O Tanoeiro da Ribeira

segunda-feira, maio 04, 2009

TESOUROS EM VASOS DE VIDRO

Salmo 70 - “ Na minha velhice não me rejeiteis.
Ao declinar de minhas forças não me abandoneis.”

“Os idosos são as pessoas mais sós e representam a solidão no meio de muita gente. ” P. Lino Maia, Presidente da CNIS


Há uns tempos atrás fui visitar uma familiar internada num lar de 3º Idade. Quando lá cheguei, perguntei pela D. Maria Emília. A empregada, surpreendida, respondeu-me que não conhecia ninguém com esse nome. “Só se for a Micas”, disse-lhe uma colega. Virando-se para mim, disse, muito simpaticamente, “ eu vou chamar a Miquinhas”. Estava bem tratada mas sempre fora a D. Maria Emília ou simplesmente Emília e nunca a Micas ou Miquinhas. No mínimo, posso dizer que fiquei surpreendido…
Por coincidência, há dias, li, no último número da revista “espaço solidário”, da Obra Diocesana de Promoção Social, um texto que me encantou. Trata-se de “uma carta endereçada a um Lar de Idosos por uma enfermeira americana que, preparando o futuro, resolveu dar indicações sobre a forma como desejava ser tratada.”

Com a devida vénia, resolvi transcrever alguns excertos.

1. Gostaria de conservar a minha identidade. Sou a Sra. Wills e é assim que desejo que me tratem. Não quero converter-me em “avozinha”, em “Rosinha” ou na “Senhora da cama 9”. Quero manter o meu nome.

2. Uma das coisas mais importantes para mim é a minha intimidade. Poderei ter um quarto individual? Provavelmente não, e nesse caso vede bem se há cortinas em torno da cama e se estão corridas enquanto me lavam ou vestem;

3. Se tendes que me lavar, assegurai-vos da temperatura da água. Dêem muita atenção em secar-me bem. Quando me derem banho, cuidai não só da minha higiene, mas também da minha dignidade e intimidade, por favor.

4. Se não for capaz de me vestir só, espero que quem me cuidar se esforce em manter a minha boa aparência; gostaria que desse atenção ao que me veste (até tentando que as blusas combinem com as saias), que não me ponham meias velhas (ou collants com malhas), que não permita que a combinação apareça por debaixo do vestido e, por Deus, não me enrole as meias abaixo dos joelhos!

5. Algumas vezes irei à sala. Se pudéssemos estar tranquilos! Estou certa que não é preciso deixar a televisão ligada todo o dia, sem se preocupar se alguém olha para ela.

6. Se tiver livros por perto, vede se tenho os meus óculos.

7. Se, no momento das refeições, for incapaz de cortar os alimentos, espero que alguém o faça por mim Se for preciso, não tenho nenhum inconveniente em comer com colher desde que me sirvam a comida num prato fundo. Gostaria de ter um guardanapo, nem que seja de papel, mas que não seja uma “babete”.

8. Se me tornar incontinente, poderiam continuar a tratar-me como um ser humano? Por favor, não me façam cara feia quando descobrirem os meus lençóis molhados. Não me tratem nunca por “porquinha”, não me ralhem como se o fizesse de propósito. Se posso usar fraldas, não me ponham algália por razões puramente práticas. Não quero passear-me com um saco de urina pendurado.

9. Seria uma prova de gentileza da vossa parte algum interesse pela minha família, pelas fotos que tenho na mesa-de-cabeceira; no entanto, parecer-me-ia pouco caridoso que me perguntassem por que não se ocupam de mim os meus familiares ou por que razão os meus filhos não me vêm visitar.

10. Serei feliz se puder sair de vez em quando, ver árvores em flor na Primavera…

11. Permitam-me que participe do vosso mundo. Falai-me da vossa família, dos vossos amigos, deixai que fale da minha vida passada; fingi, se for preciso, que vos interessais, mesmo quando repetir o que disse ontem ou antes de ontem.”

"Os mais pequeninos"...
Que o Senhor dê forças a todos os que cuidam de idosos e deficientes. Exercem a mais sublime das missões: ajudam aqueles em quem e por quem Deus fez maravilhas. E a quem devemos muito do que somos. Eu sei, não é tarefa fácil. Exige muita paciência e sempre muito carinho. Eles precisam e merecem. E Deus agradece: “Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt. 25,40).Nestes tempos de infantolatria, "os irmãos mais pequeninos" são, especialmente os idosos e deficientes.


O invólucro é frágil mas a jóia é preciosa… Num tempo que tanto valoriza o “embrulho”, a Fé ajuda-nos a ver para além das aparências… E fortifica-nos.
Uma palavra de homenagem a todas as pessoas, famílias e instituições que cuidam dos mais fragilizados. Os vossos sorrisos e carinhos são as suas amêndoas de Páscoa…