' O ROSTO DO OUTRO É PORTA PARA O INFINITO' (EMMANUEL LEVINAS)
Em tempos sinodais, soube-me bem saber que, já em 1968, ao entrar na paróquia, as primeiras palavras dum presbítero acabado de ordenar foram o que hoje se chamaria um apelo à sinodalidade: “Sou ainda muito jovem. Sozinho, não vou dar conta do recado (…) Numa paróquia tão dispersa e tão populosa como a vossa, perdão, a minha, podemos fazer uma bela caminhada pastoral” (José Justino Lopes, Rostos Nespereirenses).
Quando tanto se fala do papel da ‘fraternidade sacerdotal’ na luta contra uma ‘vida triste e neurótica’ (‘A vocação do padre…’), soube-me bem saber que, logo no primeiro almoço, um colega lhe disse: “Padre Justino, gostei do teu desafio e eu lanço-te outro. (…) Se juntarmos o teu entusiasmo jovem à nossa experiência, podemos fazer um bom trabalho pastoral nesta zona”. (Id)
E fizeram “não só um belo trabalho em conjunto, como também (deram) o testemunho de fraternidade que os unia e extravasava a ponto de mesmo os não praticantes comentarem: ‘Como são amigos os nossos abades!... Gostamos de os ver assim amigos e sempre alegres” (Ib). Quão longe estamos do triste adágio ‘homo homini lupus, clericus clerici lupissimus’…
Soube-me bem saber que um presbítero, passados 37 anos, continua a lembrar com carinho os seus antigos paroquianos: “Ao longo de dezoito anos, cruzei-me com milhares de rostos alegres e sofridos, infantis, jovens e idosos, rosados e amarelecidos pela doença ou pela idade, rostos moribundos defuntos que se gravaram nos escaninhos da minha memória. Como gostaria de os pintar a todos nestas folhas de papel!” (Ib)
São trinta dois os rostos a que dá nome. Em ‘Honra e Gratidão’, Cláudio Semblano diz que “o autor dá a conhecer aqueles que o precederam como párocos e aqueles que, nespereirenses de berço, abalaram, indo paroquiar outros povos” e ainda “rostos de ação pastoral e nespereirenses que, ao longo dos tempos, fizeram da proximidade à Igreja, mas também do altruísmo enquanto cidadãos, uma forma de ser e de estar” (Ib.).
Soube-me bem ver que o P. Justino exalta e agradece a ação pastoral daquele que o precedeu, o P. Pinto de Almeida. Confessa que colheu “os frutos do seu trabalho. Razão tem o Evangelho quando diz: Uns são os que semeiam, outros os que colhem”. E termina com uma oração: “Caro Padre Pinto de Almeida, aí, na Mansão Celeste, (…) lembra-te daquele a quem entregaste a cruz da paróquia”. (Ib)
Soube-me bem ler o que escreveu Luís Semblano: ”O padre Justino é uma daquelas pessoas que mais me marcou no tempo da minha adolescência e da minha juventude. Foi uma lufada de ar fresco, a sua passagem pela nossa terra”. (…) “Quero expressar aqui a minha gratidão pelo seu trabalho e pela sua dedicação em prol da cultura e do conhecimento. É um padre que sempre pugnou pelo zelo apostólico e pelo bem-estar das suas comunidades”. (Ib) É a Igreja que está a ser louvada…
Soube-me bem verificar que os nespereirenses que assinam as notas introdutórias do livro fazem parte da bem antiga e grande família ‘Semblano’ que conheci no Porto há muito anos e a quem, ainda hoje, me unem laços de amizade.
Soube-me bem ver, na página 68, a Irmã Elvira - meio século missionária em Moçambique - valorizar o rosto ao citar S. Vicente de Paulo:” É preciso que, pelo amor do nosso rosto, sejamos portadores do Seu Evangelho junto deles (os mais necessitados) e de todo o mundo”.
Soube-me bem ler, na página 23, uma provisão assinada pelo nosso Venerável Bispo, D. António José de Sousa Barroso.
Sabe-me bem saber que o P. Justino, pároco de Vila Nova de Paiva desde que saiu de Nespereira,
- É ‘velho’ assinante da VP que já lia nos tempos de seminarista quando tal era mal visto pelos seus superiores.
- Foi grande amigo do seu colega no seminário de Lamego, o nosso querido D. António Francisco dos Santos que, como ele, corria o risco de ler a ‘subversiva’ VP de D. António Ferreira Gomes.
- Natural de Touro, é conterrâneo e foi amigo de D. Alberto Cosme do Amaral que me habituei a estimar quando era bispo auxiliar do Porto, no tempo de D. Florentino de Andrade e Silva;
Soube-me muito bem terminar, invocando cinco bispos que muito admiro e a quem muito devo.
‘A gratidão é a memória do coração’ (Antístenes – séc. IV a. C.)
15/3/2023)
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