"DÁ-NOS UM DOM CUIDADOR"
No
dia 24 de junho, no seu programa “Caminhos da História” do «Porto Canal», o historiador Joel Cleto
disse que a festa a S. João resulta da «cristianização» das festividades pagãs
do solstício de verão, “festas das colheitas com rituais propiciatórios da
fertilidade”. E explicou que o S. João do Porto tem “pouco de cristianismo e
muito dos rituais pagãos” que dão significado às orvalhadas, aos balões e
fogueiras, às ervas aromáticas e manjericos, aos bailaricos e banhos no rio ou
mar.
Mas
não foi sempre assim. “Houve épocas com manifestações vincadamente católicas”.
Marcas desses tempos são as “cabeças santas de S. João Baptista” que, no dia de
S. João, atraíam multidões. Apresentou duas que ainda se conservam no Museu da
Misericórdia do Porto e sua igreja e, referiu uma outra, que existiu no extinto
convento dos Loios, objeto de grande devoção das gentes do Porto.
Outros
tempos…Porque nos dias de hoje ,“As festividades a S. João na cidade do Porto
não se revestem duma forma marcadamente religiosa”.
Não
assim, em Braga.
No
dia anterior, em entrevista à «Antena
Minho», a propósito do lançamento da cantiga «Pandemia e São João” de que é
autor, cantada pelos «Sinos da Sé», o etnólogo José Machado afirmou que o S.
João de Braga “mergulha fundo no imaginário religioso, na vivência de valores
catequéticos e religiosos”, procurando fazer da cidade um agregado de gentes,
símbolos, ícones e valores religiosos”.
Foi
este “imaginário” que o inspirou a criar uma cantiga que apela a valores tão
necessários ao nosso tempo de grande “frustração existencial”. Neste sentido, faz-se
eco da encíclica «Laudato Si - Sobre o cuidado da casa comum» em que o Papa
“pede à humanidade que seja cuidadora” com as pessoas e a criação inteira.
Em
sintonia com este pensamento, o entrevistador, comenta: -“Esta cantiga é uma
oração”. - Exato, responde, é um canto motivador que segue de perto as orações
que, nas romarias, os crentes fazem aos seus oragos”.
É
uma espécie de ladainha, em ritmo binário com ressonâncias do paralelismo dos
salmos, em que os dois primeiros versículos invocam as qualidades de São João e
os dois últimos formulam a prece sempre mediada pelo pedido “dum dom cuidador”.
*Ó
S. João inspirador /Dos excessos da folia. - Dá-nos um dom cuidador / Dá-nos
sabedoria.
*
Ó S. João propiciador /Do nosso divertimento. - Dá-nos um dom cuidador / Dá-nos
conhecimento.
*
Ó S. João motivador /Das paixões da mocidade - Dá-nos um dom cuidador / Dá-nos
criatividade.
*
Ó S. João regulador / Da festiva animação - Dá-nos um dom cuidador / Dá-nos a
ponderação.
*
Ó S. João anunciador /Do sentido da esperança - Dá-nos um dom cuidador / Dá-nos
a perseverança.
Para invocar os dons da sabedoria, do conhecimento, da
criatividade, da ponderação e da perseverança – cuidada gradação! – tão úteis
para os tempos que passam, “Vamos botar uma cantiga / Em louvor de S. João. / O
nosso tempo assim obriga /E a pandemia é a razão”. (8/7/2020)
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