O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, julho 22, 2020

"UM ACENO DE DEUS"

 

A Igreja reconheceu as “virtudes heroicas” de três «veneráveis» que marcaram a minha vida.

- D. António Barroso, o «bispo santo» cujas agruras da perseguição minha mãe, na sua meninice, acompanhou de perto. Era seu mestre o “Senhor Abade” que seus pais acolheram quando, em 1911, foi expulso da residência paroquial, Minha admiração fez-se gratidão ao saber que o P. Carlos Coelho, o pároco que me batizou e acompanhou ao longo dos tempos, tinha sido por ele ordenado em Remelhe - «Catedral do Exílio» - em 1913.

- Padre Américo, «um santo», que mandou construir um bairro para os pobres onde vivia uma família minha amiga, bem perto do local – hoje assinalado com umas «alminhas» - em que sofreu o acidente que o levou à morte (1957). Dois anos depois, (1959), quando, jovem vicentino, percorria as ruas do velho Porto, testemunhei a orfandade em que, ainda, se sentiam os seus moradores pela morte do “Pai Américo”.

- D. Sílvia Cardoso, a bondosa senhora que, na freguesia vizinha da minha naturalidade, acolhia raparigas pobres e transviadas, na «Casa do Retiro da Granja». E vivo, há longos anos, na rua do Falcão, quase defronte do local onde funcionou a sua “Casa de Retiros do Porto” que ainda frequentei.

D. António Ferreira Gomes disse: “D. Sílvia foi um aceno de Deus... Tinha mesmo na atitude corporal o gesto de quem vai partir; e nunca a sua necessidade de ação foi orientada para outra meta que não fosse Deus”.

É dela que hoje quero falar não só para celebrar o 138º aniversário do seu nascimento (26/7/1882), mas também porque ela - contraiu a «pneumónica» a cuidar de doentes - é um exemplo de caridade cristã para estes nossos conturbados tempos. Como escreveu o Cardeal Cerejeira ”havia nela muita da loucura dos santos. Amou de todo o coração Deus, Cristo, a Igreja, as almas, e não soube jamais pôr medida ao seu amor”. Não foi sem razão que Monsenhor Moreira das Neves, no livro “Sílvia Cardoso – Aventureira de Deus” lhe chamou “O Anjo das três loucuras”.

A seu respeito, o meu saudoso professor Dr. Ângelo Alves ofereceu-me uma pagela que passo a citar.

“O lar dos pais foi a sua primeira escola de Fé e Caridade. Outras se seguiram. De todas as escolas, porém, a mais fecunda foi a Dor. Em pleno noivado, morre-lhe o noivo; em plena pneumónica, é contagiada.

 Chamada a ser perpetuamente Esposa de Cristo, consagrou-se-Lhe inteiramente, enchendo a sua vida com o amor de Deus e do próximo.(22/7/2020)

Levar Jesus às almas e trazer as almas a Jesus – era a sua divisa. Cooperar incansavelmente na Obra de Deus – foi a sua missão.

Fez-se pobre e mendiga, por amor aos pobres. Para as crianças, vão os primeiros cuidados. Procura as almas transviadas a exemplo do Bom Pastor. A sua vida é caridade em acção: põe a funcionar um hospital, abre uma creche, organiza retiros espirituais, funda lares e patronatos.”

Termino com D. Agostinho de Jesus e Sousa: “Peçamos a Deus que glorifique esta Sua Serva, de maneira a ser proposta para nosso exemplo sobre os altares”. (VP, 22/7/2020)