O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, abril 14, 2021

OS CATÓLICOS E A 'CAUSA PÚBLICA' - I

Na década de cinquenta, os organismos juvenis da Ação Católica formaram uma geração que veio a dar cartas no mundo do trabalho, da cultura e da política. Desses vultos maiores, quero destacar Maria de Lourdes Pintasilgo que, se fosse viva – faleceu em 10 de julho de 2004 - teria feito 91 anos no passado dia 18 de janeiro. Como escreveu Teresa Vasconcelos, em “7Margens”, foi uma figura luminosa, criativa e criadora, empenhada política e socialmente, uma das fundadoras do Movimento do Graal em Portugal. Era intelectualmente brilhante, com uma informação sempre atualizada acerca dos grandes problemas mundiais, ciente dos desequilíbrios sociais, da profunda desigualdade entre homens e mulheres. Uma mulher cidadã.” Nascida em Abrantes, aos sete anos acompanhou a família que se mudou para Lisboa onde realizou todo o currículo académico. Em dois anos consecutivos, obteve o Prémio Nacional de melhor aluno do Secundário. Em 1953, com 23 anos, licenciou-se em Engenharia Químico-Industrial. Era uma das três raparigas do seu curso num universo de 250 alunos. Aluna brilhante, presidiu, entre 1952 e 1956, à Juventude Universitária Católica Feminina. Foi copresidente do I Congresso Nacional da Juventude Universitária Católica. Foi eleita, por aclamação, para presidente internacional da Pax Romana – Movimento Internacional de Estudantes Católicos (1956 e 1958). Nessa qualidade, ao longo do ano de 1957, presidiu ao I Seminário de Estudantes Africanos, no Gana; à Assembleia-Geral do movimento realizada em El Salvador. Em 1958, presidiu, em Viena, ao Congresso Mundial de Estudantes e Intelectuais Católicos. “Era uma mulher de cultura. Abriu portas à participação original das mulheres na vida pública. O princípio fundador da sua vida era, sem dúvida, a ética. Uma ética cidadã. Enquanto primeira-ministra – uma das primeiras da Europa – e nos três meses de um “governo provisório”, usou esse tempo limitado para, de forma comprometida, deixar as suas marcas: os estatutos das Instituições Privadas de Solidariedade Social e dos Jardins de Infância, o passe social, entre outros. Deu-se inteira a esta ‘missão’ apesar da descrença de muitos cidadãos, da desinformação vinculada pela imprensa. Era mulher e isso bastava.” E católica, acrescento eu. Em 1986, foi candidata independente à Presidência da República. Apesar do seu enorme prestígio e da onda de entusiasmo que suscitou em várias camadas do povo português, não passou à 2ª volta, derrotada pelas bem oleadas máquinas partidárias que apoiavam os outros candidatos. Internacionalmente foi reconhecida: nas Nações Unidas, na UNESCO (de que foi embaixadora), no Conselho Europeu, no Conselho Internacional de ex-Chefes de Governo. Deixou muitos escritos de intervenção social e de análise política. E também teológicos e de espiritualidade. Amava a poesia. Profundamente cristã, era uma mulher do Evangelho. Fez parte duma plêiade de cristãos que muito honra a Igreja e a quem o País muito deve. Temos obrigação de a lembrar. Fora ela de outros quadrantes políticos, e sua memória seria bem mais relembrada… (14/4/2021)