UM POVO SEM MEMÓRIA...
Há
dias, recebi uma mensagem que me enterneceu e provocou.
“Veja
a quantidade dos nossos ascendentes. Pais
- 2; Avós – 4; Bisavós - 8; Trisavós –
16; Tetravós – 32; Pentavós – 64; Hexavós – 128; Heptavós –
256, Octavós – 512; Eneavós - 1024, Decavós – 2048. Num total de 11 gerações, 4094 antepassados… Isto
tudo, em, aproximadamente, 300 anos!”
E
interpelava-me: “Pare por um instante e pense! De onde vieram? Quantas lutas
travaram? Por quanta fome passaram? Por outro lado, quanto amor, alegria e
estímulos nos legaram? Quanta força para sobreviver, teve cada um deles para
que, hoje, nós estejamos aqui, vivos?” Em síntese, afirmava: “Nós só existimos
graças a tudo o que cada um deles passou”. E terminava com um apelo: ”Honre
cada um deles! Honre sua vida! E seja grato.”
Parei.
E num gesto de gratidão a todos os meus, evoquei os sacrifícios do meu bisavô
que está na origem da minha alcunha de família que adotei no “email” e no
“blog” - «tanoeiro». Trabalhava numa tanoaria na rua do Sol, no Porto e vivia,
com a família, em Campo, Valongo. Saía de casa, alta madrugada de 2ª feira, e
regressava na 6ª feira já noite avançada. Percorria cerca de 20 km a pé, com
passagem pela serra de Valongo. E ainda aproveitava o fim-de-semana para fazer
um caneco que, depois, trazia às costas para vender a quem lho encomendara. Se
ficavam a dever e demoravam o pagamento, ele, quando os encontrava, perguntava:
- O canequinho veda bem?
E
pensei…Quão dolorosos e alongados são os caminhos da vida!…Histórias de família,
quem as não tem?
Além
da vida, os nossos antepassados também nos transmitiram a cultura que foram
adquirindo à medida que se iam humanizando. O Homem é, como diz Edgar Morin, um
animal bio-psico-social. Somos uma simbiose de natureza e cultura. A primeira
transmite-se pela geração, a segunda, pela educação.
O
Papa Francisco disse no encerramento do Sínodo da Amazónia: “A tradição não é
um museu de coisas velhas, tem de ser a salvaguarda do futuro”.
Da genética, somos simples transmissores. Já, da cultura, além de
produtos também somos produtores.
Sei que já não temos as longas noites de inverno à volta da
lareira, mas o tempo do Natal sempre propicia encontros e conversas. Partilhar as
histórias da família, é honrar os nossos «Maiores».
Também a Igreja vive da memória. Jesus disse aos discípulos:
“Fazei isto em memória de mim.” (Lc, 22,19).
Um povo, uma instituição, uma família, sem memória, é como “uma
casa construída sobre areia” (Mt, 7, 24-27).
Reconhecer a história é dignificar o passado, alicerçar o presente
e perspetivar o futuro. O devir também depende de nós. Essa a nossa grandeza e
o nosso compromisso.
(11/12/2019)
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