POR ENTRE LARANJAIS...
Por aqui passaram e lutaram gregos, cartagineses,
romanos, árabes e outros povos e guerreiros como “El Cid - Campeador”. A doçura
dos vales, povoados de hortas, contrasta com a dureza dos castelos no alto dos
montes. Confirmei-o quando visitei Morella. A fragrância das laranjeiras eleva-se
sobre uma cidade anichada entre muralhas e coroada por um inexpugnável castelo
roqueiro. O livro “Morella” fala duma ”Terra de guerras. Mil batalhas”.
Para além do castelo, mereceu-me especial atenção a
igreja de Santa Maria Maior. “É uma das mais belas igrejas góticas
valencianas”. Na fachada principal, surpreendem-nos dois pórticos, cada qual o
mais elegante. “O interior da basílica é igualmente excelso”. Destaco, pela sua
originalidade, o coro sobre um arco rebaixado e as esculturas do “transcoro”
que representam o Juízo Final. Nesta igreja, celebrou missa o “Papa Luna”,
diante do rei de Aragão, antes de se refugiar em Peñíscola.
Nesta cidade-fortaleza, debruçada sobre o mar, vale
a pena subir ao castelo dos Templários (séc. XIV) e demorar-se nas “Dependências
do Papa Luna” onde o antipapa Bento XIII viveu e morreu (1423) convencido de
que era o único papa verdadeiro. Entre os muitos textos que aqui redigiu,
merece relevo “O Livro das Consolações da Vida Humana” de que cito: “ Se não
existissem as tribulações, os homens esqueceriam o Senhor Deus e estariam contentes
com as coisas terrenas”.
Em Xátiva, dizia-me, com orgulho, um camionista
aposentado: “Não há outra cidade do Mundo que tenha tido dois papas”. E
realmente, na frente da igreja de “Santa Maria de la Seu”, erguem-se os
monumentos de Calisto III e Alexandre VI – “Os Papas Borja”. E sempre o mesmo
contraste: laranjais nos arrabaldes e, nas alturas, o castelo…
Nesta viagem por paisagens amenas, surpreenderam-me
os muitos sinais da guerra. Não só nos castelos… Já na pré-história, na pintura
rupestre “A Guerra dos Arqueiros”,
perto de Morella, há grupos humanos em luta com arcos e flechas. E, na
atualidade, as feridas da “Guerra Civil 1936-39” ainda sangram nos monumentos
que as perpetuam, num “olho por olho, dente por dente”.
Como se viu nas eleições do passado dia 28, é uma
Espanha dividida e ainda com muitos rancores. Terra de acentuados contrastes e
de exacerbadas paixões.
(8/5/2019)
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