A ALEGRIA de ser professor
Eu sei. Há alunos que infernizam o nosso trabalho; há pais que maltratam professores; há um Ministério que, à custa de nos embrulhar em resmas de papel, subalternizou o prazer de ensinar. Não nos deixemos abater: “não me ofende quem quer; só me ofende quem eu deixo.” Lembremo-nos que os alunos, na sua grande maioria, são educados e simpáticos; a maioria dos pais agradece a nossa ajuda na formação dos filhos. Foi gratificante ver, na véspera do “Corpo de Deus”, em Penafiel, as crianças das escolas básicas e jardins-de-infãncia das 38 freguesias penafidelenses desfilarem com o carneirinho que oferecem à professora, mantendo viva uma tradição que vem desde 1880. Não há nada nem ninguém que possa roubar-nos a satisfação interior que sentimos em certos momentos de realização pessoal. É uma dessas vivências que quero partilhar convosco.
Todos os meus alunos de Filosofia do 10º ano, para desenvolver o espírito crítico e o diálogo maiêutico, realizaram trabalhos de grupo sobre “Os Direitos das Mulheres como Direitos Humanos”. Um dos grupos abordou a “violência doméstica”. Depois de exporem o trabalho na aula, cada aluno, por iniciativa própria, rematou a intervenção com um comentário pessoal a uma notícia que seleccionara. Não esqueçamos: são adolescentes de 15 anos. Deixo-vos com esses juízos.
Notícia - “A primeira violentação que sofri, a minha filha gritava, parecia que ela estava a sentir a dor.”
Juízo de valor - Alguns homens aproveitam-se da sensibilidade e da fraqueza das suas esposas para se assumirem como “homens”. As crianças são os sujeitos que mais prejudicados saem do conflito entre marido-esposa, pois sentem na pele a dor da mãe e cresce a revolta contra os pais. A sua vivência quotidiana num espaço de violência traz consequências para o seu futuro. Como é possível que uma criança cresça e aprenda num ambiente asfixiante?”
“Em Bragança, uma grávida perdeu o filho, presumivelmente como consequência de alegadas agressões violentas por parte do companheiro.”
Como pode alguém julgar-se no direito de agredir a sua parceira e colocar em risco a sua gravidez, fazendo-a perder o seu filho? A sociedade padece de uma doença causada pela crise de valores. A violência é algo que me preocupa. Apenas quando as pessoas reavaliarem a sua forma de viver em sociedade e aquilo que são as suas considerações acerca dos direitos humanos é que poderemos considerar a hipótese de um fim a esta enfermidade social.
“Mulheres continuam a ser vítimas de violência no seio do lar”.
Tudo começa pela falta de respeito que as pessoas têm umas pelas outras. No início, é troca de palavras e uso de calão para qualificar a vítima. Depois, seguem-se os primeiros “apertões” que faz com que esta se deixe manipular, e, por fim, a agressão física e a constante violação à base emocional da vítima que vive escravizada. É triste saber que, apesar da evolução em que vivemos, cada vez mais a mentalidade recua e tende a piorar pois o respeito não está na base da educação (pois não?).”
Concluindo…
Fiquei feliz ao ouvi-los. Penso que a satisfação que sinto quando os meus alunos adolescentes dão os primeiros passos no caminho da reflexão filosófica é análoga à de um professor/a ao ouvir os seus pequeninos a soletrar as primeiras letras. É pouco? Mas é de coisas pequeninas que é feita a alegria de sermos professores. Utopia? Poderá haver VIDA sem utopia?
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