O Tanoeiro da Ribeira

quinta-feira, fevereiro 14, 2019

CADA UM POR SI E TODOS PELO PORTO

 
Era este o lema do espetáculo «100% Porto», comemorativo dos 87 anos do Teatro Rivoli, que “traça o perfil demográfico e social do Porto naquele que é um autêntico mapa cartográfico vivo”. Uma radiografia antropológica merecedora dos maiores encómios.

Ao longo de duas horas, 100 protagonistas, selecionados nas diversas freguesias do concelho de acordo com o número dos respetivos habitantes, representaram os 214 588 habitantes do Porto. Foi respeitada a percentagem da “pirâmide etária” da cidade: 12 (0-14 anos); 11 (15-24); 54 (25-64 anos); 23 (+65 anos): 46 homens e 54 mulheres, sendo 95 portugueses; 3 estrangeiros; 2 de dupla nacionalidade.

Excelente pela qualidade artística e pela riqueza do conteúdo, foi uma espécie de sondagem, em direto, sobre temas de grande pertinência. Posta a questão, cada um respondia, de forma livre e pessoal. Não sendo possível precisar a variedade das perguntas nem a diversidade das respostas, apresento apenas algumas das que me ficaram na memória.

À pergunta «quem frequenta a Igreja?», foi uma minoria a que respondeu afirmativamente. O grupo tornou-se muito maior quando se lhe juntaram aqueles que acreditam num Deus, seja ele qual for. Mas o que mais me questionou foi o significativo número daqueles que não acreditam em nenhum. Quão necessária é uma “igreja-em-saída”, inculturada e sem tiques autorreferenciais!

Quanto à cidadania, muitos adultos afirmaram não votar nas eleições. Foi muito grande o número dos que não acreditam nos políticos. E maior ainda o que declarou confiar mais nos militares que nos políticos. Um brasileiro, angustiado, alertou para o perigo das ditaduras militares. Foi essa ameaça, disse, que o levou a vender tudo o que tinha no Rio de Janeiro e vir para Portugal. Senhores políticos, isto é muito sério. Deixem-se de “guerras de alecrim e manjerona”…

No que se refere a questões éticas, foram muitos os que disseram que já tinham pensado em fazer aborto. E mais ainda os que afirmaram querer decidir o momento da sua morte. Não poucos defenderam a pena de morte. Surpreendeu -me o número dos que já pensaram em suicidar-se e os muitos que sofreram depressões. Cidade cinzenta como o granito em que se alicerça?

Apesar das divergências, todos, conforme o lema, convergiam na admiração pela sua terra, como prova o «slogan» que cada um lhe dedicou: “Pessoas genuínas com coração”; “Graniticamente invictos”; “Duro e forte, é resistente”; “Uma cidade com caráter”; “É único”; “Alma e coração”; “Porto é casa”; “Porto, porta aberta”; “Porto é um estado de espírito”; “O Porto é lindo!”; “Cidade da ternura”; “Porto é um sonho”.
Mas ninguém disse que é uma “cidade feliz”…

Uma ecografia da maneira de ser e pensar das gentes do Porto. E quantas interrogações… 

(13/2/2019)