O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, junho 26, 2019

NA MEMÓRIA TAMBÉM SE VIVE...



A amizade tem o condão de esbater o tempo. Quando, após longo período de ausência, os amigos se encontram, recordam os «velhos tempos» como se tivessem estado a conversar no dia anterior. Foi o que aconteceu no convívio dos membros do Coro Gregoriano do Porto com os residentes da Casa Sacerdotal, aquando do concerto que aí apresentaram no dia 31 de maio (cf. VP, 5/6/2019).
Assim, o P. Jorge falou-me do diário de Rogério Sampaio e da esperança da sua reedição. Ao ver a debilidade de D. Manuel Vieira Pinto, recordámos as “semanas pastorais” que tão bem orientou, a energia da sua palavra que enchia o “Palácio” e o carisma do seu testemunho que fazia tremer os alicerces do “Estado Novo”. Já com o P. Amorim avivei memórias do seu estágio diaconal onde ele se fez «próximo» das «periferias existenciais e geográficas» da cidade. Eram quatro diáconos. Viviam em comunidade no Bloco 15, Entrada 442, Casa 12 do bairro do Cerco do Porto mas estagiavam em paróquias diferentes: Lino Seabra, em S. Pedro de Azevedo, João Carlos, nas Antas, Manuel Amorim, em Pedrouços e Joaquim Soares, na Senhora do Calvário. Muito recorda quem muito viveu. Como sabe bem encontrar “interlocutores geracionais” que sintonizam connosco e compreendem a nossa linguagem!

No início do concerto, houve sorrisos e olhares de contentamento quando foi dito que o Coro nasceu para manter viva a memória cultural do Seminário do Porto e prestar homenagem ao “nosso” professor de música, P. Luís Rodrigues. Foram notórios os mesmos sinais de regozijo, quando foi anunciado que o Coro nasceu na igreja da Lapa por convite do P. Santos, colega e professor de muitos dos presentes.

Ao delinear o programa para este encontro, tivemos a preocupação de escolher motetes bem conhecidos, privilegiando aqueles cuja memória nos chega carregada de profundas tonalidades afetivas. Abrimos com o “Rorate”, o cântico do Advento que nos antecipava o sabor das rabanadas natalícias e o calor da lareira de infância. Não podemos esquecer que, naquele tempo, no seminário vivia-se em rigoroso internato que, apenas, permitia o regresso ao regaço da família no Natal, na Páscoa e nas “férias grandes”. Cantámos também, o “Haec dies quam fecit Dominus” (Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria!) o «pregão» pascal que, durante o Compasso, o “Senhor Abade” (ou seu representante) proclamava ao entrar nas casas dos paroquianos. Quantas e quão belas recordações…

Todos procuraram acompanhar-nos: uns cantavam; outros balbuciavam e noutros brilhava um rosto de satisfação. Foram vários os que, no final, agradeceram e manifestaram vontade de nos ter a cantar uma das suas Eucaristias. Da nossa parte, ficou o gosto e a disponibilidade para o fazer.

Foi um encontro de comunhão espiritual e de partilha de memórias. E com muita emoção…( 26/6/2019)