O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, fevereiro 19, 2019

MESTRE, COMO É BOM ESTARMOS AQUI!


 

Evoquei esta fala de S. Pedro (Lc  9,33) quando, na “Festa da Sagrada Família”, participei na Eucaristia, em S. Domingos de Silos. Foi cantada em gregoriano. Esta melodia, embalada por ársis e tésis, eleva-nos para Deus com imagens esbatidas da Eternidade. Foi a atração por esta música que congregou, naquele recanto de Castela, uma enorme assembleia num ambiente de profundo recolhimento. Como foi bom!...

A partir da segunda metade do século XX, o mosteiro de Silos ganhou destaque mundial com as gravações de canto gregoriano. Só o álbum «Canto», lançado em 1994, vendeu 700 mil cópias em todo o mundo.”

Após a Missa, fascinado pela riqueza artística do claustro, decidi mergulhar na história deste mosteiro beneditino.

 Com início obscuro no período visigótico de que restam ainda alguns vestígios, a vida monástica tornou-se pujante no final do primeiro milénio. Em 954, a comunidade adotou a “Regra de S. Bento”. No seu “scriptorium”, os monges copistas produziram manuscritos notáveis de que, ainda hoje, se conservam três exemplares, datados de 928, 945 e 970. Porém, no final do século X, a vida do mosteiro entrou em decadência, devido às razias muçulmanas.

Providencialmente, em 1041, chegou São Domingos que reorganizou a abadia a que presidiu até à morte, em 1073. Toda a história de Silos ficou marcada pela sua presença. Com ele, nasceu um grande mosteiro, com relevo para o genial claustro românico que centraliza toda a atividade dos monges e onde convergem todos os edifícios. Foi grande a sua atividade cultural com destaque para a escola monástica, o “scriptorium”, a oficina de ourivesaria, a farmácia. O túmulo de S. Domingos, que se encontra na ala norte do claustro, tornou-se um polo de peregrinações. Ao longo dos séculos, floresceu a vida espiritual dos seus monges e a assistência aos pobres e peregrinos. Porém, em 1835, tudo foi interrompido pela “desamortização” imposta pelo Estado espanhol que levou à expulsão dos religiosos dos seus conventos. A desordem que se lhe seguiu provocou grande dano ao mosteiro e ao país. Desapareceram manuscritos preciosos, joias acumuladas ao longo de mais de um milénio e grande parte do património artístico. A perda só não foi maior porque, em 1880, um grupo de beneditinos franceses, orientados por um monge da Abadia de Solesmes - famosa pela restauração do canto gregoriano, onde o nosso saudoso P. Luís Rodrigues, da igreja da Lapa, aprofundou seus estudos - tomou conta do mosteiro e salvou-o da catástrofe total. Recuperou o antigo prestígio e expandiu-se com a criação de novas casas religiosas em Espanha e na América Latina. Hoje é um centro importante da Ordem beneditina.

 São mais de mil e cem anos de vida monástica contínua apenas interrompida por um breve mas desastroso hiato de 45 anos. Admirável!...

(19/2/2019)