RESSONÂNCIAS E CONSONÂNCIAS...
No
primeiro, Valter Hugo Mãe, escritor, começa por dizer: ”Está à porta a
discussão e provável aprovação da despenalização da eutanásia em Portugal e eu
não sinto folia nenhuma no facto e não julgo que seja de celebração fácil.
Julgo que nenhum sistema pode avançar com a eutanásia sem garantir que opera
cuidados paliativos de modo irrepreensível.”
Esclarece
as suas reservas. “A vulnerabilidade das pessoas, por doença ou velhice,
favorece estados depressivos e de abandono que podem propiciar a fantasia da
morte. Tendo em conta o horrível que é a solidão, e tendo em conta o horrível
de muitas famílias, pouco solidárias ou disfuncionais, confusas ou
oportunistas, imagino bem que pelo cansaço ou pela fúria, por vingança ou
ganância, muitos elegíveis para a eutanásia se verão encurralados, como se
pedir a morte fosse a única coisa decente a fazer.”
E
confessa.” Horroriza-me que, aberta a oportunidade institucional de morrer,
usemos a morte como resposta obrigatória para aqueles que viveriam apaziguados
num contexto de cuidado e carinho”.
Depois
de afirmar que não é “naturalmente, contra a opção lúcida de alguém que,
assistido por uma bateria de médicos especialistas, encontre apenas na morte
uma solução”, vai mais longe: “O que me parece impossível de conter é a
precipitação para a morte dos que se deprimem, dos que se fragilizam sobretudo
por falta de um sistema de acompanhamento humano, afetivo e pragmático que os
manteria justificados na vida.
Reafirma:
“Ao invés de se investir na valorização das pessoas mais velhas, ocupando-as e
acompanhando-as, cria-se lentamente a ideia de que são uma excrescência da
sociedade. Considero um horror. O que mais vejo são velhos à míngua de atenção,
apressados para a morte porque parecem servir para nada”.
E
termina com um vaticínio de arrepiar. “Fácil será de imaginar que, progredindo
sem cuidado na despenalização, chegaremos a muito suicídio que não será senão
uma forma de homicídio perpetrado pelo interesse de alguns e pela desfaçatez de
todos.” (9/2/2020)
No
segundo, Fernando Calado, presbítero, escreve: “Mesmo que venha a ser aprovada
(a despenalização da eutanásia), a Igreja Católica deve continuar a lutar pela
vida. Muitas vezes, as pessoas que pedem a eutanásia, o que estão
verdadeiramente a pedir é que lhes tirem o sofrimento. A eutanásia surge-lhes
como a única forma de o conseguir. O que a Igreja tem de demonstrar é que se
pode viver a doença e a velhice com uma tal qualidade que não fará sentido
desistir da vida.
E acrescenta: ”Deve ainda a Igreja preparar os
seus fiéis para enfrentar a doença e a velhice com uma atitude crente e
confiante em Deus que os ajude a viver melhor essas contrariedades e não desistir
de viver. Isto dará sentido ao seu sofrimento”(10/2/2020).
Concluo
com uma «Folha Dominical»: “Mesmo que a totalidade da população aprovasse uma técnica
de morte, esta seria sempre deplorável. Mas mais deplorável seria se 150 ou 200
pessoas impusessem os seus critérios a largos milhões de cidadãos”.
(19/2/2020)
(VP,
19/2/2020)
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