O Tanoeiro da Ribeira

quinta-feira, setembro 12, 2019

EM CONTRAPONTO...



Alguma comunicação social parece que se compraz em denegrir determinados “bairros camarários”, explorando até á exaustão o mal e silenciando o bem que neles se faz. Em contraponto, quero prestar homenagem a um desses bairros, o Cerco do Porto, onde mora muito boa gente, e faço-o a propósito do 53º aniversário do seu clube de pesca.

Quando em 1964, a Obra Diocesana aí iniciou o seu trabalho comunitário, logo um grupo de moradores mostrou interesse em criar um clube que agregasse os apaixonados pela pesca desportiva. A Obra intercedeu junto do Dr. Nuno Pinheiro Torres, presidente da Câmara, que lhes cedeu a cave no bloco 2 onde, ainda hoje, funciona a sua sede. Gerido desde a sua criação por gente do bairro, goza de plena autonomia, sem exclusivismos nem discriminações.

Ao longo de mais de meio século, como disse o seu presidente na festa do último aniversário, “o Clube ocupou a sua atividade entre o trabalho dentro de portas e o praticado fora, na pesca. Promovemos vários colóquios sobre pesca de competição; participámos em centenas de provas federadas a nível regional e nacional, organizámos provas de carácter nacional, cada uma delas com centenas de pescadores; um pescador do clube representou a Cidade do Porto numa prova internacional”.

Para além destes êxitos desportivos, o Clube é uma força integradora dos seus moradores, de acordo com a matriz inclusiva que esteve na sua origem. O seu mais novo associado é um jovem de etnia cigana que, quando vivia no bairro de S. João de Deus, colaborou com o centro social: dá gosto ouvi-lo falar da sua paixão pela leitura e é comovente o carinho que dedica à esposa e suas duas filhas.

Mas o que mais me encanta neste clube é a simpatia exemplar da sua gratidão.

A data oficial da criação do Clube, 15 de agosto (1966), foi assumida em memória do dia da primeira missa celebrada no bairro por D. Florentino em 1964. Um dos seus pescadores que, segundo a vizinhança “quando via um padre mudava de passeio”, fez e ofereceu o sacrário para a capela do bairro em 1966.”Não frequentava a igreja mas era assíduo no clube de pesca. Sagradas são as pessoas e não os locais. São elas que fazem a Igreja e não as pedras. A Igreja é o povo de Deus que, pelos caminhos dos homens, peregrina para o Pai.”( No Princípio foi assim…)

Nomearam sócio - honorário do clube o responsável da então “Obra dos Bairros”. No 20º aniversário (1986), presidiu à cerimónia de entrega de prémios do “II Grande Concurso Nacional de Pesca Desportiva de Rio”. Sempre o convidam para a festa de aniversário e, ainda este ano, lhe ofereceram uma salva que dizia: “Pelo muito que fez desde 1966 até hoje pelo clube, a nossa perene gratidão”. E tudo isto só porque foi o rosto da Obra que patrocinou a sua criação. Muito pouco para tanta gentileza.

Gente de bem que cultiva a memória e sabe agradecer…(11/9/2019)