ERAM TEMPOS NOVOS E CONTRIVERSOS...
Em 26 de dezembro, fez sete anos que faleceu o Dr. Albino Aroso, “pai do planeamento familiar e um dos fundadores da Associação Portuguesa para o Planeamento Familiar” (Público), a quem foi atribuído, em 2006, o «Primeiro Prémio Nacional de Saúde» pelos “contributos inequívocos, prestados no decurso do seu longo desempenho profissional“.
Esta evocação fez-me rebobinar a fita do tempo até à década de sessenta, entre 1964 e 1967, e recordar as «semanas pastorais», no seminário da Sé, orientadas pelo nosso bem querido P. Manuel Vieira Pinto, depois, bispo de Nampula.
Numa dessas semanas, foi convidado o P. Felicidade Alves, pároco de Belém, em Lisboa, que valorizou a organização centro-capilar da paróquia e a delegação de competência nos leigos. Era o gérmen do “Conselho Paroquial” que foi tema do Colóquio Europeu de Paróquias de 1971, em Estrasburgo, onde participaram párocos de várias dioceses portuguesas. Lembro os padres Joaquim e Orlando, párocos das Antas e de Cedofeita, no Porto; Armindo e João, párocos de Santa Isabel e dos Anjos, em Lisboa e, de Lamego, o P. Justino, pároco de Nespereira / Cinfães, e o cónego Rafael que, depois, foi bispo de Bragança-Miranda (1979/2001).
Numa outra semana, o convidado foi o Dr. Albino Aroso que falou sobre um assunto, então, de grande premência.
A divulgação da pílula como método contracetivo levantara muitas dúvidas e enorme confusão sobre as suas incidências na saúde e na ética. Os sacerdotes debatiam-se com muitas incertezas e inseguranças. Reinava uma enorme confusão. E os fiéis ficavam perturbados face a comportamentos contraditórios que encontravam no confessionário. Havia confessores que não tinham pejo em negar, pura e simplesmente, a absolvição a quem o usasse. Quanta angústia…E quantos abandonos…
Foi nesse contexto que se enquadrou a palestra do prestigiado especialista. Depois de apresentar números assustadores da mortalidade infantil e de mulheres mortas em consequência de abortos, falou sobre a necessidade do ‘planeamento familiar’. Entre os diversos métodos anticoncetivos, afirmou que o da pílula era o mais eficaz e, na sua opinião, não contrariava os princípios da moral cristã. Após muitos e pertinentes esclarecimentos, confessou que não tinha qualquer problema de consciência em o prescrever. No entanto, avisou que, como qualquer medicamento, não deveria ser tomado sem conselho médico. As suas palavras eram absorvidas por uma assembleia de padres a quem esta problemática trazia preocupados.
No final a encerrar, D. Florentino, que assistiu a toda a sessão, disse que a pílula era um problema de ordem médica em que os sacerdotes não tinham que se meter mas “deviam orientar as pessoas para um médico com boa consciência cristã”.
O saber do médico especialista e a autoridade do Administrador Apostólico, com múnus e ónus de bispo residencial, foram bálsamo para uma assembleia de consciência inquieta. A “Humanae Vitae” só seria publicada em 25 de julho de 1968.
Viviam-se tempos de intensa procura e de enorme preocupação pastoral. (3/3/2021)
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