NO «SENHOR SANTO CRISTO»
Aconteceu-me ao assistir à Eucaristia
que a RTP1 transmitiu do Convento da Esperança, em Ponta Delgada. Logo no
início, o celebrante, cónego Adriano Borges, saudou, de olhos humedecidos, os
muitos açorianos dispersos pelo mundo que, naquele momento, estariam “ com uma
lágrima no canto do olho”.
Na decoração singela da igreja do
Santo Cristo dos Milagres, sobressaíam os antúrios vermelhos. Os doze jovens do
coro, de traje preto, punham uma nota de contraste no doirado da talha e no
azul dos azulejos. Tudo com muita elegância e bom gosto.
Na homilia, em nota prévia, o
celebrante referiu três bispos que não puderam estar presentes: D. João
Lavrador, bispo dos Açores desde 2016, “por razões de todos bem conhecidas”; do
seu predecessor, D. António Sousa Braga (1996-2016), açoriano e grande devoto
do Santo Cristo; e de D. José Tolentino de Mendonça que, “com palavras de poeta
nos fala de Deus”.
Após o que, falou da tristeza que
atormenta os muitos açorianos que a pandemia impede de estar presentes.
Acrescentando, com um sorriso nos lábios: “Mas o Senhor Santo Cristo não está
fechado. Está enclausurado, sim, mas é nos nossos corações”.
Mais que tristeza, hoje é dia de
alegria como aquela de que fala a 1ª leitura: “E houve muita alegria naquela
cidade”.
Congratulou-se com a serenidade e
o silêncio, “perturbado por alguma lágrima” dos peregrinos, muitos descalços,
que, no dia anterior e durante a noite, foram chegando a “este Campo do
Senhor”. Comparou-o ao silêncio da Praça de S. Pedro e do Santuário de Fátima. Reforçou
o apelo à interioridade com as palavras de S. Pedro, na 2ª leitura: “Venerai
Cristo Senhor em vossos corações”.
De seguida, virando-se para a
imagem do Senhor Santo Cristo, disse: “Reparai na ternura com que nos olha.
Seus olhos parecem seguir-nos, não para nos castigar mas porque nos ama.
Ao comentar a leitura do Evangelho,
fixou-se no «Se»: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos”. Este «Se»
torna-nos livres. Cristo ama-nos. Mas não impõe o Seu amor. E, virando-se para
a imagem, acrescentou: - “ Vede, Cristo está preso por cordas. Ele assume os
laços que nos atam para que possamos ficar livres. “Se” quisermos…
Nós açorianos, “somos como a «viola
de dois corações»: um parte para longe, mas o outro fica cá. É o símbolo da
saudade que hoje nos amargura”
No final da Eucaristia, fiquei
sensibilizado ao ouvi-lo ler uma carta de D. João Lavrador, um amigo da Voz
Portucalense que, quando bispo auxiliar do Porto, muito visitava e enriquecia
com seus textos.
No santuário de Nª Srª da
Esperança, a promessa de novos dias:
“Nós temos saudades do «nosso querido
Santo Cristo». Também Ele tem saudades de nós”. (20/5/2020)
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