A propósito da “noite mais longa…”
Na sessão cultural, comemorativa do cinquentenário do Hospital de S. João, que se realizou na Igreja de S. João Novo e onde o Coro Gregoriano do Porto cantou as Vésperas de São João Baptista, o Professor Hélder Pacheco começou por afirmar que o santo da devoção das gentes do Porto é… Santo António. Pensando bem… o hospital que a Misericórdia do Porto fundou no século XVIII foi o de Santo António… O São João é o santo das festas populares, de que há menção já no século XV.
A FESTA
A memória cultural do povo permanece ao longo dos séculos, resistindo à mudança. Lembro-me de ter ouvido D. António Ferreira Gomes afirmar que algumas práticas do cristianismo popular estavam mais próximas do Livro de São Cipriano do que do Evangelho. Vinte séculos de cristianização não apagaram os mitos/ritos pré-cristãos.
Os povos aliaram aos seus mitos a realização de ritos que marcavam o ritmo da vida agrária. Estes ritos deram origem a festas que, depois, a Igreja, sabiamente, integrou no seu calendário litúrgico. Assim terá surgido a festa de São João como cristianização de festas que os povos celebravam por ocasião do solstício do Verão. E daí, as fogueiras e os folguedos de São João…
É a memória colectiva de um povo que se revê e dá significação aos seus ritos. Como diz Mircea Eliade, “o homem profano conserva ainda os vestígios do comportamento do homem religioso, mas esvaziado das significações religiosas. Faça o que fizer, é um herdeiro”. A que L. Boff acrescentou: “O Homem Moderno é também sacramental. Não cremos que o homem moderno tenha perdido o sentido pelo simbólico”.
Objecto entre objectos, número entre números, o homem procura emancipar-se como pessoa. Exige-o o seu equilíbrio psicológico e a sua dignidade ontológica. Constrói significações, cria distanciações. Afasta-se do quotidiano que o limita e, por vezes, sufoca. Recorre ao simbólico. Para isso, a Festa. Esta reintroduz o passado descontínuo na continuidade do presente. Reactualiza os tempos primordiais que falam de paz, fraternidade, felicidade. Torna o homem contemporâneo dos seus antepassados. A Festa é o passado bom e feliz, eternamente presente. Em dia de festa nada falta. Mesmo nas casas mais pobres, a mesa enche-se. Mesmo em tempos de crise, o São João acontece. A Festa é o tempo do supérfluo. E é este que dá gosto à vida. O homem não aguenta o constantemente igual, não se contenta com o estritamente necessário. A Festa é a libertação, o diferente, o cíclico em função do qual o quotidiano rotineiro ganha significação e se torna suportável. O que seria a vida sem a Festa?
Se a festa é necessária para as pessoas também o é para a sociedade como identitária e agente de comunidade. O São João mantém viva a força agregadora das comunidades mais antigas E ajuda a criar laços de vizinhança em comunidades mais recentes. Este ano, passei a noite de São João numa zona habitacional nova, em Valongo. E surpreendi-me com centenas de balões que a brisa marítima tocava para nascente. Foguetes estrelejavam por todo o vale, num ritmo de concorrência e convivência entre antigas e novas comunidades. Os vizinhos, mesmo em zonas residenciais recentes, conviviam na dança, na sardinha assada, no lançamento de foguetes e balões. O arraial cria novas relações de vizinhança e favorece o seu acolhimento pelas comunidades já estabelecidas.
A Festa é factor de realização pessoal e de integração social.
A FESTA
A memória cultural do povo permanece ao longo dos séculos, resistindo à mudança. Lembro-me de ter ouvido D. António Ferreira Gomes afirmar que algumas práticas do cristianismo popular estavam mais próximas do Livro de São Cipriano do que do Evangelho. Vinte séculos de cristianização não apagaram os mitos/ritos pré-cristãos.
Os povos aliaram aos seus mitos a realização de ritos que marcavam o ritmo da vida agrária. Estes ritos deram origem a festas que, depois, a Igreja, sabiamente, integrou no seu calendário litúrgico. Assim terá surgido a festa de São João como cristianização de festas que os povos celebravam por ocasião do solstício do Verão. E daí, as fogueiras e os folguedos de São João…
É a memória colectiva de um povo que se revê e dá significação aos seus ritos. Como diz Mircea Eliade, “o homem profano conserva ainda os vestígios do comportamento do homem religioso, mas esvaziado das significações religiosas. Faça o que fizer, é um herdeiro”. A que L. Boff acrescentou: “O Homem Moderno é também sacramental. Não cremos que o homem moderno tenha perdido o sentido pelo simbólico”.
Objecto entre objectos, número entre números, o homem procura emancipar-se como pessoa. Exige-o o seu equilíbrio psicológico e a sua dignidade ontológica. Constrói significações, cria distanciações. Afasta-se do quotidiano que o limita e, por vezes, sufoca. Recorre ao simbólico. Para isso, a Festa. Esta reintroduz o passado descontínuo na continuidade do presente. Reactualiza os tempos primordiais que falam de paz, fraternidade, felicidade. Torna o homem contemporâneo dos seus antepassados. A Festa é o passado bom e feliz, eternamente presente. Em dia de festa nada falta. Mesmo nas casas mais pobres, a mesa enche-se. Mesmo em tempos de crise, o São João acontece. A Festa é o tempo do supérfluo. E é este que dá gosto à vida. O homem não aguenta o constantemente igual, não se contenta com o estritamente necessário. A Festa é a libertação, o diferente, o cíclico em função do qual o quotidiano rotineiro ganha significação e se torna suportável. O que seria a vida sem a Festa?
Se a festa é necessária para as pessoas também o é para a sociedade como identitária e agente de comunidade. O São João mantém viva a força agregadora das comunidades mais antigas E ajuda a criar laços de vizinhança em comunidades mais recentes. Este ano, passei a noite de São João numa zona habitacional nova, em Valongo. E surpreendi-me com centenas de balões que a brisa marítima tocava para nascente. Foguetes estrelejavam por todo o vale, num ritmo de concorrência e convivência entre antigas e novas comunidades. Os vizinhos, mesmo em zonas residenciais recentes, conviviam na dança, na sardinha assada, no lançamento de foguetes e balões. O arraial cria novas relações de vizinhança e favorece o seu acolhimento pelas comunidades já estabelecidas.
A Festa é factor de realização pessoal e de integração social.
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