ENTRE AVÔ E NETO
Meu
neto Francisco frequenta o 4º ano da catequese. Há tempos, perguntou-me: – Avô,
acreditas que nós continuamos a viver depois de morrer? – Acredito. E
perguntei-lhe: - Onde foste esta semana? – Fomos ver o castelo onde viveu D.
Afonso Henriques, respondeu. – Como sabes isso? – Foi a Professora que disse. –
Então, tu sabes porque acreditas na tua professora que to disse. Acreditas em
Jesus? – Acredito. – Então vais ler o que Ele, na cruz, disse ao «Bom Ladrão»:
“Em verdade te digo: hoje estarás comigo no
paraíso (Lc 23,43)”.
-
Vês. Nesta frase tão pequenina, Jesus faz três afirmações: «Hoje» - Não é amanhã nem depois. É logo
após a morte; «Estarás comigo» -
Quando morremos, vamos para junto de Jesus; «No paraíso». Abrimos o dicionário e lemos: «Paraíso: lugar onde
reina a felicidade, céu». Esclareci que a palavra «céu» tem dois sentidos
diferentes. Tanto pode significar «paraíso» como «firmamento». A linguagem
popular confunde-os.
Por
isso, concluí: - Acredito que os amigos de Jesus, depois da morte, viverão com
Ele num «estado de felicidade», como Ele afirmou solenemente: “Em verdade te digo…”
E
reforcei com a promessa feita por Jesus na “Última Ceia» a preparar os
discípulos para a Sua morte e ressurreição: “Vou preparar-vos um lugar. Depois
de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde
eu estou, também vós estejais (Jo 14, 2)
Depois,
continuei:
-Lembras-te
da palavra que te surpreendeu quando leste que “o homem é um animal
bio-psico-social”? - Foi «psico». – Correto. Repara ali na «Ruça» - uma das
nossas gatas que dormia no sofá. Ela precisa de dormir, de comer... É um ser
biológico como nós. Mas, que te parece, antes de adormecer, terá pensado no que
tem para fazer quando acordar? -
Não. – Vês, a «Ruça» vive no presente.
Dorme porque tem sono e não tem preocupações. O animal realiza-se plenamente em
cada momento. Nós, não. Os animais são seres completos. Nós somos a mais bela
criação de Deus. Somos uma sinfonia bela, mas inacabada, temos sempre um desejo
a realizar. (O teólogo Urs von Balthasar disse: “A morte quebra a existência
sem que esta se tenha completado.”)
Se
somos diferentes na vida também o somos na morte. Se não houvesse mais nada
para além da morte, o homem seria o mais infeliz dos animais. Ficaria sempre
incompleto. A morte é, pois, natural para o homem como ser biológico, mas, como
ser psicológico, é de tal maneira trágica que, mesmo em sonhos, nunca morremos,
acordamos antes que tal aconteça.
Creio num Deus a quem chamamos “Pai”. E, como
qualquer pai, quer que nós sejamos felizes. Foi Ele quem nos criou para a Vida
e não para a morte. Esta é a Esperança que me anima.
Depois,
falamos do seu Tio Zé que faleceu no ano em que ele nasceu.
-
Já compreendi. Obrigado, avô!
-
Fico a aguardar novas perguntas…
(15/4/2020)
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