O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, janeiro 23, 2019

NO DEALBAR DE NOVO ANO


Esta reflexão tem por base a homilia que ouvi numa igreja do Porto, em “Dia de Todos os Santos”. O celebrante apresentou o versículo “Alegrai-vos e exultai” do Evangelho como síntese da Liturgia da Palavra. Depois de informar que este foi o título que o Papa Francisco escolheu para a Exortação Apostólica “sobre o chamamento à santidade no mundo atual”, explicitou algumas das suas ideias mestras.

Logo na Introdução, o Santo Padre faz-nos um apelo: “ O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa”. E esclarece: “O meu objetivo é humilde; fazer ressoar mais uma vez o chamamento à santidade, procurando encarná-lo no contexto atual, com os seus riscos, desafios e oportunidades”. 

A concretizar esta intenção, o celebrante invocou o capítulo que fala de «Os santos ao pé da porta»: “Gosto de ver a santidade no povo de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor; nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa; nos doentes; nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade «ao pé da porta», daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus ou – por outras palavras – da «classe média da santidade».

A este propósito, invocou o pensamento de Sophia de Mello Breyner Andresen: “A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.”

Lembrei-me, então, dum texto de Maria de Lourdes Belchior:
«Hoje é dia de todos os santos: dos que têm auréola e dos que não foram canonizados. Santos barbeiros e santos cozinheiros, e porque não? mercadores, caldeireiros e arrumadores”.

No capítulo «À Luz do Mestre», o Santo Padre indica-nos caminhos: “Ser pobre no coração”; ”Reagir com humilde mansidão”; “Saber chorar com os outros”; “Buscar a justiça com fome e sede”; “Olhar e agir com misericórdia”; “Manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor”; “Semear a paz ao nosso redor”; “Abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas” – “ISTO É SANTIDADE”.

O roteiro está traçado. Basta segui-lo. O que nem sempre é fácil. A leitura integral da Exortação Apostólica poderá servir-nos de bengala nos caminhos mais pedregosos…

Durante o ano que agora começa, sejam nossos passos justos aos olhos de Deus e retos aos olhos dos homens. E todos os dias serão santos.

(23/1/2019)