"SOMOS HERDEIROS DA LIBERDADE"
Acabo de ler as últimas palavras de Steve Jobs – o criador da Apple, Macintosh, iPod, iPhone, iPad - que morreu multimilionário.
"Cheguei ao auge do sucesso no mundo
dos negócios. No entanto, tenho pouca alegria. Percebo que o
reconhecimento e riqueza, de que eu me orgulhei tanto, perderam o brilho,
diante da morte iminente.” (…) “Não ensines teus filhos a serem ricos. Educa-os
para serem felizes. Assim, quando crescerem, saberão o valor das coisas e não o
preço”.
E termina: “A pessoa mais rica, não é a que tem mais, mas a que
precisa menos! Ou seja, é aquela, que sabe viver com o que tem”.
Esta mensagem ajuda-me a compreender como, antigamente, as pessoas, apesar
de mais pobres, eram bem mais alegres do que hoje. Na aldeia da minha sogra, os
vizinhos sempre enaltecem a sua linda voz quando cantava nos campos. E, no
entanto… Ela contava que, ao sábado, lavava a roupa que usava durante a semana
para, no domingo, levar à missa. E quando ia ao Marco, para não gastar os
socos, só os calçava ao chegar à vila…
E
as crianças? Revemo-nos nas palavras de Germano Silva “Na minha infância, eu
não tive Natal. Explicando melhor, não tive aquele Natal que, por isso ou por aquilo,
isto é, por um brinquedo ou por uma ceia de qualquer modo memorável, deixa em
nós uma vincada lembrança”. E, apesar disso, como brincávamos! O povo dizia: “Deus
nos dê muito e nos satisfaça com pouco”.
A
vida melhorou. E, no entanto, somos gente de rosto sombrio. E as crianças? Nada
as satisfaz. Quão atual, a sentença de Confúcio: “Nada é bastante para quem considera
pouco o que é suficiente”.
Razão tinha Frei Mourão: “O que é desejado em
nós não são tanto os objetos de que parecia termos necessidade, mas aquilo que
subjaz ao fundo de que vivemos, o dom da vida”
Escreveu
Tolentino Mendonça: “Ironicamente, nesta era da modernidade avançada em que
estamos, à falta de outros mestres, são os publicitários que se dedicam a
pensar a inapagável fome de felicidade inscrita no coração do homem”.
A
sociedade atual controla os nossos comportamentos. Com apelos aliciantes,
explora o «princípio do prazer» onde o desejo é omnipotente e insaciável; cria
necessidades supérfluas que provocam dependências e frustrações. Para isso,
basta-lhe, como diziam os “behavioristas” americanos, na linha da reflexologia
russa, estender às pessoas as técnicas do «reflexo condicionado» que Pavlov
praticava com cães: controlando os estímulos, condiciona-se a reação, como
fazem os domadores de animais.
Ouçamos
o Papa Francisco: “ Se não lutarmos contra esta febre que a sociedade de
consumo nos impõe para nos vender coisas, acabamos por nos transformar em
pobres insatisfeitos” (Alegrai-vos e
Exultai).
Não
sejamos nem deixemos que nossos filhos/netos sejam tratados como “animais
amestrados”. Neste Advento, mostremos-lhes que, como dizia Sophia, “somos herdeiros da liberdade”.
(18/12/2019)
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