O Tanoeiro da Ribeira

sábado, julho 22, 2023

O SOL DO ENTARDECER...

São meigos os raios solares quando a noite vai chegando…. Aquecem, mas não queimam; amaciam-nos o rosto, mas não magoam o olhar. Assim os netos quando os anos se nos alongam e, no céu da vida, já se vislumbra a ‘estrela da tarde’… A metáfora surgiu-me no passado dia 25, quando, ao entrar no parque de S. Roque para o piquenique celebrativo do 5º aniversário das nossas gémeas, vimos quatro bracitos no ar a correr para nós e a Eva me disse ‘Avô, guardei esta batata para ti! É boa. Eu já comi’. Os olhos humedeceram e o sabor da oferta chegou-me ao coração… Deu-nos Deus a graça de termos quatro netos ainda pequenos e a viver perto de nós. - ‘Avô, gosto muito de ti’ - segreda-me ao ouvido a Eva (5 anos) - ‘Avô, tu gostas muito da avó!’ - exclama a Luz (5 anos) - ‘Avô, hoje, contei às minhas colegas a história do amigo pobre que andava sempre atrás de ti’ - informa a Clara. (oito anos) - ‘Avô, gosto de ler as tuas histórias de menino’– confessou-me o Francisco na noite de 23 de junho. (12 anos) Levantamo-nos bem cedo para ir levar as meninas à escola. É um acordar em festa!... Falam e cantam toda a viagem. Aquele abraço matinal enche-nos o dia… E a nossa ‘oração da manhã’ faz cântico de louvor e gratidão. De tarde, é o desporto, o balé, o parque infantil… Um ‘serviço’ que se ‘remunera’ a si mesmo… Acresce, ainda, o prazer de os ter, à vez, a dormir em nossa casa ao longo da semana. Mesmo quando sou ‘posto’ fora da cama pelas gémeas que se metem no nosso meio… Como sabe bem, ao adormecer, ajoelhar junto da sua cama e cantar: ‘O dia chegou ao fim / Silêncio a noite desceu. / Boa noite! Paz em Deus!’ É a nossa ‘oração da noite’ feita de louvor e ação de graças pelo dom da vida que se renova e prolonga… Que mais podemos pedir?!... Saúde. Que Deus os abençoe e ajude a, como Jesus, crescer “em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc, 2,52) Os netos são a brisa que nos refresca os anos já tisnados pela vida; o rocio que nos asperge, após longa caminhada. Quando isto escrevia, tomei conhecimento, através da VP (21/6/23), da “Mensagem do Papa Francisco por ocasião do III Dia Mundial dos Avós e dos Idosos - XVI Domingo do Tempo Comum”. Ao aproximar-se o dia 23 de julho, partilho convosco duas perícopes dessa ‘Mensagem’ que bem merece ser lida no seu texto integral. - Esperança e Certeza “O Senhor espera que os jovens, ao encontrar os idosos, acolham o apelo a guardar as memórias e reconheçam, graças a eles, o dom de pertencerem a uma história maior. A amizade duma pessoa idosa ajuda o jovem a não cingir a vida ao presente e a lembrar-se que nem tudo depende das suas capacidades. Por sua vez, aos mais velhos, a presença dum jovem abre à esperança de que não se perderá tudo aquilo que viveram e se vão realizar os seus sonhos.” -Bênção e Modelo “O Espírito Santo abençoa e acompanha todo o encontro fecundo entre gerações diversas, entre avós e netos, entre jovens e idosos. De facto, Deus quer que os jovens, como fez Maria com Isabel, alegrem os corações dos anciãos e extraiam sabedoria das suas experiências. Mas o primeiro desejo do Senhor é que não deixemos sozinhos os idosos, que não os abandonemos à margem da vida, como hoje, infelizmente, acontece com demasiada frequência.” Aos jovens, deixo: -Um apelo Que a ‘Jornada Mundial da Juventude’, como deseja o Papa Francisco, vos leve a ‘refletir sobre a ligação entre jovens e idosos’. A evolução psicológica não é favorável aos avós. À medida que crescem, os netos tornam-se menos ‘ternurentos’ no seu amor. Ao invés, os avós, ao envelhecer, cada vez mais estão dependentes de pequeninos gestos de carinho. E sentem saudades dos abraços de criança… Não basta amá-los. Estai atentos e lembrai-vos que sois sempre, como sói dizer-se, “a menina dos seus olhos’, a ‘alegria do seu viver’. E ficam felizes com tão pouco… - E um pedido Quando estiverdes próximos dos vossos avós, levantai os olhos do telemóvel e fixai os seus rostos. Se olhardes bem, podereis encontrar-vos escondidos nalguma das suas rugas. Mas em seus olhos, brilhará o vosso nome. Os avós sabem-se na margem - o seu lugar - mas não se veem à margem da vida dos netos. E, até por isso, nunca podem/devem ser marginalizados. “Quem abraça precisa de ser abraçado” (Luís Osório). (19/7/2023)