CADA UM POR SI E TODOS PELO PORTO
Ao longo de duas horas, 100 protagonistas,
selecionados nas diversas freguesias do concelho de acordo com o número dos
respetivos habitantes, representaram os 214 588 habitantes do Porto. Foi
respeitada a percentagem da “pirâmide etária” da cidade: 12 (0-14 anos); 11
(15-24); 54 (25-64 anos); 23 (+65 anos): 46 homens e 54 mulheres, sendo 95
portugueses; 3 estrangeiros; 2 de dupla nacionalidade.
Excelente pela qualidade artística e pela riqueza do
conteúdo, foi uma espécie de sondagem, em direto, sobre temas de grande
pertinência. Posta a questão, cada um respondia, de forma livre e pessoal. Não
sendo possível precisar a variedade das perguntas nem a diversidade das
respostas, apresento apenas algumas das que me ficaram na memória.
À pergunta «quem frequenta a Igreja?», foi uma
minoria a que respondeu afirmativamente. O grupo tornou-se muito maior quando
se lhe juntaram aqueles que acreditam num Deus, seja ele qual for. Mas o que
mais me questionou foi o significativo número daqueles que não acreditam em
nenhum. Quão necessária é uma “igreja-em-saída”, inculturada e sem tiques
autorreferenciais!
Quanto à cidadania, muitos adultos afirmaram não
votar nas eleições. Foi muito grande o número dos que não acreditam nos
políticos. E maior ainda o que declarou confiar mais nos militares que nos
políticos. Um brasileiro, angustiado, alertou para o perigo das ditaduras
militares. Foi essa ameaça, disse, que o levou a vender tudo o que tinha no Rio
de Janeiro e vir para Portugal. Senhores políticos, isto é muito sério.
Deixem-se de “guerras de alecrim e manjerona”…
No que se refere a questões éticas, foram muitos os
que disseram que já tinham pensado em fazer aborto. E mais ainda os que
afirmaram querer decidir o momento da sua morte. Não poucos defenderam a pena
de morte. Surpreendeu -me o número dos que já pensaram em suicidar-se e os
muitos que sofreram depressões. Cidade cinzenta como o granito em que se
alicerça?
Apesar das divergências, todos, conforme o lema,
convergiam na admiração pela sua terra, como prova o «slogan» que cada um lhe
dedicou: “Pessoas genuínas com coração”; “Graniticamente invictos”; “Duro e
forte, é resistente”; “Uma cidade com caráter”; “É único”; “Alma e coração”;
“Porto é casa”; “Porto, porta aberta”; “Porto é um estado de espírito”; “O
Porto é lindo!”; “Cidade da ternura”; “Porto é um sonho”.
Mas ninguém disse que
é uma “cidade feliz”…
Uma ecografia da maneira de ser e pensar das gentes
do Porto. E quantas interrogações…
(13/2/2019)
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