MEMÓRIAS DE UM AMIGO
Um
mês é passado…
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As gentes de Campanhã, onde foi coadjutor, recordam o “seu” P. Manuel. “O nosso
P. Manuel. tanto lhe devemos na nossa formação!” (G.F.)
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Conheci-o, em 1955, como diretor espiritual do seminário de Vilar. A
afabilidade e o sorriso cedo nos cativaram.
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No domingo anterior ao «25 de Abril», li nas missas a sua homilia, proibida
pelo Governo português, em que denunciava a injustiça da guerra colonial.Em1974,
visitei-o no Cartaxo onde vivia após ter sido expulso de Moçambique em 14 de
abril.
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Em 2010, transcrevi a resposta que deu a Samora Machel que lhe perguntara
porque é que ele não lhe falava de Deus mas do povo - ”Deus não precisa que O defendam. O Homem sim”. (VP, 20/10). Em
2019, escrevi:” Ao ver a sua debilidade, recordei as “semanas pastorais” que
tão bem orientou, a energia da sua palavra que enchia o “Palácio” e o carisma
do seu testemunho que fazia tremer os alicerces do “Estado Novo”(VP, 26/6)
.
Em 2017, nas comemorações do 25 de Abril, em Campanhã, li um texto da Associação 25 de Abril: “Em Março de 1974, D. Manuel Vieira Pinto aprovou o
documento «Imperativo de Consciência» que defendia uma «resposta corajosa aos
problemas graves do povo moçambicano». Recebeu ordens para se deslocar para
Lourenço Marques. Fica retido pela polícia com o pretexto de ser uma medida
necessária para a sua protecção. Ficou impedido de contactar com alguém e de
receber visitas. Por ordem do Governo, abandona Moçambique. Na chegada a
Lisboa, foi impedido de dialogar com os jornalistas e até com os seus
familiares.”
. Em 2 de maio passado, escrevi no facebook: “Foi ontem a sepultar
D. Manuel Vieira Pinto, Bispo de Nampula donde foi expulso duas vezes: uma em
1974 e outra já após a independência de Moçambique. E sempre o mesmo motivo: a
defesa da dignidade humana e a liberdade dos Filhos de Deus…”
. Alguns dos comentários recebidos:
“Como me lembro das suas
conferências no Palácio de Cristal e de como os jovens acorriam em massa”
(C.L.). “Homem que arrastou multidões em prol de um mundo melhor” (F.R.S.).
“Faleceu pouco tempo depois do seu afilhado, o meu irmão Manuel” (J.A.).
“Grande Senhor!” (L.F.A.). ”Foi um homem, como padre e mais tarde bispo, sempre
preocupado com os mais desfavorecidos” (J.B.). “ Minha avó Aida tinha grande
amizade por Ele” (P.G.). “Homem vertical. Como não conheço a família, apresento
as minhas condolências a si com quem falei várias vezes acerca do Amigo comum”
(C.S.). “Conheci-o em Moçambique. Grande ser humano!” (D.J.T.L.). “Tanto quis
dizer-lhe como tinha sido importante para mim…” (M.M.C.S.). “Irradiava dele um
entusiasmo contagiante de encontro e missionação, de fé e de abraço fraterno”
(J.F.). “Minha vida está indelevelmente ligada ao director espiritual no
Seminário de Vilar” (J.M.C.)
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Em 15 de maio, a Ecclesia noticiou: Parlamento homenageou D. Manuel Vieira
Pinto e considerou-o “figura maior na luta pela afirmação da dignidade da
pessoa humana no Portugal contemporâneo”.
. Que a memória não silencie quem nunca se deixou
silenciar… (3/6/2020)
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