A VERDADE É COMO O AZEITE...
No dia em que a VP anunciava a inauguração, na cidade do Porto, do “primeiro Museu do Holocausto da Península Ibérica”, o meu amigo Mané escrevia no facebook: “27 de janeiro- Dia Internacional em memória das vítimas do Holocausto. ‘Fotografias, façam filmes, reúnam testemunhos. Em algum ponto da História, um idiota vai erguer-se e dizer que isto nunca aconteceu’ (General Eisenhower). Para jamais esquecer.”
Este apelo, fez-me recordar o aforisma afixado à entrada do campo de concentração de Auschwitz, na Polónia: “Aqueles que não podem lembrar o passado, estão condenados a repeti-lo”. Estima-se que, nessa ‘fábrica da morte’, foram assassinados um milhão e trezentos mil prisioneiros, mas não é possível saber-se o número exato. É que, ao descer do comboio, eram examinados pelos médicos nazis e os que não serviam para ‘bestas de trabalho’, como deficientes, doentes, crianças, velhos, mulheres grávidas e com bebés, seguiam logo para a câmaras de gás, sem qualquer registo. Os outros iam para os campos de “trabalho escravo” onde morriam de “morte lenta”. Quando, em 2013, o visitei, senti um estremecimento geral. Fazia-se silêncio em todas as vozes e, nalguns olhos, brilhavam lágrimas. De dor e de vergonha. Que animal é o homem? Como foi possível? Horrível. Há imagens que jamais esqueceremos.
Nesse mesmo dia, através do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura tive conhecimento da publicação do livro “Pio XII e gli Ebrei” (Pio XII e os Judeus), assinado por Johan Ickx. Como “diretor do Arquivo da Secção para as Relações com os Estados da Secretaria de Estado da Santa Sé, pôde consultar e estudar documentação inédita nunca antes publicada, e reconstruir assim a intensa atividade realizada por Pio XII e pelos seus mais estreitos colaboradores para procurar salvar milhares de pessoas de origem judaica das deportações nazis”
«Os documentos inéditos de Pio XII contrariam a falsa narração aceite precedentemente por muitos», escreve Ickx. O papa, com efeito, «organizou uma rede de vias de fuga para as pessoas em perigo e supervisionava uma rede de sacerdotes que operava em toda a Europa com um único objetivo: salvar vidas onde fosse possível».
“É a denominada lista de Pio XII, isto é, a "série Judeus" do Arquivo histórico da Secretaria de Estado. Uma série que contém cerca de 2800 pedidos de intervenção ou de ajuda, e que atesta o quanto a sorte daquela pobre gente estava no coração do papa. Mostra o destino de mais de 4000 judeus. Nem sempre foi possível salvar todos, mas a "série Judeus" «demonstra para além de qualquer dúvida razoável - afirma Icks - que Pio XII e os seus colaboradores fizeram todo o possível para oferecer assistência inclusive àqueles que professavam a fé judaica».
Espero que estes trabalhos de investigação reponham a verdade e retirem o labéu lançado, em 1963 pela peça de teatro «O representante» de Rolf Hochtruch, onde surgia a imagem dum Pio XII, silencioso, senão cúmplice, face ao extermínio de milhões de Judeus.
“A verdade é como o azeite, vem sempre à tona.”, mas a nódoa do azeite expande-se e não é fácil de tirar…… ( 17/2/2021)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home