'UM CRISTÃO LAICO'
Faleceu faz hoje dois meses.
“Outros tempos… ”- disse-me o amigo Ribeiro da Silva após ter lido a caixa de primeira página da VP (19/9) “CEP lembra vida plena de humanidade de Jorge Sampaio” e o comunicado da página 14: “Uma vida dedicada à solidificação da democracia, à defesa dos direitos humanos e ao serviço da causa pública.” E eu confessei o meu agrado por ter visto D. Manuel Clemente no seu velório.
Entre os muitos testemunhos, um houve, publicado em 7Margens (24/9), que mereceu especial atenção. Foi escrito por Fernando Gomes da Silva, seu amigo desde o ensino primário, que o acompanhou nas lutas académicas da década de sessenta e na vida política como membro do XIII Governo Constitucional.
Provocado pelo título – “Jorge Sampaio, um cristão laico” – fui em busca da justificação e encontrei-a nestas palavras:
“Era um “laico cristão” em tudo o que esta expressão possa ter de estranho, mas inteiramente verdadeiro. Era laico, referindo-o de si próprio, sem nunca o ter ouvido dizer ser agnóstico. Era cristão pelo seu exemplo de vida, pessoal e pública, como muitos testemunhámos, aqueles que viveram atentos à coisa pública nos últimos 30 anos. Como escreveu Leonete Botelho no Público (dia 10 do corrente) ‘Jorge Sampaio conseguiu fazer todo o seu longo percurso de vida pública e brilhante desempenho político sem ceder ao cinismo nem abdicar do humanismo e do sentido de missão que deve nortear a política’. Não existirão muito mais fortes expressões para qualificar as virtudes cristãs de um político”.
Para confirmar estas suas afirmações, realça, entre outros factos bem conhecidos, “o seu labor, enquanto presidente da Câmara Municipal de Lisboa, deixando a marca indelével para o fim dessa chaga social que era, à data, o Casal Ventoso e as suas barracas. Terminar com as condições degradantes de habitabilidade que aí se viviam, transferindo as suas populações para uma habitação condigna, é uma tarefa profundamente cristã”.
E reforça a sua convicção com a consonância entre a vida do amigo e as palavras do Papa Francisco:
“Jorge Sampaio demonstrou, permanentemente, ao longo da sua vida pública, esta constante preocupação com “o outro”, escolhendo sempre os mais desprotegidos, os mais pobres, os mais débeis socialmente, ao fim e ao cabo, aqueles que não têm vez, nem voz. Os pobres tão incessantemente lembrados pelo Papa Francisco. Síntese maravilhosa de vida em benefício do outro”.
A terminar, enfatiza:
“E tudo isto vem de um Homem que se afirma laico. Que grande lição de cristianismo, na linha da mais pura doutrina. É na carta de S. Tiago (Tg, 2, 17,18) que podemos ler “Assim também a Fé: se ela não tiver obras está completamente morta. Mais ainda poderá alguém alegar sensatamente: Tu tens a Fé, e eu tenho as obras; mostra-me então a tua Fé sem obras, que eu pelas minhas obras te mostrarei a minha Fé”.
E conclui: “Jorge Sampaio, talvez sem nunca se ter apercebido, era afinal um Homem de Fé. Um laico cristão!!!”
E eu fiquei a pensar no alerta que o Papa Francisco nos deixa, no número 74 da ‘Fratelli Tutti’: “ O paradoxo é que, às vezes, quantos dizem que não acreditam podem viver melhor a vontade de Deus do que os crentes”. (10/11/2021)
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