VAMOS CONHECER A NOSSA TERRA - (IV) - DO LEÇA AO FERREIRA
Era inverno. A viagem iniciou-se em Alfena, a ouvir as águas do Leça que, pressurosas, se esgueiravam sob a ponte de S. Lázaro, de origem romana e reconstruída na Idade Média. Por aqui passava a estrada Porto-Guimarães, e serve, ainda, o Caminho de Santiago.
Em Ermesinde, parámos junto do ‘Colégio’, onde esteve aquartelado o exército napoleónico, aquando da 2ª Invasão francesa (1809). O seu comandante, Moulet, estará na origem do ‘molete’ de Valongo.
Por aqui, também, se travaram as lutas liberais. Numa lápide à entrada da Santa Rita. consta: “Aqui repousam os restos mortais de humildes e desconhecidos Soldados que sacrificados nas lutas liberais entre D. Pedro e D. Miguel pela ocasião do Cerco do Porto (1832-1834) foram sepultados em vala comum no adro d’esta egreja. R.I.P.”.
Na ‘Quinta da Mão Poderosa’, viveu e faleceu ‘o pastor da inteligência’, D. António Ferreira Gomes. Aqui, visitei o meu velho professor, D. Armindo, que me agradeceu, já com mão trémula: “Grato pela visita que me serviu para matar saudades”. Saudosa recordação…
Junto da capela de Santa Justa, estendemos o olhar pelos horizontes que vão do “Mar ao Marão” e espreitámos os ‘fojos’ onde os romanos extraíram ouro. Também por esta serra, a que chamaram ‘Cuca-Macuca’, andaram os Mouros que, ao serem expulsos, cantavam: ‘Ó Serra da Cuca-Macuca /Tanta pena nos deixais/ Atirais com ouro às cabras /E não sabeis com q’atirais.’
Depois foi descer até ao ‘valis longus’ do rio Ferreira.
Em Valongo – Terra da Regueifa - admirámos o ‘Cruzeiro do Padrão’, onde é pregado o ‘Sermão do Encontro’ na Procissão dos Passos que, desde 1710, percorre as suas ruas.
Na rotunda da Estação, surpreendeu-nos o monumento às ‘trilobites’, a lembrar estes primitivos animais marinhos que, na ‘era paleozoica’, habitavam o fundo do mar pouco profundo que cobria esta terra, antes de a orogenia hercínica, há cerca de 350 milhões de anos, ter dobrado os quartzitos da serra de Valongo onde abundam os seus fósseis.
Em Campo - Terra da Ardósia - depois duma oração no local do acidente (14/7/1956) que vitimou o ‘Pai Américo’, visitámos o ‘Museu da Lousa’ que nos mostra a vida amarga dos mineiros - ‘toupeiras humanas’- nas pedreiras de ardósia.
Para um surpreendente mergulho na natureza e no ‘antigamente’, nada melhor do que um desvio até à Queiva. As águas do Ferreira precipitam-se, em cascata, contra a ‘Fraga do Castelo’ e abundam ruínas de moinhos. Aqui, e não só, se moía a farinha com que se fazia o ‘pão de Valongo’.
Se Valongo – que já fora da Estrada (A Villa de Vallongo, pag. 131) - a meia encosta no caminho do Porto, era terra de padarias e comércio, já Campo, no fundo do vale, foi, com a fertilidade da veiga e a energia do rio, terra de moleiros e lavradores. Disso é prova a ‘Ponte dos Arcos’, o aqueduto – hoje, viaduto - por onde, desde 1875, passava o ‘rego de consortes’ que levava a água de Ponte Ferreira para as agras da margem esquerda.
Depois, foi a igreja matriz, construída no início do seculo XX que conserva, da igreja anterior, a talha dourada, azulejos e um magnífico conjunto escultórico com S. Martinho e S. Marçal.
Bem perto, admirámos a gótica ‘Ponte do Morte’ que dava acesso ao couto, doado por D. Afonso Henriques ao Bispo do Porto, o ‘Couto de Luriz’, onde, segundo uma antiga tradição oral, terá nascido a ‘Rainha Santa Mafalda’. Por aqui passava a estrada medieval que ia do Porto para Entre-os-Rios.
Na também medieval ‘Ponte Ferreira’, que servia a antiga estrada Porto -Vila Real, relembrámos a célebre batalha (1832) que recebeu o seu nome, o primeiro grande confronto do ‘Cerco do Porto’.
Em Sobrado, admirámos a capela-mor da igreja (séc. XVII/XVIII), ‘expoente máximo do barroco do Concelho’.
No seu adro e largo anexo, desenrolam-se os principais quadros da ‘Bugiada e Mouriscada’, no dia de S. João.
O ‘S. João de Sobrado’ é uma festa única, numa singular simbiose de história e lenda; mito e religião; etnografia e pantomina; teatro religioso e cultura popular. E é já no próximo sábado. Vale a pena conhecer!
Uma palavra de louvor às gentes desta terra que, num monumento, perpetuaram a memória do seu pároco, P. Agostinho Freitas. Foi este piedoso e culto sacerdote que, quando abade de Chave, Arouca, orientou a ida para o seminário do nosso diretor, P. Correia Fernandes. (21/6/2023)
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