O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, novembro 23, 2016

VEJO E INTERROGO-ME...



Vi um casal de namorados sentar-se num bar, começar a clicar nos telemóveis e sair sem uma conversa. E, num restaurante, um casal com dois filhos que nunca largaram o telemóvel e os pais fizeram o mesmo. Vejo pessoas muito respeitáveis encher o facebook com selfies e cenas privadas. Li no JN (11-9-2016) que um homem foi encontrado em casa dias após a morte e ninguém o reclamou para lhe dar sepultura. E ele, só no facebook, tinha 3455 “amigos”. - Amigos?  

 Como ler tudo isto?

Em “Afinal quantos likes vale uma amizade” (Share TV Record magazine -Edição 26) a cronista sintetiza: “Outros preferem confiar nas tecnologias para criar e estreitar relações. E são inúmeros os que camuflam o ego com amizades virtuais e número de likes e visualizações, convictos de que estão mais ligados ao mundo. Pelos vistos, é ao contrário”.

Um estudo recente da Universidade João Paulo II, na Polónia, concluiu que “a sensação de solidão dos utilizadores das redes sociais está intimamente associada à quantidade de detalhes pessoais que partilham no mural, ou seja, quanto mais as pessoas se expõem mais se sentem sós”.

O diretor do Centro para Neurociência da Universidade de Chicago, afirma: “A impressão de que as redes online oferecem um mundo mais amigável e interconectado é artificial”.

Uma psicóloga explica: “Com esta necessidade crescente de estar ligado à rede social, parece crescer uma barreira entre o jovem e os outros que estão ao pé de si. Conversa-se menos e clica-se mais.”

 O Professor Joaquim Azevedo diz que as crianças “estão sempre capturadas, cada vez que pegam num telemóvel ou num tablet têm imensas coisas novas para ver” (JN,18/9/2016)

O Papa Francisco em “A Alegria do Amor”, adverte para os riscos da utilização indevida das novas tecnologias. Aos casais, depois de aconselhar a “partilhar momentos de silêncio”, diz: “Com efeito, quando não se sabe o que fazer com o tempo partilhado, um ou outro dos cônjuges acabará por se refugiar na tecnologia”(N.225). Aos pais aconselha: “Na época atual, em que reina a ansiedade e a pressa tecnológica, uma tarefa importantíssima das famílias é educar para a capacidade de esperar. Quando as crianças ou adolescentes não são educados para aceitar que algumas coisas devem esperar, tornam-se prepotentes (…) e crescem com o vício do «tudo e imediato». Este é um grande engano que não favorece a liberdade; antes, intoxica-a.” (n. 275). E exemplifica: “ Sabemos que estes meios afastam em vez de aproximar, como quando, à hora da refeição, cada um está concentrado no seu telemóvel ” (n. 278).

Devemos dar graças a Deus pelas maravilhas da técnica mas temos de ter atenção ao seu uso. Cuidado com dependências castradoras da liberdade.

.( 23-11-2016)