'UM ESTRANHO NO CAMINHO'
No Capítulo II da ‘Fratelli Tutti’, o Papa Francisco, “com a intenção de procurar uma luz no meio do que estamos a viver”, indica um caminho luminoso mas bem difícil.
“Conta Jesus que havia um homem ferido, estendido por terra no caminho, que fora assaltado. Passaram vários ao seu lado, mas… foram-se, não pararam. Eram pessoas com funções importantes na sociedade, que não tinham no coração o amor pelo bem comum. Não foram capazes de perder uns minutos para cuidar do ferido ou, pelo menos, procurar ajuda. Um parou, ofereceu-lhe proximidade, curou-o com as próprias mãos, pôs também dinheiro do seu bolso e ocupou-se dele. Conseguiu deixar tudo de lado à vista do ferido e, sem o conhecer, considerou-o digno de lhe dedicar o seu tempo” (cf. Lc 10,25-37).
E lança-nos «uma pergunta sem rodeios, direta e determinante:». - “ Com quem te identificas? A qual deles te assemelhas?”
Apesar de vivermos num tempo que muito progrediu nos conhecimentos e nas técnicas, ”somos analfabetos no acompanhar, cuidar e sustentar os mais frágeis e vulneráveis. Habituamo-nos a olhar para o outro lado, a passar à margem, a ignorar as situações até elas nos caírem diretamente em cima”. E concretiza: “assaltam uma pessoa na rua, e muitos fogem como se não tivessem visto nada. Sucede, muitas vezes, que pessoas atropelam, alguém com o seu carro e fogem. Pensam só em evitar problemas…”
Ao caracterizar as personagens da parábola do «bom samaritano», acentua que “nas pessoas que passam ao largo, há um detalhe que não podemos ignorar, eram pessoas religiosas. Mais ainda, dedicavam-se a prestar culto a Deus. Isto é uma forte chamada de atenção. Indica que o facto de crer em Deus e o adorar não é garantia de viver como agrada a Deus”. E conclui: “O paradoxo é que, às vezes, quantos dizem que não acreditam podem viver melhor a vontade de Deus do que os crentes”.
Alerta que muitas vezes podemos ser cúmplices com os salteadores como “aqueles que ‘passam pelo caminho’ olhando para o outro lado. O círculo encerra-se entre aqueles que usam e enganam a sociedade para chupá-la, e aqueles que julgam manter a pureza na sua função crítica, mas ao mesmo tempo vivem desse sistema e seus recursos.” Àqueles que se escudam no «tudo está mal, ninguém o pode consertar», responde: “É possível começar por baixo e, caso a caso, lutar pelo mais concreto e local, até ao último ângulo da pátria e do mundo”.
No subcapítulo “O próximo sem fronteiras”, conclui “Este encontro misericordioso entre um samaritano e um judeu é uma forte provocação, que desmente toda a manipulação ideológica, desafiando-nos a ampliar o nosso círculo, a dar à nossa capacidade de amar uma dimensão universal capaz de ultrapassar todos os preconceitos, todas as barreiras históricas ou culturais, todos os interesses mesquinhos”.
Termina com uma recomendação: “É importante que a catequese e a pregação incluam, de forma mais direta e clara, o sentido social da existência, a dimensão fraterna da espiritualidade, a convicção sobre a dignidade inalienável de cada pessoa e as motivações para amar e acolher a todos”. (6/10/2021)
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