UM MINUTO COM DEUS
Faz agora dois meses. Rodeada de amigos, ali
repousa, no seu leito de morte, aquela menina que eu conhecera quando, em 1962
e 1963, aluno do Seminário Maior do Porto, colaborei na realização de “colónias
de férias” para meninos do “Bairro da Sé”, na escola do Calvário – onde, em
1966, a “Obra dos Bairros” organizou colónia idêntica mas para crianças do
Cerco do Porto. Muitas raparigas de Valongo vinham colaborar nas lides
domésticas: faziam as camas; varriam as camaratas; serviam à mesa; lavavam a
louça; ajudavam na cozinha. Também apareciam rapazes para jogar futebol com a
pequenada e a ajudar à Missa - que ainda era em latim - na capela do Calvário.
A Ana Teresa e suas irmãs mais novas, além de apoiarem nas tarefas diárias,
começaram a trazer produtos agrícolas que seus pais cultivavam: batatas,
cebolas, frutas, hortaliças. Por vezes, era o pai – que foi condiscípulo de D.
Florentino - que as trazia com a mala do carro bem recheada….E que jeito nos
fazia! Éramos estudantes e nunca pedimos um tostão ao Seminário para as
colónias que realizámos, a primeira das quais foi em Albergaria das Cabras.
Valiam-nos as ofertas de instituições do Porto e as ajudas de gente generosa… E
nunca faltou nada aos meninos. Também não exigiam muito. Sentiam-se amados.
Tínhamos aprendido com o “Pai Américo” a privilegiar o essencial… Outros
tempos! Se fosse hoje…
Assim nasceu
um conhecimento que frutificou em amizade. Com seis filhos, era uma família que
me habituei a admirar. Nas férias, visitava-os em sua casa onde, muitas vezes,
pernoitei. Sua mãe, que sempre tratei por D. Arina, hoje com 103 anos,
acolhia-me com todo o carinho. É bem verdade que a família é o nosso primeiro e
mais fundamental «banco de dados”, raiz e matriz da nossa “estátua interior”.
Mais tarde, a Ana Teresa veio a casar com um jovem
que era meu amigo, desde a sua adolescência. Estive no seu casamento. A vida
continuou. E os encontros tornaram-se esporádicos: na Casa da Música; na igreja
das Antas; em concertos do Coro Gregoriano do Porto, na apresentação de livros.
Compensávamos esta ausência com os “emails” que trocávamos. O último, que dá
título a este texto, deixa-nos duas questões:
“Como podemos nós esquecer-nos de Jesus? Acreditamos
em tudo o que nos ensinam, mas sempre questionamos as coisas que vêm de Deus!
Todos queremos um dia estar com Ele, mas não nos esforçamos por O dar a
conhecer! As pessoas mandam piadas por e-mail e passam-nas para outras à
velocidade da luz. Mas quando a mensagem é de Deus, pensam duas vezes antes de
a partilhar. Tentam ser invisíveis se se trata de Jesus Cristo! Por quê?”
Ana Teresa, no “Minuto com Deus” que pedias, vou
refletir sobre as tuas perguntas derradeiras. Que Deus te recompense pelo bem
que fizeste a quantos contigo se encontraram nos caminhos da vida.
(30/1/2019)
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