O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, janeiro 22, 2020

O DIVINO NAS FRAGILIDADES DO HUMANO


Há dias, numa janela da cidade de Cáceres, em Espanha, vi um estandarte do Menino Jesus que dizia “Dios Há Nacido”.

No Natal, face ao Menino deitado no Presépio, gosto de meditar no Prólogo de S. João: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. E o Verbo se fez homem e habitou entre nós.“ (Jo.1, 1-14)

 
E a memória faz-me mergulhar na infância. Vejo-me a esperar pela meia-noite, no último dia do ano, para me extasiar com o «fogo-de-lágrimas» que anunciava a “Festa do Deus-Menino”, a maior da minha aldeia. E recordo o que, na doutrina, me ensinava a «Mestra Maruja»: “Em Deus, há uma só Natureza em três Pessoas iguais e distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. E, em Jesus, há uma só Pessoa em duas Naturezas: divina e humana”.

Foi assim, que, quase por osmose, fui iniciado nos mistérios nucleares da nossa fé: Jesus e Santíssima Trindade.

O mistério da Encarnação não se esgota no «Jesus Histórico», mas prolonga-se na Igreja, “Reino de Cristo ”, a quem «O Mestre» encarregou de atualizar através dos séculos a Sua presença salvífica no Mundo (cf. Mat, 28,18). O Concílio Vaticano II diz: “Cristo deu começo na terra ao Reino dos Céus e revelou-nos o seu mistério, realizando, com a própria obediência, a redenção. A Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus (Lumen Gentium)”.

Assim a Igreja, fundada em Cristo e animada pelo Espírito Santo - teândrica como Jesus - está «Enculturada» e carrega sobre si o peso da Sua humanidade e das manchas deixadas pela história. E nós que aceitamos, até com ternura, a fragilidade do Deus-Menino, temos dificuldade em ver a Sua presença nas limitações das pessoas e estruturas da Igreja. Quantas pedras… (cf. Jo 8,7) 

Para avivar a fé, procuro relembrar o «Símbolo dos Apóstolos». Para ajudar quem, como eu, o decorou na infância mas já tem dificuldade em recitá-lo, aqui o deixo como me foi ensinado: “Creio em Deus Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo seu único Filho, Nosso Senhor; que foi concebido por obra e graça do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pilatos; foi crucificado, morto e sepultado; desceu aos infernos, ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso. Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Católica; na Comunhão dos Santos; na remissão dos pecados; na ressurreição da carne, na vida eterna. Amen”.

Nesta sociedade que explora o natal sem Deus, urge que testemunhemos o Natal do nosso Credo. Um rito sem mito torna-se oco como as abóboras que apodrecem por dentro mas, à vista, continuam bonitas…

Peço a Deus que avive em mim a fé simples e compassiva de minha mãe. E lembro os versos de Tolentino: “ O que Jesus nos diz é; «Também tu podes nascer»./ Pois nós nascemos, nascemos…”.

(22/1/2020)