O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, agosto 06, 2025

VAMOS CONHECER PORTUGAL - IV - POR TERRAS DO DEMO

Assim lhe chamou Aquilino Ribeiro que aqui nasceu e viveu. O passeio iniciou-se em Vila Nova de Paiva onde almoçámos com o pároco, P. Justino Lopes, assinante e admirador da Voz Portucalense de que é leitor desde os tempos do seminário em Lamego, onde foi colega do ‘nosso’ D. António Francisco. Foi uma conversa longa de ‘velhos’ amigos cujo conhecimento remonta ao ano de 1971, no Colóquio Europeu de Paróquias em Estrasburgo, em que participámos, era ele, então, pároco de Nespereira, em Cinfães. Depois das palavras iniciais em que recordámos o cónego Rafael, de Lamego, depois visto de Bragança, que foi seu colega nesse Colóquio, veio à conversa da Igreja do Porto. E sua irmã, também presente, falou da familiaridade de trato de D. António e de D. Serafim que bem conheceu quando veio fazer um curso de catequese ao Porto e serviu na Casa Episcopal. O P. Justino, por sua vez, contou que, numa missa dominical, reparou que, ao fundo da igreja, estava D. Manuel Martins. No final, disse-lhe que ele poderia ter presidido à celebração ao que ele respondeu: - “Gosto de ficar deste lado para ver a figura que faço quando estou no altar”. E foi com notória satisfação que falou de D. Manuel Linda que se ordenou em Vila Real, mas foi seminarista em Lamego e nasceu em Resende. E de D. Joaquim Dionísio que, entre outras missões, foi reitor do santuário de Nossa Senhora da Lapa. Esse entusiasmo deu lugar a algum desalento quando falou do despovoamento das suas terras, resumindo: “Fecham-se escolas, abrem-se lares, alargam-se cemitérios. E para os lares funcionarem o que nos valem são os imigrantes brasileiros porque, aqui, não haveria gente para trabalhar”. Os seus olhos voltaram a brilhar quando falou do seu programa semanal no ´Rádio Escuro’ que o leva até aos seus conterrâneos espalhados pelo mundo e o obriga a entrevistar as pessoas de idade para poder contar histórias das suas terras que a todos interessam. No final, ofereci-lhe o meu último livro ‘Esta viagem que nos plasma’ e ele ofereceu-me os opúsculos de que é autor: “A Paixão – Na arte das igrejas de Fráguas e Vila Nova de Paiva”; “Páscoa – Na Arte de Igreja Paroquial de Fráguas e Vila Nova de Paiva” ; “ A Genealogia de Jesus na igreja der Vila Nova de Paiva”. Feitas as despedidas, dirigimo-nos à igreja paroquial de Alhais onde Aquilino foi batizado (7/11/1885), e, em Soutosa, visitámos o museu na casa onde Aquilino viveu e hoje, é sede da Fundação Aquilino Ribeiro. Deixado o vale do Paiva, subimos a serra da Lapa onde nasce o rio Vouga e visitámos o santuário da Senhora da Lapa cujo culto se iniciou em 1498, numa pequena ermida construída ao lado da grande lapa onde, entre penedos, apareceu a sua imagem. Em 1576, a Lapa foi entregue aos Jesuítas que construíram o atual Santuário, ‘com penedia no seu interior’ e, no sec. XVII, edificaram o Colégio da Lapa’, onde Aquilino Ribeiro veio a estudar. A pagela disponível para os visitantes informa que “A Senhora da Lapa, a par com Santiago de Compostela, chegaram a ser, em tempos, os dois santuários mais importantes da Península Ibérica”. No seu interior, mereceram-me especial atenção o ‘Presépio’ do séc. XVIII, da Escola Machado de Castro’; a imagem de Nossa Senhora; o Crocodilo, um ex-voto a que o povo chama o Sardão da Lapa; a passagem por detrás do altar onde, segundo a tradição, não consegue passar quem tiver um pecado grave. Depois, descemos até Tabosa e parámos juntos às ruínas do monumental Mosteiro de Nossa Senhora da Assunção, fundado em 1692, o último mosteiro cisterciense a ser criado em Portugal, onde se passa o trama que Aquilino conta em ‘Valoroso Milagre’. E terminámos na freguesia do Carregal, no antigo ‘Pátio dos Sanhudos’ rebatizado como ‘Pátio Aquilino Ribeiro’ porque nele nasceu como consta na placa afixada na casa: “AQUI NASCEU AQULINO RIBEIRO 13-9-1885 – 13/9/1985 - HOMENAGEM DA CÂMARA MUNICIPAL DE SERNANCELHE”. Aqui passou a sua infância como tão bem descreve no seu livro ‘Cinco Reis de Gente’. A terminar deixo duas sugestões para este verão: a visita ao Santuário de Nossa Senhora da Lapa e a leitura do livro Cinco Reis de Gente. Vale a pena (30/7/2025)