PERGAMINHOS DO PORTO - PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE - II
O Porto e o Mestre de Avis (1383)
O Porto, nos finais do século XIV, era já uma terra de possantes recursos, pela firmeza de vontade e dureza dos seus habitantes. Foi o que se viu na Crise de 1383-1385.
Pouco depois da aclamação (1383) de D. João, Mestre de Avis, como ‘Regedor e Defensor do Reino, o seu emissário, Rui Pereira, perguntava às gentes do Porto se poderia contar com elas na luta contra Castela.
Segundo o testemunho do cronista Fernão Lopes, um tal Domingues Peres das Eiras, em nome da cidade assim se exprimiu: " Eu digo por mim e por todo este povo que aqui está que nós somos prestes com boa vontade de servir o Mestre com os nossos corpos e haveres, ouro e prata- para nunca sermos em poder dos Castelhanos. E digo mais. Digo que não há nesta cidade quem tenha pensamento contrário disto, porque se o tiver não o poderá ter por muito tempo. E para isto, as naus e as barcas e galés com todas as coisas que nelas fizerem mister oferecemos ao Mestre de muito boa vontade."
As afirmações do desassombrado burguês foram postas em prática, aparelhando navios e obtendo a submissão de alguns castelos como Gaia, Vila da Feira, Neiva, Faria, Vermoim...
Para retribuir tão grande apoio, o Mestre, logo que aclamado Rei nas Cortes de Coimbra (1385), veio ao Porto sendo recebido em apoteose, como diz o mesmo cronista: "As ruas, volvidas as estradas de ramos e flores com defumadores de cheiros, o rio apinhado de naus e batéis apendoados, o rei a pé, por entre tanta gente que parecia que o queriam afogar sob uma chuva de rosas que as donzelas lhes desfolhavam das janelas".
E a festa redobrou aquando do casamento do Rei com D. Filipa de Lencastre, na Sé do Porto (2/2/1387): “E na Quinta-feira foram as gentes da cidade juntas em desvairados bandos de jogos. As principais ruas por onde a festa havia de ser, todas eram semeadas de desvairadas verduras e cheiros. A gente era tanta que se não podiam reger nem ordenar”.
O Porto e a Frota de Ceuta (1415)
D. João I, em 1414, incumbiu o Infante D. Henrique, natural do Porto, de, aqui, preparar uma frota que se juntasse à do Tejo para a expedição a Ceuta. Durante meses, a cidade acusou desusado bulício. Em junho de 1415, os trabalhos estavam concluídos e "era fremosa cousa de ver o corrigimento daquela frota, porque todalas naaos e galees e outros navios eram nobremente apendoados com balssões e pemdoôns pequenos das cores, motos e devisa do Iffante"(id).
A frota compunha-se de setenta navios "afora outra muita fustalha".
Porque era necessário levar muitos mantimentos para a longa viagem daqueles marinheiros/guerreiros, as gentes do Porto fizeram embarcar toda a carne que podia ser salgada, reservando para si apenas o que restava dos animais: as tripas. Deste facto, terá surgido a alcunha de "Tripeiros" que muito honra as gentes do Porto.
O Porto e o Motim das Maçarocas (1629)
No tempo dos Filipes, visou “impedir o lançamento de um imposto sobre as maçarocas ou rocas que, para muitas mulheres constituiria o seu magro ganha pão.
A investigação do caso permitiu concluir que :
- não fora somente o Povo mas "gente da cidade, graves e vestidos de seda" que se concentrara na noite do levantamento:
- o Povo combinara atribuir a responsabilidade do motim a anónimos populares e ‘maganos’.
Merece relevo a solidariedade manifestada pelos moradores que permitiu manter no anonimato os principais cabecilhas" (F Ribeiro da Silva, O Porto e o seu termo -1580-1640).
A Segunda Invasão Francesa e o Desastre da Ponte das Barcas (1809)
Na madrugada do dia 29 de Março de 1809, as tropas napoleónicas de Soult entraram de roldão na cidade. A população, em pânico, precipitou-se para a Ribeira e lançou-se para a frágil Ponte das Barcas a fugir para Gaia. A dado momento, a ponte rompeu-se e os fugitivos afundaram-se nas águas profundas do Douro. Nunca se soube ao certo o número dos mortos, mas calcula-se que foram mais de 6.000. Este desastre marcou de tal modo a memória coletiva das gentes do Porto que, ainda hoje, 213 anos passados, continuam a pôr flores e a acender velas, nas ‘Alminhas da Ponte’, por alma dos que aí pereceram. (14/12/2022)
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