NA MEMÓRIA TAMBÉM SE VIVE...
A amizade tem o condão de esbater o tempo. Quando,
após longo período de ausência, os amigos se encontram, recordam os «velhos
tempos» como se tivessem estado a conversar no dia anterior. Foi o que aconteceu
no convívio dos membros do Coro Gregoriano do Porto com os residentes da Casa Sacerdotal,
aquando do concerto que aí apresentaram no dia 31 de maio (cf. VP, 5/6/2019).
Assim,
o P. Jorge falou-me do diário de Rogério Sampaio e da esperança da sua
reedição. Ao ver a debilidade de D. Manuel Vieira Pinto, recordámos as “semanas
pastorais” que tão bem orientou, a energia da sua palavra que enchia o “Palácio”
e o carisma do seu testemunho que fazia tremer os alicerces do “Estado Novo”.
Já com o P. Amorim avivei memórias do seu estágio diaconal onde ele se fez «próximo»
das «periferias existenciais e geográficas» da cidade. Eram quatro diáconos. Viviam
em comunidade no Bloco 15, Entrada 442, Casa 12 do bairro do Cerco do Porto mas
estagiavam em paróquias diferentes: Lino Seabra, em S. Pedro de Azevedo, João
Carlos, nas Antas, Manuel Amorim, em Pedrouços e Joaquim Soares, na Senhora do
Calvário. Muito recorda quem muito viveu. Como sabe bem encontrar
“interlocutores geracionais” que sintonizam connosco e compreendem a nossa
linguagem!
No início do concerto, houve sorrisos e olhares de
contentamento quando foi dito que o Coro nasceu para manter viva a memória
cultural do Seminário do Porto e prestar homenagem ao “nosso” professor de
música, P. Luís Rodrigues. Foram notórios os mesmos sinais de regozijo, quando
foi anunciado que o Coro nasceu na igreja da Lapa por convite do P. Santos,
colega e professor de muitos dos presentes.
Ao delinear o programa para este encontro, tivemos a
preocupação de escolher motetes bem conhecidos, privilegiando aqueles cuja memória
nos chega carregada de profundas tonalidades afetivas. Abrimos com o “Rorate”,
o cântico do Advento que nos antecipava o sabor das rabanadas natalícias e o
calor da lareira de infância. Não podemos esquecer que, naquele tempo, no seminário
vivia-se em rigoroso internato que, apenas, permitia o regresso ao regaço da
família no Natal, na Páscoa e nas “férias grandes”. Cantámos também, o “Haec
dies quam fecit Dominus” (Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos
de alegria!) o «pregão» pascal que, durante o Compasso, o “Senhor Abade” (ou
seu representante) proclamava ao entrar nas casas dos paroquianos. Quantas e
quão belas recordações…
Todos procuraram acompanhar-nos: uns cantavam; outros
balbuciavam e noutros brilhava um rosto de satisfação. Foram vários os que, no
final, agradeceram e manifestaram vontade de nos ter a cantar uma das suas
Eucaristias. Da nossa parte, ficou o gosto e a disponibilidade para o fazer.
Foi um encontro de comunhão espiritual e de partilha
de memórias. E com muita emoção…( 26/6/2019)
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