FEZ 51 ANOS...
foi em 20 de junho de 1969 que o
homem chegou à Lua. Seja-me permitido lembrar essa data com uma evocação muito
pessoal.
É contigo, meu pai, que quero falar.
No
sábado passado, abrimos uma garrafa de champanhe em direção à Lua e bebemos uma
taça em tua memória. E sabes porquê? Porque fazia 51 anos que tu e
eu bebemos, juntos, a última taça de champanhe. Escolhemos esta data para te
recordarmos em festa. Não ,
não foi o dia do teu nascimento. Esse aconteceu-te. Não foste tu que o fizeste.
Mas o dia de hoje, sim, é sinal de ti, do teu amor pela humanidade, da tua
vontade de viver, da tua abertura a tudo o que era novo, a tudo que honrava o
Homem, da felicidade que sentias com os progressos científicos e tecnológicos.
Lembras-te?
Já
estavas muito doente, com a «púrpura». Virias a falecer poucos meses depois
(23/5/970). Tinhas vindo viver comigo para ficares próximo do hospital onde,
com frequência, recebias transfusões de sangue. E preenchias o teu dia a ler e
a ver as notícias que, à noite, comentávamos.
Nesse
dia, após o jantar, não foste para o quarto, ficaste na sala a ver, pela
televisão, a chegada do homem à Lua. Com que alegria silenciosa viveste esse
momento! Como teus olhos brilhavam!
Depois
de assistir aos primeiros passos, quiseste vir para o pátio da casa e olhar a
Lua que, lá no alto, inundava de luar a cidade. E como ficaste satisfeito
quando abri uma garrafa de champanhe e deixei a rolha saltar em direcção à Lua.
Celebrámos em honra da Humanidade. Brindámos à inteligência humana e louvamos
Aquele que dera ao homem tal poder, rezando umas das primeiras orações que tu e
a mãe me ensinaram: «Glória ao Pai». E
bebemos uma taça. Tu já bebeste pouco, mas não deixaste de brindar.
Acompanharam-nos a D. Amélia e a menina Maria Laurinda. E,
tu, com aquele teu jeito brincalhão, fitavas a Lua e dizias: - Ó Laurinda, parece-me que estou a ver um
homem a andar na Lua com uma bandeira às costas. Será o americano? Não vês?
Ela, muito reverencial, respondia à tua brincadeira: - Senhor José, estou a ver uma parte mais
escura. Será o astronauta? – Sim,
respondias tu, é ele porque o vejo a
mexer. A brincadeira prolongou-se por longos momentos de felicidade e
esqueceste o teu sofrimento.
É assim que te revejo nos meus
sonhos… Sempre vivo. Sempre atento a tudo o que dignificava o homem. Sempre
desejoso de saber mais.
Lembras-te das minhas férias? Quando me vias a ler um livro,
tu, que, então, só tinhas a 3.ª classe, sempre mo pedias. Uma vez, ficaste
zangado quando te respondi: -“ Não, pai,
este não. Não é um livro para si”. – O
quê? Já não posso ler os teus livros? Ao ver-te aborrecido, dei-to para a
mão, enigmático... E, tu… logo te abriste num sorriso: - Tens razão, filho, não é para mim. Está em francês e eu não sei
francês… E rimo-nos os dois.
Quando falo de ti, os olhos sorriem, mas o coração
chora…(24/6/2020)
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