AROMAS PASCAIS
No dia 20 de fevereiro, o Papa Francisco visitou, na sua casa em Roma, Edith BrucK - sobrevivente do Holocausto a quem chamou ‘luz na escuridão’- para agradecer “o seu testemunho e prestar homenagem ao povo mártir da loucura do populismo nazi”.
Nesse mesmo dia, estava eu a ler (in Fátima Silva, “Mulheres de Garra”) a biografia da heroína polaca que, um dia, disse: “A razão pela qual resgatei as crianças tem origem no meu lar, na minha infância. Fui educada na crença de que uma pessoa necessitada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou nacionalidade”.
Ficou conhecida como “A Mãe das crianças do Holocausto” e “O Anjo do Gueto de Varsóvia”?
Chamava-se Irena Sendler e era assistente social em Varsóvia. Trabalhava com enfermeiras e organizava espaços de refeição comunitários para os mais necessitados. Fornecia roupas e medicamentos aos judeus confinados no gueto de Varsóvia. Até à evacuação do gueto no Verão de 1942, conseguiu resgatar mais de 2500 crianças. Recolhia-as em ambulâncias como vítimas de tifo, mas logo se valia de todo o tipo de subterfúgios para os esconder: sacos, cestos de lixo, caixas de ferramentas, carregamentos de mercadorias, sacos de batatas, caixões... Nas suas mãos, qualquer elemento se transformava num instrumento de fuga.
Como?
“Consegui identificações do gabinete sanitário, entre cujas tarefas estava a luta contra as doenças contagiosas. Mais tarde tive êxito ao conseguir passes para outras colaboradoras. Como os alemães invasores tinham medo de que ocorresse uma epidemia de tifo, permitiam que os polacos controlassem o recinto.”
Apesar de todo o seu cuidado, foi descoberta em 20 de outubro de 1943. Presa pela Gestapo, foi brutalmente torturada. Na prisão, encontrou uma pequena pagela de Jesus Misericordioso com a inscrição: "Jesus, em Vós confio". Conservou-a consigo e, em 1979, ofereceu-a ao Papa João Paulo II.
Era a única que sabia os nomes e moradas das famílias que acolheram crianças judias. Suportou as piores torturas, mas nunca traiu os seus colaboradores nem as crianças ocultas. Quebraram-lhe os ossos dos pés e das pernas, mas não a energia da alma nem a resistência da vontade. Foi condenada à morte. Enquanto esperava pela execução, um soldado alemão levou-a para um "interrogatório adicional". Ao sair, gritou-lhe em polaco "Corra!". E ela assim fez. No dia seguinte, o seu nome constava da lista de polacos executados. Continuou a trabalhar com uma identidade falsa.
Em 1944, durante o revolta de Varsóvia, colocou as suas listas em dois frascos de vidro e enterrou-os no jardim de uma vizinha para se assegurar de que chegariam às mãos indicadas se ela morresse. Ao acabar a guerra, desenterrou-os e entregou as notas ao primeiro presidente do comité de salvação dos judeus sobreviventes.
Morreu com uma pneumonia, em Varsóvia (12/5/2008) com 98 anos de idade.
Em 1965, a organização Yad Vashem de Jerusalém distinguiu-a com o título de “Justa entre as Nações”, o mesmo que honra o nosso Aristides de Sousa Mendes.
“No primeiro dia da semana, muito cedo, (as mulheres que tinham vindo com Jesus da Galileia), dirigiram-se ao sepulcro com os aromas que haviam preparado. (Lc, 24,1)”
‘Luz na escuridão - Mãe das crianças do Holocausto - Anjo do Gueto de Varsóvia -Justa entre as Nações’ (7/4/2021)
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