O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, maio 03, 2023

DE QUEM É ESTE BUSTO?

Quando entrava no ‘Prado do Repouso’, ao contemplar a efígie do Padre Baltazar Guedes no largo com o seu nome, sempre me interrogava: - Quem foi este portuense que mereceu tal homenagem? A resposta chegou-me no prestigiado ‘Boletim do Venerável D. António Barroso’, dirigido por Amadeu Araújo, o vice-Postulador. Deu-ma o estimado Prof. Doutor Luís Amaral no artigo “Visita de D. António Barroso ao Colégio dos Meninos Órfãos do Porto em 1905” que, com vénia, passarei a citar. E, no dia 14 de fevereiro, no Porto Canal, o historiador Joel Cleto, em ‘Caminhos da História’, falou dele como um dos beneméritos do Porto que se preocuparam com as crianças órfãs e desamparadas. Soube, então que o P. Baltazar Guedes, nascido em S. Nicolau (1620-1693), fundou “o Colégio dos Meninos Órfãos, logo confiado à proteção de Nossa Senhora da Graça”. “Sabia por experiência própria (ficou órfão muito novo) quão desventurada e desamparada socialmente era a vida da larga maioria daqueles que muito cedo, ficavam privados do respaldo e do aconchego de uma vida familiar.” Como ele próprio confessa: “Ardia-me no Coração hum fervoroso dezejo de ver feyta nesta caza de N. S.ª alguma obra que fosse a ella agradável (…) Andados dois annos me veyo a imaginação que fizesse nesta Caza de Nossa Senhora Collegio de Meninos Orfãos”(Guedes, Padre Baltazar – Breve relação da fundação do Colégio dos Meninos Órfãos de N. S.ª da Graça) Em ‘precárias instalações’, o Colégio “abriu solenemente no dia 25 de Março” de 1651, próximo da “modesta ermida de Nossa Senhora da Graça, localizada em terreno onde hoje se ergue o edifício da Reitoria da Universidade do Porto”. Em 1803, o edifício foi ocupado pelas aulas da Academia Real da Marinha e Comércio da Cidade do Porto. E o Colégio acabou por se mudar para a rua dos Mártires da Liberdade, nº 237. Em 1903, passou para o “antigo edifício do primeiro seminário diocesano do Porto (1804), na quinta do Prado do Bispo” que estava abandonado e a Câmara Municipal reconstruiu e adaptou. Em 1905, D. António Barroso, aquando da visita às suas novas instalações, deixou-nos um texto que se conservou inédito até ser publicado no artigo a que venho aludindo e que responde cabalmente à minha pergunta inicial. “A obra do Padre Balthasar Guedes é enorme. O nome deste humilde presbytero por si bastaria para fazer o orgulho da Cidade, onde concebeu e executou a sua grande obra, se ella não tirasse o de outros beneméritos da charidade que a par da d’elle tanto a honram e sallvam. Só a charidade pode inspirar heroísmos como os que exemplificam em favor de irmãos deserdados e infelizes o P. Guedes. Ao que encontrou de mais abandonado deu na terra um azylo, sob a protecção de N. Senhora da Graça; e esta Celeste Protectora dos infelizes abraçam (sic) a Obra, que florece e frutifica atraves dos annos, todos os dias mais pujante e bella. Quem hoje visitar este magnífico Collégio sinta que esta instalação é digna do fundador, da Cidade do Porto e do alto fim a que se destina: educação. (…) Ao Reitor desta Caza (…) desejo saúde e longa vida para continuar a dar realce a esta Santa Obra que imortaliza o nome d’um grande christão e grande portuguez, Balthazar Guedes. 10 d’Outubro de 1905 (assinatura:)  António, Bispo do Porto” – (Real Collégio dos Meninos Órfãos de N Senhora da Graça. 1651) Quem melhor poderia falar desta grande figura humana e cristã e da sua nobre instituição? Unia-os a mesma devoção a Nossa Senhora e a mesma paixão pelos mais necessitados… No 3º centenário do Colégio (1951), a Câmara Municipal do Porto “confiou a direcção e a simples administração do Colégio dos Órfãos à Sociedade Salesiana”. No 372º aniversário, quero, na memória do seu fundador, prestar homenagem a todos servidores que, ao longo de séculos, tanto bem têm prestado à Cidade e à Igreja. A minha pobre e singela homenagem! (3/5/2023)