PERGAMINHOS DO PORTO - PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE - III
*O Porto e a ‘Revolta dos Taberneiros’ - 1757 (tema do romance ‘Um Motim há Cem Anos’ de Arnaldo Gama).
Este motim teve início em 23 de fevereiro. O povo, com especial relevo para os donos das tabernas donde lhe adveio o nome, levantou-se contra os privilégios que o Marquês do Pombal concedera à recém-criada Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro que passava a deter o monopólio do comércio do vinho do Porto.
Posteriormente, o Marquês mandou ao Porto uma Alçada (tribunal especial) que castigou severamente os implicados, 26 dos quais foram condenados à morte.
* O Porto e o Constitucionalismo - 1820
"Em Portugal havia um descontentamento profundo. A miséria geral, a ruína dos comerciantes, a impaciência dos militares que viam os melhores comandos nas mãos dos oficiais ingleses; a ideologia de pequenos grupos de formação universitária, impregnados de teorias liberais, foram os quatro fatores decisivos que levaram à preparação de uma revolta militar que, em 24 de Agosto de 1820, eclodiu no Porto" (J. Hermano Saraiva, Breve História de Portugal)
Foi " festejada como a restauração da pública felicidade".
A nossa primeira Constituição viria a ser aprovada em 23 de setembro de 1822.
Quem chefiou a Revolução de 1820 foram os liberais, - adeptos dos ideais da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade , Fraternidade – com destaque para Fernandes Tomás e Ferreira Borges.
* O Cerco do Porto -1832-34
D. Pedro regressou à Europa para defender, contra o seu irmão D. Miguel, os direitos de sua filha. Organizou uma expedição militar que veio a desembarcar na zona de Pampelido, dirigindo-se para a cidade do Porto. O feito é lembrado na placa do ‘Obelisco da Memória’, inaugurado, em 1840, com a presença de D. Maria II:
“EM HONRA DE SUA MAGESTADE IMPERIAL DOM PEDRO DUQUE DE BRAGANÇA PRIMEIRO IMPERADOR DO BRAZIL E QUARTO REI D'ESTE NOME EM PORTUGAL COMMANDANTE EM CHEFE DO EXÉRCITO LIBERTADOR AQUI DESEMBARCADO EM OITO DE JULHO DE MIL OITOCENTOS E TRINTA E DOUS PARA RESTITUIR O THRONO A SUA AUGUSTA FILHA A RAINHA REINANTE DONA MARIA SEGUNDA E A LIBERDADE AOS PORTUGUEZES SE ERIGIO ESTE PADRÃO PARA PERPETUA MEMÓRIA”
O ‘Exército Libertador’ entrou no Porto no dia 9 de julho. Ia começar uma terrível Guerra Civil.
As forças de D. Miguel montaram acampamentos nos arredores e impediram as entradas e saídas da cidade - foi o Cerco do Porto.
As gentes do Porto resistiram ao lado dos soldados e apoiaram a sua luta com muitos sacrifícios : aos bombardeamentos miguelistas juntaram-se a fome, o frio e a cólera.
A cidade era constantemente bombardeada pelas baterias miguelistas. E isto durante doze meses. Os incêndios eram consecutivos. Mas o povo não desistia do seu apoio às tropas: para as missões mais arriscadas, apareciam sempre voluntários; e as mulheres do povo iam, de manhã, levar às linhas de combate o caldo ao homem como se ele andasse no trabalho. Finalmente, o cerco terminou e o Porto pôde, com D. Pedro, festejar a vitória. Como penhor de gratidão, o Rei Soldado legou à cidade o seu coração que se encontra na Igreja da Lapa.
* O Porto e o ideal republicano - 1891
O descontentamento popular em relação à Monarquia fez estalar manifestações de revolta. É no Porto, em 31 de janeiro de 1891, que rebenta a primeira revolta republicana que foi violentamente reprimida. Os mortos foram sepultados no cemitério do Prado do Repouso onde hoje se levanta um monumento com a legenda:" Paz aos vencidos". Vencidos os homens, mas não o seu ideal. A semente fora lançada e germinaria em 5 de outubro de 1910.
* O Porto e a Ditadura do Estado Novo - 1959
D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto, foi a voz da Igreja que mais alto se levantou contra a ditadura salazarista. A sua atitude de coragem - “de joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens"- valeu-lhe um longo exílio de 10 anos (não podendo vir ao funeral de sua mãe, ‘o seu dia mais triste’). Regressou a Portugal em 1969, no Governo de Marcelo Caetano.
Com esta chave de ouro, fecho o baú de recordações duma cidade de que Almeida Garrett, um dos seus filhos, disse: “Se na nossa cidade há muito quem troque o B por V, há muito pouco quem troque a liberdade pela servidão”.
Um Santo Natal na liberdade dos filhos de Deus. (21/12/2022)
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