PERGAMINHOS DO PORTO - PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE - I
Fez, no domingo passado, 26 anos que o Porto foi declarado Património da Humanidade. Para celebrar a data (4/12/1996) que nos catapultou para a ribalta do turismo mundial, decidi revisitar as memórias da cidade de que “houve nome Portugal”. (Eugénio de Andrade)
A DIVISA DO PORTO
" Cidade Invicta" ou simplesmente " Invicta". Esta designação foi-lhe atribuída por decreto de D. Maria II, como preito de homenagem ao seu heroísmo durante as Lutas Liberais. A divisa completa é: " Antiga, mui nobre e sempre leal e invicta Cidade do Porto".
O título de " leal cidade" fora-lhe reconhecido no séc. XV pela patriótica fidelidade das suas gentes à causa do Mestre de Avis.
Já no século XVI, o nosso épico Luís de Camões, a glorificou em " Os Lusíadas" (Canto VI):" Lá, na leal Cidade donde teve / Origem (como é fama) o nome eterno / De Portugal, armar madeiro leve / Manda o que tem o leme do governo."
AS ARMAS DA CIDADE
Foi em 1517 que o brasão da cidade começou a integrar a imagem de Nossa Senhora de Vandoma, com o Menino Jesus ao colo sobre um fundo azul e entre duas torres, as antigas torres românicas da Sé. Esta imagem coroava o Arco de Vandoma da velha cerca do Porto, dita ‘suévica’ mas de origem romana (século III). Padroeira da Cidade, hoje, é venerada no tansepto da Sé.
O PORTO NA HISTÓRIA
* O Couto do Porto - A pequena povoação no morro da Penaventosa, cuja origem remonta ao final da Idade do Bronze,(século VIII a.C.), foi doada por D. Teresa ao Bispo D. Hugo em 1120. Estava rodeada por uma estreita cerca de muralhas com quatro portas de acesso: Nossa Senhora de Vandoma, demolida em 1835; S. Sebastião, demolida em 1821; Santana, demolida em 1819 (nos vestígios do seu arco, a imagem de Santa Ana recebe a devoção popular que a enfeita de flores) e Verdades.
* O Porto e a conquista de Lisboa - Era o dia 16 de junho de 1147. Cerca de 200 navios, vindos do norte da Europa, com uma expedição de ‘Cruzados’ para a Terra Santa, entraram no rio Douro, o último grande abrigo antes de chegar a terras sarracenas. Para os receber, o Bispo do Porto, D. Pedro de Pitões, logo desceu o morro da Sé. E informou-os que havia recebido uma carta do seu rei, D. Afonso Henriques, que dizia:
" Afonso, rei de Portugal a Pedro, Bispo do Porto - Saúde. Se por acaso os navios dos Francos passarem pelo Porto, recebei-os com presteza e amizade e conforme o entendimento que com eles fizerdes para que fiquem comigo, vós e todos aqueles que o quiserem, como penhor do compromisso tomado, vinde juntar-vos comigo, junto dos muros de Lisboa. Adeus"
No dia seguinte, reunidos no adro da Sé, (hoje, uma placa assinala o local), o Bispo fez um sermão e tal foi o calor das suas palavras que a proposta acabou por ser aceite. Passados dez dias, a armada partiu em direção a Lisboa, levando consigo o Bispo, como fiador do compromisso de D. Afonso Henriques.
Ao chegarem a Lisboa, houve risco de graves desentendimentos entre os guerreiros estrangeiros e portucalenses, mantendo-se o Bispo inquebrantavelmente fiel à sua palavra, como testemunhou o cruzado Osberno: "Só o bispo do Porto permaneceu sempre connosco, como penhor, até à rendição de Lisboa".
* A Muralha Fernandina - Com o desenvolvimento do comércio marítimo, a população do velho Burgo começou a estender-se para fora da velha cerca em direção ao rio Douro, junto da foz do rio da Vila. Foi no Reinado de D. Afonso IV, em 1336, que se iniciou a construção da nova muralha que ficou concluída ao fim de 40 anos, já no reinado de D. Fernando. Daí o seu nome: " Muralha Fernandina". O muro apresentava uma altura média de 6,60 metros, com 2,20 metros de espessura e 3.400,00 metros de perímetro, com cinco portas, defendidas por torres, sete postigos e vinte cubelos. Para dar lugar a novos arruamentos, começou a ser demolida na segunda metade do século XVIII. Os troços sobreviventes, na zona oriental junto à antiga Porta do Sol, na Sé; e do lado ocidental no chamado ‘Caminho Novo’, em Miragaia, foram considerados monumentos nacionais em 1926.
O ‘Postigo do Carvão’, virado ao Douro, em S. Nicolau, é a única das antigas aberturas da muralha que ainda se conserva. (7/12/2022)
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