O Tanoeiro da Ribeira

quinta-feira, junho 04, 2020

MEMÓRIAS DE UM AMIGO

Um mês é passado…

. As gentes de Campanhã, onde foi coadjutor, recordam o “seu” P. Manuel. “O nosso P. Manuel. tanto lhe devemos na nossa formação!” (G.F.)
 
. Conheci-o, em 1955, como diretor espiritual do seminário de Vilar. A afabilidade e o sorriso cedo nos cativaram.

. No domingo anterior ao «25 de Abril», li nas missas a sua homilia, proibida pelo Governo português, em que denunciava a injustiça da guerra colonial.Em1974, visitei-o no Cartaxo onde vivia após ter sido expulso de Moçambique em 14 de abril.

. Em 2010, transcrevi a resposta que deu a Samora Machel que lhe perguntara porque é que ele não lhe falava de Deus mas do povo - ”Deus não precisa que O defendam. O Homem sim”. (VP, 20/10). Em 2019, escrevi:” Ao ver a sua debilidade, recordei as “semanas pastorais” que tão bem orientou, a energia da sua palavra que enchia o “Palácio” e o carisma do seu testemunho que fazia tremer os alicerces do “Estado Novo”(VP, 26/6)

. Em 2017, nas comemorações do 25 de Abril, em Campanhã, li um texto da Associação 25 de Abril: “Em Março de 1974, D. Manuel Vieira Pinto aprovou o documento «Imperativo de Consciência» que defendia uma «resposta corajosa aos problemas graves do povo moçambicano». Recebeu ordens para se deslocar para Lourenço Marques. Fica retido pela polícia com o pretexto de ser uma medida necessária para a sua protecção. Ficou impedido de contactar com alguém e de receber visitas. Por ordem do Governo, abandona Moçambique. Na chegada a Lisboa, foi impedido de dialogar com os jornalistas e até com os seus familiares.”

. Em 2 de maio passado, escrevi no facebook: “Foi ontem a sepultar D. Manuel Vieira Pinto, Bispo de Nampula donde foi expulso duas vezes: uma em 1974 e outra já após a independência de Moçambique. E sempre o mesmo motivo: a defesa da dignidade humana e a liberdade dos Filhos de Deus…”
. Alguns dos comentários recebidos:

 “Como me lembro das suas conferências no Palácio de Cristal e de como os jovens acorriam em massa” (C.L.). “Homem que arrastou multidões em prol de um mundo melhor” (F.R.S.). “Faleceu pouco tempo depois do seu afilhado, o meu irmão Manuel” (J.A.). “Grande Senhor!” (L.F.A.). ”Foi um homem, como padre e mais tarde bispo, sempre preocupado com os mais desfavorecidos” (J.B.). “ Minha avó Aida tinha grande amizade por Ele” (P.G.). “Homem vertical. Como não conheço a família, apresento as minhas condolências a si com quem falei várias vezes acerca do Amigo comum” (C.S.). “Conheci-o em Moçambique. Grande ser humano!” (D.J.T.L.). “Tanto quis dizer-lhe como tinha sido importante para mim…” (M.M.C.S.). “Irradiava dele um entusiasmo contagiante de encontro e missionação, de fé e de abraço fraterno” (J.F.). “Minha vida está indelevelmente ligada ao director espiritual no Seminário de Vilar” (J.M.C.)

. Em 15 de maio, a Ecclesia noticiou: Parlamento homenageou D. Manuel Vieira Pinto e considerou-o “figura maior na luta pela afirmação da dignidade da pessoa humana no Portugal contemporâneo”.

. Que a memória não silencie quem nunca se deixou silenciar… (3/6/2020)