O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, março 11, 2020

HÁ PENITÊNCIAS E PENITÊNCIAS...

 
No primeiro domingo da Quaresma, participei na Eucaristia na diocese de Braga. Na homilia, o celebrante, a propósito das tentações da atualidade, começou por falar dos receios do Papa Francisco: "Fico com medo quando escuto alguns líderes das novas formas de populismo. Parece-me ouvir os discursos que semearam medo e ódio na década dos anos 30 do século passado”. Os populismos invadiram o nosso dia-a-dia. Enchem as nossas televisões. Inundam as redes sociais. Contaminam as nossas conversas. Exploram os sentimentos mais primários e egocêntricos. Apresentam uma visão maniqueísta da sociedade que agrada porque bons, somos nós; maus, são sempre os outros…

E contou a lenda das Sirenes, seres da mitologia grega, parte mulher e parte pássaro, que viviam numa ilha rodeada de rochedos. Cantavam com tal doçura que os marinheiros, ao ouvi-las, esqueciam-se dos penedos contra os quais seus navios acabavam por colidir e afundar. Um dia, o comandante ordenou aos marinheiros que colocassem cera nos ouvidos e amarrou-se ao mastro do navio, recomendando que não o soltassem em nenhuma hipótese. E assim passaram ilesos.

Para esta quaresma, deixou uma sugestão de penitência “Não é preciso colocar cera nos ouvidos como os marinheiros da mitologia, mas vamos repudiar os apelos ao radicalismo; vamos tapar os ouvidos ao populismo que, no dizer do Santo Padre, «oferece terreno fértil ao ódio»; vamos fugir de conversas onde se diga mal de alguém; vamos evitar invejas e discórdias”.
 
Curiosas coincidências…

. Na semana anterior, num almoço de amigos, um disse: “Já resolvi qual vai ser a minha penitência quaresmal. Não vou ler nenhum «site» que diga mal da Igreja ou critique o Papa Francisco”.

. Na semana seguinte, li a catequese papal na Audiência Geral de Quarta-feira de Cinzas (26 de fevereiro):

 “A Quaresma é o tempo de renunciar a palavras inúteis, conversinhas, fofocas, mexericos e se aproximar do Senhor. É o tempo de se dedicar a uma ecologia saudável do coração, fazer uma limpeza nele. Vivemos num ambiente poluído por muita violência verbal, por muitas palavras ofensivas e nocivas, que a rede amplifica. Hoje, insulta-se como se dissesse «Bom dia». Somos submersos em palavras vazias, publicidades e anúncios falsos. Acostumamo-nos a ouvir tudo sobre todos e corremos o risco de cair num mundanismo que atrofia os nossos corações”.

. Nessa mesma semana, recebi, via facebook, um texto que sintetiza os jejuns que agradam ao Papa Francisco:

“Jejum de palavras negativas e dizer palavras bondosas; - Jejum de descontentamento e encher-se de gratidão; - Jejum de raiva e encher-se com mansidão e paciência; - Jejum de pessimismo e encher-se de esperança e otimismo”.

Quão saudáveis penitências…Que o Santo Padre seja nosso timoneiro. As sereias não nos encantarão… E nosso coração ficará mais limpo para celebrar a Páscoa.
(11/3/2020)