O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, abril 15, 2020

ENTRE AVÔ E NETO

 
“A fé não é um pódio: é uma estrada.” (T. Mendonça)

Meu neto Francisco frequenta o 4º ano da catequese. Há tempos, perguntou-me: – Avô, acreditas que nós continuamos a viver depois de morrer? – Acredito. E perguntei-lhe: - Onde foste esta semana? – Fomos ver o castelo onde viveu D. Afonso Henriques, respondeu. – Como sabes isso? – Foi a Professora que disse. – Então, tu sabes porque acreditas na tua professora que to disse. Acreditas em Jesus? – Acredito. – Então vais ler o que Ele, na cruz, disse ao «Bom Ladrão»:

Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso (Lc 23,43)”.

- Vês. Nesta frase tão pequenina, Jesus faz três afirmações: «Hoje» - Não é amanhã nem depois. É logo após a morte; «Estarás comigo» - Quando morremos, vamos para junto de Jesus; «No paraíso». Abrimos o dicionário e lemos: «Paraíso: lugar onde reina a felicidade, céu». Esclareci que a palavra «céu» tem dois sentidos diferentes. Tanto pode significar «paraíso» como «firmamento». A linguagem popular confunde-os.
Por isso, concluí: - Acredito que os amigos de Jesus, depois da morte, viverão com Ele num «estado de felicidade», como Ele afirmou solenemente: “Em verdade te digo…”
E reforcei com a promessa feita por Jesus na “Última Ceia» a preparar os discípulos para a Sua morte e ressurreição: “Vou preparar-vos um lugar. Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais (Jo 14, 2)

Depois, continuei:

-Lembras-te da palavra que te surpreendeu quando leste que “o homem é um animal bio-psico-social”? - Foi «psico». – Correto. Repara ali na «Ruça» - uma das nossas gatas que dormia no sofá. Ela precisa de dormir, de comer... É um ser biológico como nós. Mas, que te parece, antes de adormecer, terá pensado no que tem para fazer quando acordar?  - Não.  – Vês, a «Ruça» vive no presente. Dorme porque tem sono e não tem preocupações. O animal realiza-se plenamente em cada momento. Nós, não. Os animais são seres completos. Nós somos a mais bela criação de Deus. Somos uma sinfonia bela, mas inacabada, temos sempre um desejo a realizar. (O teólogo Urs von Balthasar disse: “A morte quebra a existência sem que esta se tenha completado.”)

Se somos diferentes na vida também o somos na morte. Se não houvesse mais nada para além da morte, o homem seria o mais infeliz dos animais. Ficaria sempre incompleto. A morte é, pois, natural para o homem como ser biológico, mas, como ser psicológico, é de tal maneira trágica que, mesmo em sonhos, nunca morremos, acordamos antes que tal aconteça.

 Creio num Deus a quem chamamos “Pai”. E, como qualquer pai, quer que nós sejamos felizes. Foi Ele quem nos criou para a Vida e não para a morte. Esta é a Esperança que me anima.

Depois, falamos do seu Tio Zé que faleceu no ano em que ele nasceu.

- Já compreendi. Obrigado, avô!

- Fico a aguardar novas perguntas…

(15/4/2020)