficando cara aquela aventura de apaixonado serôdio… E o meu padrinho poderia ter cabo da sua vida por causa de um engano de mulheres… Conclusão?...
6. As luzes do “outro mundo”
Meu padrinho chegou esbaforido naquela noite. Minha mãe e eu acordámos estremunhados. – “Que foi, Quim?” – Eu não volto para Godas!..., dizia, branco como a cal.
Naquela noite luarenta de Junho, era nosso o “engenho da varge”. O António andava no engenho a tocar os bois; meu padrinho, depois do “Areal”, estava a regar o campo de Godas; meu pai percorria o rego para que ninguém roubasse a água para os seus campos e ia dando apoio ora a um ora a outro filho.
Quando andava a regar ao cimo de Godas, meu padrinho viu, ao longe, no valado que descia para o rio, umas luzes a tremeluzir e gritou: “Podeis aparecer que não me meteis medo!... Era vulgar a rapaziada, para meter medo a algum colega que andava, aparecer com luzes e imitar vozes estranhas como se fossem do outro mundo. E continuou a regar: talha aqui, talha ali… Mas, de repente, ao levantar a cabeça, vê as luzes já muito próximas. – “ Quem sois? Pergunta. E nada, só o silêncio da noite … Mais um bocadinho e as luzes rodearam-no por completo. E, quando ele ia a guiar a água, as luzes colocaram-se no local onde ia espetar a talhadoira de lousa. E não aparecia ninguém!... Ele perdeu a fala. Os cabelos eriçaram-se (até os meus ainda se eriçam agora que estou a recordar esta passagem…). Virou a água para os pés do milho, largou a enxada, pegou nos socos na mão e desatou a correr para casa. Aquilo era “coisa roim”, almas do outro mundo!... (Porque quem morresse sem pagar uma promessa ou mudasse os marcos de um terreno não tinha descanso enquanto a promessa não fosse cumprida ou os marcos não voltassem para o seu lugar – falava-se de marcos que durante a noite eram repostos nos seus antigos locais… E então quem se suicidava como “ o do gaio” - nunca se pronunciava o seu nome- que se enforcou numa cavada de S. Gens?!...)
Passado pouco tempo, chegava meu pai aflito porque o Quim não estava em Godas!... Que lhe teria acontecido? (Que falta faziam os telemóveis!...). Quando viu o filho e este lhe contou o sucedido, meu pai, homem de coragem, regressou sozinho ao campo para não deixar perder a água que os bois na Varge continuavam a tirar e não encontrou nada de estranho.
O que terá visto meu padrinho? Borboletas que reflectiam a luz do luar? “Arincús ( assim se chamavam os pirilampos na minha terra) ? Fogo-fátuo? Terá sido pura ilusão? Ele sempre negou. E não era medroso, porque, a partir daí, continuou a regar de noite. E não era aldrabão como muitos dos rapazes nossos vizinhos (o campeão era o ti Zé Rocha.). Todos contavam visões de “coisas roims”, abantesmas, galinhas pretas com pintainhos que, à meia-noite, voavam como andorinhas; cães enormes que os seguiam passando as paredes sem saltarem e muitas outras coisas mirabolantes que os engrandeciam aos olhos de quem os ouvia, como rapazes valentes e sem medo (e eu era um ouvinte atento e atemorizado. Ainda hoje sofro de terrores nocturnos por causa dessa influência infantil. Essa é a razão pela qual nunca falei nem permiti que se falasse destes assuntos à frente dos nossos filhos quando eram crianças…)
7. A chamuscadela das sobrancelhas
Certa noite, andava eu com um gasómetro a alumiar o António que regava o campo do Traganhal. Não sei por que lá andava naquela noite? Estaria muito escuro? Estaria o António com medo de andar sozinho? Não sei porque ninguém mo disse e as “criança não tem que perguntar”. Só sei que ia “arranjando um estrugido”. O gasómetro era uma espécie de candeeiro a gás. Era o que os mineiros, da ardósia na minha terra e os do carvão em S. Pedro da Cova, usavam quando desciam para o fundo das pedreiras e que provocaram várias explosões nas minas de carvão por causa do grisu. Não sei porquê, o gasómetro apagou-se: o vento, uma folha de milho que lhe bateu? Só sei que se apagou. Então, eu, menino armado em espertinho… há que o arranjar. Sem dizer nada, abri-o e deitei-lhe água. Ao contacto com a água, o carboneto explodiu e o lume lambeu-me as sobrancelhas e queimou-me a parte da frente do cabelo. Mas, arranjado o gasómetro, o trabalho da rega continuou. Quando, de manhã, minha mãe me viu sem sobrancelhas e com o cabelo queimado ficou muito aflita e quem apanhou um ralhete foi o António… Muitas injustiças se cometem!...Desculpa, querido irmão! Como eu gostaria de, ainda hoje, estar contigo a regar o campo do Traganhal…
8. “Seu stapor”
Meus irmão andavam a talhar mato na nossa cavada de S. Gens. Ao fim da tarde, eu e o Tio Adão fomos ter com eles, levando o carro para trazer o mato para casa.
O António subiu para cima do carro enquanto o meu padrinho e o Tio Adão lhe chegavam as moitas de mato. Eu guardava os bois que pastavam. E o mato no carro foi crescendo. Quando já todo mato estava carregado, chegou o momento de o atar com uma enorme corda que o prendia ao carro. Enquanto o António, em cima do mato, o pisava com toda a força para que ele se comprimisse o mais possível, em baixo meu padrinho retesava a corda que o tio Adão puxava. Ou porque puxaram de mais ou porque a corda estava fraca, a verdade é que esta se partiu e meu padrinho caiu de costas para trás, dando um enorme “vira-cu”. Ficou furioso. A assistir a tudo isto estava, impávido e sereno, o nosso cão, o “lulu”- um belíssimo cão de pêlo branco e comprido, muito bonito para cão da cidade mas que não prestava como guarda porque não metia medo a ninguém. (Foi o único cão de que eu gostei e que me acompanhava para todo o lado: eu gostava mais dos gatos…). Além de bonito, tinha um porte distinto e parecia que estava sempre a rir-se. Ao levantar-se, meu padrinho viu o “lulu” e berrou:- ” Seu stapor, tu ainda te estás a rir?!...” E um soco voou e acertou em cheio no infeliz que não teve culpa nenhuma e fugiu a ganir … e foi esconder-se atrás de um pinheiro enquanto nós nos ríamos do trambolhão do meu padrinho. Quem é que não se riria? “ Só nos rimos do mal…”, diz o povo.
9. O abelhão.
Noutro dia, andavam meus irmãos ao mato na cavada de Negral de Baixo, quando um abelhão se levantou de uma “touça” de mato. E, de imediato, deu em cima do meu padrinho que se pôs a correr para se livrar dele.. Mas, qual quê! Meu padrinho bem rodeava pinheiros, eucaliptos, sobreiros… mas… o abelhão sempre atrás dele. Enquanto isso, o António, apoiado na enxada e o pé direito em cima de uma moita ( parece que ainda o estou a ver…), ria-se a bandeiras despregadas… Até que meu padrinho, em vez de se encostar a um pinheiro, rodeou o António. Aí, o abelhão largou-o e dá em cima do António que desata a correr como um doido, enquanto que, agora, era o meu padrinho que se ria a bem rir da figura do irmão. Eu, que lá fora levar a merenda e brincava num rego de água que atravessava a cavada vinda da “mina das neves”, assistia atemorizado, com medo que o abelhão ferrasse nalgum deles ou viesse ter comigo. Mas, não, não ferrou e acabou por desaparecer por detrás de uns tojos mais altos …
10. O lobo de Luriz
Luriz fica próximo da casa onde nasci. Estou convencido que o nome do meu lugar, Ribeira, tem a ver com esse lugar. Com efeito, como se justifica o topónimo 2Ribeira" para um local que se situa numa encosta longe do rio da minha terra, o rio Ferreira? Creio que o nome lhe advirá do facto de se situar numa ladeira de fronte de Luriz, separada por um pequeno ribeiro. Seria a ribeira de Luriz.
Luriz era um couto que foi doado a D. Hugo, Bispo do Porto, por D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques. Estendia-se por uma extensa zona rural e, por essa razão, os proprietários dessas terras pagaram, até ao 25 de Abril, um imposto que se chamava “ foro da mitra” ou simplesmente “mitra” . Mitra é um tipo de chapéu que os bispos colocam por cima do solidéu, nos momentos mais solenes dos actos litúrgicos. Por isso, pagar a mitra era pagar o foro ao bispo como foreiros que eram das suas terras. O Couto de Luriz teve tribunal próprio, pelo menos, até ao século XIX, que julgava os crimes cometidos dentro da sua jurisdição. Talvez se deva a isso, o grito de “aquederrei”, muito vulgar na minha terra como um grito de socorro. Será uma corruptela linguística do grito que as pessoas do couto, foragidas à justiça, davam quando alcançavam terra regalenga: “ Aqui d’El Rei”! Como que a dizer: já estou em terra do rei e aqui já não me podeis prender. Era um pedido de socorro aos oficiais do Rei para que os defendessem contra os poderes do Couto. A importância deste couto mede-se, também, pela imponência e beleza da “ponte do Morte” ou “ponte de Luriz”, romano-gótica, sobre o rio Ferreira que dava passagem para o núcleo central do Couto, onde se situa, actualmente, o lugar.
Talvez por essa razão, os habitantes de Luriz sempre se julgaram superiores aos da Ribeira, sendo grande a rivalidade entre estes dois lugares. Se meu pai assumia a liderança da Ribeira, como o maior lavrador num lugar em que quase todos eram caseiros da Cerqueda; em Luriz, lugar de grandes lavradores como os Nogueiras, os Pintos e os Janetes, era o Tio António Arte, o mais importante, que mais se orgulhava da superioridade do seu lugar.
Quando meu pai movia todas as suas influências para que se fizesse a actual estrada que atravessa o lugar, o Tio António Arte disse ao meu padrinho.- “Vós tereis uma estrada quando as galinhas tiverem dentes…”. Logo que meu pai teve a certeza que a estrada ia ser feita, meu padrinho encontrou-o junto do campo das Vinhas e disse-lhe: - Sabe, Tio António, não sei o que se passa em minha casa, parece que está a acontecer um milagre: é que as galinhas estão todas a ganhar dentes…” Ele compreendeu e desviou a conversa.
Um acontecimento veio sobressaltar a pacatez medieval das pessoas de Luriz, fazendo delas motivo de chacota. À noite, começaram a ouvir-se uns uivos estranhos e alguém afirmou ter visto um corpulento animal, que todos consideravam um lobo, a rondar a casa do Arte. Pelo sim, pelo não, as mulheres e crianças deixaram de sair à noite, os homens saíam sempre armados com pistolas ou espingardas e os rapazes formavam grupos para as saídas nocturnas É que o “animal” só aparecia de noite e não era todas as noites. Organizaram-se batidas, grupos de homens revezavam-se na guarda do lugar. Mas, nessas ocasiões, ninguém lhe punha a vista em cima. Quando menos o esperavam, lá se ouviam os aterradores uivos nocturnos. Saíam apressados os homens, mas do animal nem rastos. Já havia quem dissesse que era um leão, mas muitos outros afirmavam tratar-se de “coisa roim”. Até que um dia, na cortinha do Arte, apareceu morto um grande cão que teria morrido à fome tal o seu estado de fraqueza. E nunca mais apareceu o lobo de Luriz que até já era leão ou “coisa roim”. Foi o escárnio geral. Os de Luriz andavam envergonhados. Ficavam furiosos quando alguém, à sua passagem, dizia baixinho: - “Que terá acontecido ao lobo de Luriz?” Meu irmão António até compôs um poema, tipo poesia de escárnio e mal-dizer, que num sábado, pela calada da noite, afixou nas árvores do adro da igreja o que, no domingo seguinte, motivou chistes venenosos e comentários jocosos por parte das gentes da freguesia e grande revolta e vergonha às pessoas de Luriz. Mas ninguém soube que o António Tanoeiro era o seu autor. Se soubessem… E eu assistia a tudo isto, cúmplice e conivente numa atitude de total sigilo. Devo dizer que, também eu, andava com medo do lobo de Luriz.
11. As gemadas…
Para mim era uma alegria quando algum irmão se constipava ou ficava com gripe. O tratamento, além de papas de linhaça no peito, incluía sempre uma gemada. Minha mãe partia o ovo e separava a clara da gema. Batia a gema com açúcar e dava-a ao doente. Por que é que eu ficava contente com a doença de alguém da casa? Porque, como era o menino, minha mãe punha a clara numa colher de ferro, segurava-a sobre a fogueira e dava-me um”ovo estrelado” que, no caso era “clara estrelada”. Que bem me sabia…Era um mimo…para “o olho da panela”.
12. Até as galinhas aprendem…
O nascimento de uma ninhada de “pitos” era um momento de grande preocupação para minha mãe porque, às vezes, nasciam poucos ou porque os ovos estavam chocos ou porque a galinha não sabia aconchegar os ovos debaixo das asas. Era sempre uma incógnita. Depois de nascerem, era uma trabalheira. Começavam por ficar no quinteiro. Quando cresciam um bocadinho, minha mãe, e eu ajudava, levava-os para a eira onde havia sempre milheiros perdidos e muitas minhocas e outros bichinhos que eles comiam: aprendiam a lutar pela vida. Mas à noite, íamos lá acima e enxotávamo-los à nossa frente para virem para o quinteiro, por causa das raposas, das doninhas e outros animais que os podiam comer. Assim, desde muito novos, os pintainhos habituavam-se a atravessar a estrada que fica entre a eira e minha casa. E nunca nenhum ficou atropelado.
Os frangos, as galinhas e os ovos eram muito importantes para a economia doméstica porque, com o dinheiro da sua venda, minha mãe podia comprar o açúcar, o arroz e outros produtos alimentares: à mãe competia a micro-economia familiar, geria o dinheiro que provinha do leite, das galinhas e dos ovos, para a despesa diária. A macro-economia era da competência do pai com a venda do vinho, do milho, das batatas, do gado, dos pinheiros. Coitadita de minha mãe, nos primeiros tempos, às vezes tinha de vender uns quilitos de milho ou de batatas, sem meu pai saber, para fazer frente à despesa diária da casa, mas ficava sempre com problemas de consciência de que sempre se acusava quando ia ao confesso. Eu via esta pequena transgressão mas nunca disse nada. Podia confiar. Um dia, já era eu sacerdote, minha mãe falou-me desses problemas de consciência e eu sosseguei-a: - “Minha mãe, o milho e tudo o que se produzia em casa não era também seu?A mãe não trabalhava? E o dinheiro não era para alimentar a família?” Mais tarde, falei com meu pai sobre esse assunto. E ele, com lágrimas nos olhos, falou-me dos tempos difíceis que vivêramos, quando tinha que pagar “as tornas” aos irmãos de minha mãe. Chorámos os dois… Foi uma cartase…
Por esta razão, em minha casa havia ovos e galinhas mas era para vender… não era para nós… Mais tarde quando já estudante, que bem me sabiam uns ovos que minha mãe estrelava quando o primo Manuel Joaquim aparecia comigo depois da missa!... Era um mimo para quem ela muito estimava e eu...
Meu pai era, de certo modo, uma figura pública, como agora se diz, na freguesia: fora presidente da Junta, regedor, presidente da casa do povo, louvado da fazenda pública e mesmo vereador da Câmara Municipal de Valongo. Quando as pessoas precisavam de ajuda para assuntos de tribunal, da Junta ou da Câmara, outinham problemas com papéis, iam pedir-lhe conselho. (Meus pais completavam-se maravilhosamente: minha mãe era a bondade em pessoa; meu pai era o homem culto e bem informado). Por vezes, ofereciam-lhe um ou outro presente. Quando aparecia um frango como dádiva, eu e meus irmãos começávamos a esfregar as mãos porque sabíamos que, mais dia menos dia, iríamos comer frango. É que, como não estavam habituados, na primeira vez que atravessassem a estrada, a virem da eira para o quinteiro, seriam atropelados. E assim acontecia infalivelmente. Minha mãe, então, acabava de os matar e nós regalávamo-nos com mais um franguinho e com uma canja deliciosa de galinha…
Quando, mais tarde, soube disto, o meu amigo José Ferronha, psiquiatra, concluiu: até as galinhas, que são estúpidas, são capazes de aprender…
13. A lambada de meu pai
Por razões que não cabe aqui explicar, mandei um grande calhau contra uma porta da nossa casa e fiz-lhe um grande buraco (a porta já deveria estar podre…). Fiquei logo a saber que, mais-dia-menos-dia, iria ser castigado por meu pai. Meus irmãos, já sabidos nestas coisas, ensinaram-me - Qualquer dia o pai chama-te, traz- te até junto da porta e pergunta-te quem fez isto, e tu dizes fui eu; pergunta se tu voltas a fazer e tu respondes que não senhor: e depois dá-te uma cachaçada e diz-te se voltas a fazer outras vez… E aconselharam-me como fazer… Quando passava junto dessa porta, já me via a estender-me ao comprido pelo chão adiante. Estava com sorte porque a estrada tinha sido macadamizada havia pouco tempo e os carros, ao passarem, era um curva, atiravam o saibro e a areia para junto da porta que eu furara o que iria atenuar a minha queda e evitar que esfolasse a palma das mãos. Certo dia, meu pai lá me chamou e saíram as perguntas sagradas e as respostas estudadas. Quando eu disse “ não senhor” já a mão vinha no ar e, apenas senti a mão a chegar-me ao cachaço já eu me estendia pela areia adiante com um grande mergulho (lembro-me sempre disto quando vejo um jogador de futebol aproveitar um leve toque do adversário para simular um grande queda…). E as coisas ficaram por aqui. Eu, todo contente pelo sucesso do estratagema, fui ter com meus irmãos ao campo das Lamas e contei-lhes que tudo acontecera como eles me ensinaram… Ficaram satisfeitos por me terem ajudado até porque sabiam que eu não tive culpa naquele arrombo que fiz na porta ( um dia contarei…). Quando, muito mais tarde, já era padre, contei ao meu pai toda esta peripécia, ele, a rir-se confessou: - “Bem me parecia que houve marosca porque a chapada que te dei não era para aquele “estardalhaço” todo”. E rimo-nos. Obrigado, irmãos…
Éramos três filhos: o José Joaquim, mais velho que eu 12 anos, meu padrinho a quem sempre chamei “Padrinho” (nunca irmão), tratei por você e com quem dormia na cama quando criança; o António, mais velho do que eu dez anos, bom companheiro e grande compincha, e que já faleceu e eu que era o “testo da panela” que nascera quando já não se esperava. Diz-me a minha prima Zezinha Terrafeita que se constava na aldeia que eu nascera devido a um momento de maior alegria de meu pai, motivado por uma pinguita a mais, no dia da comunhão solene dos meus irmãos que comungaram no mesmo dia (um com 11 e outro com 9 anos). Fazendo as contas… até pode ter sido… Mas não foi por causa disso que eu fui menos amado. Bem pelo contrário, era o centro da família: o brinquedo dos meus irmãos e a preocupação dos meus pais – tive mimos que os outros não tiveram…
Das muitas peripécias que vivi com meus irmãos, destacarei apenas algumas que me perecem mais significativas…
1. “Padre Nosso…
Era eu muito pequeno, apareceu na aldeia um gato vadio, abandonado, elegante no seu porte de gato de cidade, felpudo com um comprido e sedoso pêlo branco. Era bonito aquele gato, um bicho fino e porque fino não caçava ratos, preferia banquetear-se com pintainhos e frangos, o raio do gato. Era fidalgo, como dizia minha mãe. De dia, atacava tudo o que fosse pintainho ou frango pequeno e, de noite, assaltava as capoeiras. Era um desassossego para toda a gente. A sua condenação à morte foi lavrada sem apelo nem agravo pelas mulheres do lugar lideradas pela tia Rita Queiroz. Mas, como que adivinhando a sentença que lhe fora aplicada, o dito cujo desaparecia de dia e, de noite, só se dava pela sua presença quando ,de manhã, se viam penas de frango espalhadas junto das capoeiras.
Porém, certa tarde de domingo, ele fora avistado nas proximidades de minha casa. Alertada por tal inusitada aparição diurna, logo a rapaziada da aldeia se juntou para uma batida. Fazendo grande algazarra e batendo com tudo o que provocasse barulho, desde tachos a panelas e testos, encurralaram-no no sótão de minha casa e, aí, num golpe de mestre, o senhor Moisés Vieira, agarrou-o e, batendo com ele pelas paredes, evitava que ele o arranhasse e… assim morreu. E o Tio Moisés transformou-se num herói para toda aquela pequenada que batia palmas perante tão inesperado espectáculo. Foi uma festa!...
Apesar de comer os pintainhos, um animal tão soberbo merecia um enterro a condizer. Organizou-se a procissão que conduziria o defunto até junto de uma pereira, ao fundo da nossa cortinha. Na frente, seguia um rapaz com dois paus cruzados a imitarem uma cruz; quatro dos rapazes mais velhos pegavam-lhe pelas patas; meu irmão António, com um saiote branco da mãe enfiado pela cabeça, fazia de padre, botava a reza e todos os acompanhantes (eu era um deles: que idade teria, se meu irmão António, mais velho dez anos, ainda se prestava a este papel?), respondiam em coro:
António - “ Padre Nosso
Todos - Rilha o ósso.
Rilha tu
Qu’eu já não posso”
E a reza repetiu-se durante todo o cortejo fúnebre.
Nunca mais me esqueci dos dentes “ arreganhados” do gato. Esta imagem perseguia-me e aterrorizava-me. Meu padrinho, quando nos íamos deitar, virava-se para mim com os dentes “arreganhados” e os dedos em forma de garras abertas só para me ouvir gritar: - Ó mãe! – Que é João! - É o padrinho a fazer caras feias!...- Maluco, não metas medo ao menino!... Deitava-me com aquela imagem assustadora e, para ter a certeza que não era o gato que eu estava a ver na escuridão, fechava os olhos e encostava-os às costas do meu padrinho e pensava cá para comigo: não, não é o gato porque aqui ficam as costas do meu padrinho!... E tocava-lhe para me certificar…
O que uma criança sofre…
2. Dá aqui!...
No verão, quando o milho andava a secar na eira, meus irmãos dormiam na “batediça” para o guardar: não podemos esquecer que era tempo de muita miséria e de racionamento dos produtos alimentares por causa da guerra… Dormiam os dois numa cama escondida atrás do erguedor.
Um dia ao fim da tarde quando meus irmãos e várias raparigas do lugar procediam ao “ meter o milho dentro” (o milho era espalhado na eira de manhã e, à noite, recolhia-se na “batediça”), meu padrinho pegou na pistola que tinham debaixo do travesseiro para o caso de aparecerem ladrões, e apontando-a para a Maria da Laura, diz:- Ó Maria, se eu quisesse…- Olha dá aqui…, responde a Maria ao mesmo tempo que lhe virava o rabo e apontava para a nádega direita. De repente, ouve-se um tiro e uma bala silvou e faiscou nas pedras da eira… Ficou tudo petrificado, sem sangue. Meu padrinho ficou branco como a cera. A Maria tremia… Graças a Deus, ninguém se feriu. E logo ali foi selado um pacto de silêncio para meu pai não saber. O pior era o pequenito que assistiu a tudo… - O João, tu não dizes a ninguém, nem à mãe!, ordenou-me meu padrinho – Stá bem eu não digo.
O que se passou? Meu padrinho puxou pelo gatilho, convencido que a pistola estava travada. Mas é que o António, antes, sem ele saber, tinha-lhe mexido e puxara a bala ao cano… E ela disparou…
Eu cumpri a promessa. Os pais não souberam de nada. E meu padrinho safou-se de grande castigo. Ainda dizem que as crianças não são capazes de guardar segredos…
3. Nariz e orelhas grandes…
Certa tarde, fui levar a merenda a meus irmãos que andavam a cortar mato na cavada da Seixosa. Enquanto comiam, o António vira-se para mim e diz: - Ó João, tenho estado a olhar para ti… Já reparaste que o teu nariz e as tuas orelhas são quase do tamanho das nossas? Repara para o teu tamanho. És muito mais pequeno que nós. O nariz e as orelhas vão crescer como o teu corpo e tu vais ter um nariz enorme e uma orelhas maiores que um burro, quando fores grande. E o meu padrinho, muito sério, confirmava as afirmações do irmão. Fiquei muito aflito e, quando cheguei a casa, desabafei à minha mãe. Ela sossegou-me. – “As orelhas e o nariz não crescem como o restante corpo”. E, à noite, lá estava a ralhar com eles: - “Seus malucos, só consumis o menino!...” E eles riam-se…
4. "Dido estoufo…"
Noutra ocasião, na mesma cavada, meus irmãos disseram-me que me iam ensinar um jogo. Encantado! – Nós dizemos uma palavra sempre começada por “dido”: por exemplo, “DidoPorto” e tu repetes a mesma palavra mas com o “dido” no fim: neste caso tu, responderias “Portodido”. Percebeste? Então vamos lá jogar. Começam eles: Didolisboa e eu Lisboadido. Didocoimbra e eu Coimbradido. Eles insistem, tens de ser mais rápido. Didocasa e eu Casadido; Didobola e eu Boladido;. Mais rápido! DidoRibeira e eu: Ribeiradido; Didopedra- Perdadido; Didopão - Pãodido; Didoquero – Querodido; Didoportugal - Portugaldido; Didoestoufo- Estoufodido. O quê? Interrompem eles com cara de muito escandalizados. - Disseste uma asneira! Vamos dizer à mãe. - Não disse nada. - Olha então repete: didoestoufo e eu -estoufodido –Vês repetiste a asneira. Tu disseste “estou fodido”. Só então percebi na esparrela em que tinha caído. E comecei a chorar. Eles pegaram em mim ao colo e, a brincar, atiraram comigo para cima de uma mouta de mato. - Não vamos dizer nada, só estávamos a brincar contigo. Mas nunca mais joguei com eles este jogo.
Criança sofre…
5. “ Procurem o touro!...”
“ Aquederrei”!... “Aquederrei”. Os gritos ecoaram na noite e vinham da casa da tia Margarida Leoa. Já escurecera há muito e toda a gente se havia recolhido em suas casas. Meus irmãos estavam a pensar o gado. Mal ouviram, largaram tudo e correram a socorrer - “ Que foi?... Que aconteceu?” - A porta está aberta e o toiro não está lá dentro. Roubaram-me o toiro, berrava a tia Leoa. Em tempo de miséria como aqueles para uma família pobre de três mulheres, caseiras da Cerqueda, um toiro era uma fortuna.
Meus irmãos, as filhas da casa, a Emília e a Palmira e outros rapazes que acorreram, agarraram em enxadas e foicinhas e lançaram-se à procura do ladrão. A noite estava escura. -“Está ali um homem atrás daquelas silvas, grita a Palmira. – Onde? – “Ali!...” E um homem, escorraçado, irrompe e desata a correr. -Ele vai a fugir”! Meus irmãos perseguem-no e só ouviam ele dizer: - “Não fui eu! Procurem o toiro!..”. Quando já estava mais próximo, meu padrinho arremessou-lhe uma enxada que quase o ia apanhando. Quando se viu em perigo, o vulto parou e berrou.- “ Sou eu, Zé Jaquim!” Meu padrinho ficou estarrecido, ia matando o professor Guedes que tinha sido seu professor. – “ Procurem o toiro!..”. Toda a gente ficou embasbacada – “ O Professor Guedes?!... Voltaram para casa à procura do toiro. E foram-no encontrar noutra corte. Alguém da casa, por engano, tinha-o metido numa corte que não era a dele…
Coitado do professor Guedes!... Que pouca sorte a dele! Há cada coincidência!... Que andaria ele a fazer por aqueles sítios escuros, àquela hora da noite? Aulas nocturnas? Nunca ninguém teve a ousadia de lhe perguntar nem ele disse. Mas da fama não se livrou e a sua postura de homem respeitável foi fortemente abalada. A Tia Leoa era uma viúva nova e pobre, mas de quem nunca se tinha ouvido dizer nada… Ao Professor Guedes não lhe interessavam os toiros… Regente escolar, solteirão (?), já adiantado na idade, procurava outras rezes e outras aves… Ia-lhe ficando cara aquela aventura de apaixonado serôdio… E o meu padrinho poderia ter cabo da sua vida por causa de um engano de mulheres… Conclusão?...
6. As luzes do “outro mundo”
Meu padrinho chegou esbaforido naquela noite. Minha mãe e eu acordámos estremunhados. – “Que foi, Quim?” – Eu não volto para Godas!..., dizia, branco como a cal.
Naquela noite luarenta de Junho, era nosso o “engenho da varge”. O António andava no engenho a tocar os bois; meu padrinho, depois do “Areal”, estava a regar o campo de Godas; meu pai percorria o rego para que ninguém roubasse a água para os seus campos e ia dando apoio ora a um ora a outro filho.
Quando andava a regar ao cimo de Godas, meu padrinho viu, ao longe, no valado que descia para o rio, umas luzes a tremeluzir e gritou: “Podeis aparecer que não me meteis medo!... Era vulgar a rapaziada, para meter medo a algum colega que andava, aparecer com luzes e imitar vozes estranhas como se fossem do outro mundo. E continuou a regar: talha aqui, talha ali… Mas, de repente, ao levantar a cabeça, vê as luzes já muito próximas. – “ Quem sois? Pergunta. E nada, só o silêncio da noite … Mais um bocadinho e as luzes rodearam-no por completo. E, quando ele ia a guiar a água, as luzes colocaram-se no local onde ia espetar a talhadoira de lousa. E não aparecia ninguém!... Ele perdeu a fala. Os cabelos eriçaram-se (até os meus ainda se eriçam agora que estou a recordar esta passagem…). Virou a água para os pés do milho, largou a enxada, pegou nos socos na mão e desatou a correr para casa. Aquilo era “coisa roim”, almas do outro mundo!... (Porque quem morresse sem pagar uma promessa ou mudasse os marcos de um terreno não tinha descanso enquanto a promessa não fosse cumprida ou os marcos não voltassem para o seu lugar – falava-se de marcos que durante a noite eram repostos nos seus antigos locais… E então quem se suicidava como “ o do gaio” - nunca se pronunciava o seu nome- que se enforcou numa cavada de S. Gens?!...)
Passado pouco tempo, chegava meu pai aflito porque o Quim não estava em Godas!... Que lhe teria acontecido? (Que falta faziam os telemóveis!...). Quando viu o filho e este lhe contou o sucedido, meu pai, homem de coragem, regressou sozinho ao campo para não deixar perder a água que os bois na Varge continuavam a tirar e não encontrou nada de estranho.
O que terá visto meu padrinho? Borboletas que reflectiam a luz do luar? “Arincús ( assim se chamavam os pirilampos na minha terra) ? Fogo-fátuo? Terá sido pura ilusão? Ele sempre negou. E não era medroso, porque, a partir daí, continuou a regar de noite. E não era aldrabão como muitos dos rapazes nossos vizinhos (o campeão era o ti Zé Rocha.). Todos contavam visões de “coisas roims”, abantesmas, galinhas pretas com pintainhos que, à meia-noite, voavam como andorinhas; cães enormes que os seguiam passando as paredes sem saltarem e muitas outras coisas mirabolantes que os engrandeciam aos olhos de quem os ouvia, como rapazes valentes e sem medo (e eu era um ouvinte atento e atemorizado. Ainda hoje sofro de terrores nocturnos por causa dessa influência infantil. Essa é a razão pela qual nunca falei nem permiti que se falasse destes assuntos à frente dos nossos filhos quando eram crianças…)
7. A chamuscadela das sobrancelhas
Certa noite, andava eu com um gasómetro a alumiar o António que regava o campo do Traganhal. Não sei por que lá andava naquela noite? Estaria muito escuro? Estaria o António com medo de andar sozinho? Não sei porque ninguém mo disse e as “criança não tem que perguntar”. Só sei que ia “arranjando um estrugido”. O gasómetro era uma espécie de candeeiro a gás. Era o que os mineiros, da ardósia na minha terra e os do carvão em S. Pedro da Cova, usavam quando desciam para o fundo das pedreiras e que provocaram várias explosões nas minas de carvão por causa do grisu. Não sei porquê, o gasómetro apagou-se: o vento, uma folha de milho que lhe bateu? Só sei que se apagou. Então, eu, menino armado em espertinho… há que o arranjar. Sem dizer nada, abri-o e deitei-lhe água. Ao contacto com a água, o carboneto explodiu e o lume lambeu-me as sobrancelhas e queimou-me a parte da frente do cabelo. Mas, arranjado o gasómetro, o trabalho da rega continuou. Quando, de manhã, minha mãe me viu sem sobrancelhas e com o cabelo queimado ficou muito aflita e quem apanhou um ralhete foi o António… Muitas injustiças se cometem!...Desculpa, querido irmão! Como eu gostaria de, ainda hoje, estar contigo a regar o campo do Traganhal…
8. “Seu stapor”
Meus irmão andavam a talhar mato na nossa cavada de S. Gens. Ao fim da tarde, eu e o Tio Adão fomos ter com eles, levando o carro para trazer o mato para casa.
O António subiu para cima do carro enquanto o meu padrinho e o Tio Adão lhe chegavam as moitas de mato. Eu guardava os bois que pastavam. E o mato no carro foi crescendo. Quando já todo mato estava carregado, chegou o momento de o atar com uma enorme corda que o prendia ao carro. Enquanto o António, em cima do mato, o pisava com toda a força para que ele se comprimisse o mais possível, em baixo meu padrinho retesava a corda que o tio Adão puxava. Ou porque puxaram de mais ou porque a corda estava fraca, a verdade é que esta se partiu e meu padrinho caiu de costas para trás, dando um enorme “vira-cu”. Ficou furioso. A assistir a tudo isto estava, impávido e sereno, o nosso cão, o “lulu”- um belíssimo cão de pêlo branco e comprido, muito bonito para cão da cidade mas que não prestava como guarda porque não metia medo a ninguém. (Foi o único cão de que eu gostei e que me acompanhava para todo o lado: eu gostava mais dos gatos…). Além de bonito, tinha um porte distinto e parecia que estava sempre a rir-se. Ao levantar-se, meu padrinho viu o “lulu” e berrou:- ” Seu stapor, tu ainda te estás a rir?!...” E um soco voou e acertou em cheio no infeliz que não teve culpa nenhuma e fugiu a ganir … e foi esconder-se atrás de um pinheiro enquanto nós nos ríamos do trambolhão do meu padrinho. Quem é que não se riria? “ Só nos rimos do mal…”, diz o povo.
9. O abelhão.
Noutro dia, andavam meus irmãos ao mato na cavada de Negral de Baixo, quando um abelhão se levantou de uma “touça” de mato. E, de imediato, deu em cima do meu padrinho que se pôs a correr para se livrar dele.. Mas, qual quê! Meu padrinho bem rodeava pinheiros, eucaliptos, sobreiros… mas… o abelhão sempre atrás dele. Enquanto isso, o António, apoiado na enxada e o pé direito em cima de uma moita ( parece que ainda o estou a ver…), ria-se a bandeiras despregadas… Até que meu padrinho, em vez de se encostar a um pinheiro, rodeou o António. Aí, o abelhão largou-o e dá em cima do António que desata a correr como um doido, enquanto que, agora, era o meu padrinho que se ria a bem rir da figura do irmão. Eu, que lá fora levar a merenda e brincava num rego de água que atravessava a cavada vinda da “mina das neves”, assistia atemorizado, com medo que o abelhão ferrasse nalgum deles ou viesse ter comigo. Mas, não, não ferrou e acabou por desaparecer por detrás de uns tojos mais altos …
10. O lobo de Luriz
Luriz fica próximo da casa onde nasci. Estou convencido que o nome do meu lugar, Ribeira, tem a ver com esse lugar. Com efeito, como se justifica o topónimo 2Ribeira" para um local que se situa numa encosta longe do rio da minha terra, o rio Ferreira? Creio que o nome lhe advirá do facto de se situar numa ladeira de fronte de Luriz, separada por um pequeno ribeiro. Seria a ribeira de Luriz.
Luriz era um couto que foi doado a D. Hugo, Bispo do Porto, por D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques. Estendia-se por uma extensa zona rural e, por essa razão, os proprietários dessas terras pagaram, até ao 25 de Abril, um imposto que se chamava “ foro da mitra” ou simplesmente “mitra” . Mitra é um tipo de chapéu que os bispos colocam por cima do solidéu, nos momentos mais solenes dos actos litúrgicos. Por isso, pagar a mitra era pagar o foro ao bispo como foreiros que eram das suas terras. O Couto de Luriz teve tribunal próprio, pelo menos, até ao século XIX, que julgava os crimes cometidos dentro da sua jurisdição. Talvez se deva a isso, o grito de “aquederrei”, muito vulgar na minha terra como um grito de socorro. Será uma corruptela linguística do grito que as pessoas do couto, foragidas à justiça, davam quando alcançavam terra regalenga: “ Aqui d’El Rei”! Como que a dizer: já estou em terra do rei e aqui já não me podeis prender. Era um pedido de socorro aos oficiais do Rei para que os defendessem contra os poderes do Couto. A importância deste couto mede-se, também, pela imponência e beleza da “ponte do Morte” ou “ponte de Luriz”, romano-gótica, sobre o rio Ferreira que dava passagem para o núcleo central do Couto, onde se situa, actualmente, o lugar.
Talvez por essa razão, os habitantes de Luriz sempre se julgaram superiores aos da Ribeira, sendo grande a rivalidade entre estes dois lugares. Se meu pai assumia a liderança da Ribeira, como o maior lavrador num lugar em que quase todos eram caseiros da Cerqueda; em Luriz, lugar de grandes lavradores como os Nogueiras, os Pintos e os Janetes, era o Tio António Arte, o mais importante, que mais se orgulhava da superioridade do seu lugar.
Quando meu pai movia todas as suas influências para que se fizesse a actual estrada que atravessa o lugar, o Tio António Arte disse ao meu padrinho.- “Vós tereis uma estrada quando as galinhas tiverem dentes…”. Logo que meu pai teve a certeza que a estrada ia ser feita, meu padrinho encontrou-o junto do campo das Vinhas e disse-lhe: - Sabe, Tio António, não sei o que se passa em minha casa, parece que está a acontecer um milagre: é que as galinhas estão todas a ganhar dentes…” Ele compreendeu e desviou a conversa.
Um acontecimento veio sobressaltar a pacatez medieval das pessoas de Luriz, fazendo delas motivo de chacota. À noite, começaram a ouvir-se uns uivos estranhos e alguém afirmou ter visto um corpulento animal, que todos consideravam um lobo, a rondar a casa do Arte. Pelo sim, pelo não, as mulheres e crianças deixaram de sair à noite, os homens saíam sempre armados com pistolas ou espingardas e os rapazes formavam grupos para as saídas nocturnas É que o “animal” só aparecia de noite e não era todas as noites. Organizaram-se batidas, grupos de homens revezavam-se na guarda do lugar. Mas, nessas ocasiões, ninguém lhe punha a vista em cima. Quando menos o esperavam, lá se ouviam os aterradores uivos nocturnos. Saíam apressados os homens, mas do animal nem rastos. Já havia quem dissesse que era um leão, mas muitos outros afirmavam tratar-se de “coisa roim”. Até que um dia, na cortinha do Arte, apareceu morto um grande cão que teria morrido à fome tal o seu estado de fraqueza. E nunca mais apareceu o lobo de Luriz que até já era leão ou “coisa roim”. Foi o escárnio geral. Os de Luriz andavam envergonhados. Ficavam furiosos quando alguém, à sua passagem, dizia baixinho: - “Que terá acontecido ao lobo de Luriz?” Meu irmão António até compôs um poema, tipo poesia de escárnio e mal-dizer, que num sábado, pela calada da noite, afixou nas árvores do adro da igreja o que, no domingo seguinte, motivou chistes venenosos e comentários jocosos por parte das gentes da freguesia e grande revolta e vergonha às pessoas de Luriz. Mas ninguém soube que o António Tanoeiro era o seu autor. Se soubessem… E eu assistia a tudo isto, cúmplice e conivente numa atitude de total sigilo. Devo dizer que, também eu, andava com medo do lobo de Luriz.
11. As gemadas…
Para mim era uma alegria quando algum irmão se constipava ou ficava com gripe. O tratamento, além de papas de linhaça no peito, incluía sempre uma gemada. Minha mãe partia o ovo e separava a clara da gema. Batia a gema com açúcar e dava-a ao doente. Por que é que eu ficava contente com a doença de alguém da casa? Porque, como era o menino, minha mãe punha a clara numa colher de ferro, segurava-a sobre a fogueira e dava-me um”ovo estrelado” que, no caso era “clara estrelada”. Que bem me sabia…Era um mimo…para “o olho da panela”.
12. Até as galinhas aprendem…
O nascimento de uma ninhada de “pitos” era um momento de grande preocupação para minha mãe porque, às vezes, nasciam poucos ou porque os ovos estavam chocos ou porque a galinha não sabia aconchegar os ovos debaixo das asas. Era sempre uma incógnita. Depois de nascerem, era uma trabalheira. Começavam por ficar no quinteiro. Quando cresciam um bocadinho, minha mãe, e eu ajudava, levava-os para a eira onde havia sempre milheiros perdidos e muitas minhocas e outros bichinhos que eles comiam: aprendiam a lutar pela vida. Mas à noite, íamos lá acima e enxotávamo-los à nossa frente para virem para o quinteiro, por causa das raposas, das doninhas e outros animais que os podiam comer. Assim, desde muito novos, os pintainhos habituavam-se a atravessar a estrada que fica entre a eira e minha casa. E nunca nenhum ficou atropelado.
Os frangos, as galinhas e os ovos eram muito importantes para a economia doméstica porque, com o dinheiro da sua venda, minha mãe podia comprar o açúcar, o arroz e outros produtos alimentares: à mãe competia a micro-economia familiar, geria o dinheiro que provinha do leite, das galinhas e dos ovos, para a despesa diária. A macro-economia era da competência do pai com a venda do vinho, do milho, das batatas, do gado, dos pinheiros. Coitadita de minha mãe, nos primeiros tempos, às vezes tinha de vender uns quilitos de milho ou de batatas, sem meu pai saber, para fazer frente à despesa diária da casa, mas ficava sempre com problemas de consciência de que sempre se acusava quando ia ao confesso. Eu via esta pequena transgressão mas nunca disse nada. Podia confiar. Um dia, já era eu sacerdote, minha mãe falou-me desses problemas de consciência e eu sosseguei-a: - “Minha mãe, o milho e tudo o que se produzia em casa não era também seu?A mãe não trabalhava? E o dinheiro não era para alimentar a família?” Mais tarde, falei com meu pai sobre esse assunto. E ele, com lágrimas nos olhos, falou-me dos tempos difíceis que vivêramos, quando tinha que pagar “as tornas” aos irmãos de minha mãe. Chorámos os dois… Foi uma cartase…
Por esta razão, em minha casa havia ovos e galinhas mas era para vender… não era para nós… Mais tarde quando já estudante, que bem me sabiam uns ovos que minha mãe estrelava quando o primo Manuel Joaquim aparecia comigo depois da missa!... Era um mimo para quem ela muito estimava e eu...
Meu pai era, de certo modo, uma figura pública, como agora se diz, na freguesia: fora presidente da Junta, regedor, presidente da casa do povo, louvado da fazenda pública e mesmo vereador da Câmara Municipal de Valongo. Quando as pessoas precisavam de ajuda para assuntos de tribunal, da Junta ou da Câmara, outinham problemas com papéis, iam pedir-lhe conselho. (Meus pais completavam-se maravilhosamente: minha mãe era a bondade em pessoa; meu pai era o homem culto e bem informado). Por vezes, ofereciam-lhe um ou outro presente. Quando aparecia um frango como dádiva, eu e meus irmãos começávamos a esfregar as mãos porque sabíamos que, mais dia menos dia, iríamos comer frango. É que, como não estavam habituados, na primeira vez que atravessassem a estrada, a virem da eira para o quinteiro, seriam atropelados. E assim acontecia infalivelmente. Minha mãe, então, acabava de os matar e nós regalávamo-nos com mais um franguinho e com uma canja deliciosa de galinha…
Quando, mais tarde, soube disto, o meu amigo José Ferronha, psiquiatra, concluiu: até as galinhas, que são estúpidas, são capazes de aprender…
13. A lambada de meu pai
Por razões que não cabe aqui explicar, mandei um grande calhau contra uma porta da nossa casa e fiz-lhe um grande buraco (a porta já deveria estar podre…). Fiquei logo a saber que, mais-dia-menos-dia, iria ser castigado por meu pai. Meus irmãos, já sabidos nestas coisas, ensinaram-me - Qualquer dia o pai chama-te, traz- te até junto da porta e pergunta-te quem fez isto, e tu dizes fui eu; pergunta se tu voltas a fazer e tu respondes que não senhor: e depois dá-te uma cachaçada e diz-te se voltas a fazer outras vez… E aconselharam-me como fazer… Quando passava junto dessa porta, já me via a estender-me ao comprido pelo chão adiante. Estava com sorte porque a estrada tinha sido macadamizada havia pouco tempo e os carros, ao passarem, era um curva, atiravam o saibro e a areia para junto da porta que eu furara o que iria atenuar a minha queda e evitar que esfolasse a palma das mãos. Certo dia, meu pai lá me chamou e saíram as perguntas sagradas e as respostas estudadas. Quando eu disse “ não senhor” já a mão vinha no ar e, apenas senti a mão a chegar-me ao cachaço já eu me estendia pela areia adiante com um grande mergulho (lembro-me sempre disto quando vejo um jogador de futebol aproveitar um leve toque do adversário para simular um grande queda…). E as coisas ficaram por aqui. Eu, todo contente pelo sucesso do estratagema, fui ter com meus irmãos ao campo das Lamas e contei-lhes que tudo acontecera como eles me ensinaram… Ficaram satisfeitos por me terem ajudado até porque sabiam que eu não tive culpa naquele arrombo que fiz na porta ( um dia contarei…). Quando, muito mais tarde, já era padre, contei ao meu pai toda esta peripécia, ele, a rir-se confessou: - “Bem me parecia que houve marosca porque a chapada que te dei não era para aquele “estardalhaço” todo”. E rimo-nos. Obrigado, irmãos…
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