MESTRE, COMO É BOM ESTARMOS AQUI!
Evoquei esta fala
de S. Pedro (Lc 9,33) quando, na “Festa
da Sagrada Família”, participei na Eucaristia, em S. Domingos de Silos. Foi cantada
em gregoriano. Esta melodia, embalada por ársis e tésis, eleva-nos para Deus
com imagens esbatidas da Eternidade. Foi a atração por esta música que
congregou, naquele recanto de Castela, uma enorme assembleia num ambiente de
profundo recolhimento. Como foi bom!...
“A partir da segunda metade do século XX, o mosteiro de
Silos ganhou destaque mundial com as gravações de canto gregoriano.
Só o álbum «Canto», lançado em 1994, vendeu 700 mil cópias em todo o mundo.”
Após a Missa, fascinado pela
riqueza artística do claustro, decidi mergulhar na história deste mosteiro
beneditino.
Com início obscuro no período visigótico de
que restam ainda alguns vestígios, a vida monástica tornou-se pujante no final
do primeiro milénio. Em 954, a comunidade adotou a “Regra de S. Bento”. No seu
“scriptorium”, os monges copistas produziram manuscritos notáveis de que, ainda
hoje, se conservam três exemplares, datados de 928, 945 e 970. Porém, no final
do século X, a vida do mosteiro entrou em decadência, devido às razias
muçulmanas.
Providencialmente, em 1041,
chegou São Domingos que reorganizou a abadia a que presidiu até à morte, em
1073. Toda a história de Silos ficou marcada pela sua presença. Com ele, nasceu
um grande mosteiro, com relevo para o genial claustro românico que centraliza
toda a atividade dos monges e onde convergem todos os edifícios. Foi grande a sua
atividade cultural com destaque para a escola monástica, o “scriptorium”, a
oficina de ourivesaria, a farmácia. O túmulo de S. Domingos, que se encontra na
ala norte do claustro, tornou-se um polo de peregrinações. Ao longo dos
séculos, floresceu a vida espiritual dos seus monges e a assistência aos pobres
e peregrinos. Porém, em 1835, tudo foi interrompido pela “desamortização”
imposta pelo Estado espanhol que levou à expulsão dos religiosos dos seus
conventos. A desordem que se lhe seguiu provocou grande dano ao mosteiro e ao
país. Desapareceram manuscritos preciosos, joias acumuladas ao longo de mais de
um milénio e grande parte do património artístico. A perda só não foi maior
porque, em 1880, um grupo de beneditinos franceses, orientados por um monge da
Abadia de Solesmes - famosa pela restauração do canto gregoriano, onde o
nosso saudoso P. Luís Rodrigues, da igreja da Lapa, aprofundou seus estudos - tomou conta do mosteiro e salvou-o da catástrofe
total. Recuperou o antigo prestígio e expandiu-se com a criação de novas casas
religiosas em Espanha e na América Latina. Hoje é um centro importante da Ordem
beneditina.
São mais de mil e cem anos de vida monástica
contínua apenas interrompida por um breve mas desastroso hiato de 45 anos.
Admirável!...
(19/2/2019)
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