O Tanoeiro da Ribeira

quinta-feira, julho 18, 2019

A ROTA CISTERCIENSE (II) - VALLBONA



Este mosteiro feminino, uns dos maiores do Mundo, teve a sua origem num eremitério fundado pelo anacoreta Ramon, o “Vallbona”. Em 1173, decidiu transformá-lo num cenóbio e incorporá-lo na linha feminina da Ordem de Cister.

Pouco a pouco o mosteiro, com doações da nobreza local e o apoio da coroa da Catalunha-Aragão, foi aumentando o seu património. No início do século XIII, recebeu a proteção da Sé Apostólica.

No século XVI, o Concílio de Trento mandou que os conventos de religiosas, em locais ermos, fossem trasladados para junto das povoações para evitar roubos e profanações. A abadessa, em vez de deslocar o mosteiro, convidou os habitantes das redondezas a viver dentro das suas muralhas, oferecendo-lhes terras e terrenos para as casas. Assim, nasceu a atual Vallbona de les Monges

Mesmo assim, por diversas vezes, as monjas tiveram que abandonar o mosteiro. Aconteceu em 1809, quando as tropas francesas saquearam a igreja paroquial. Por precaução, as religiosas voltaram para suas casas. Também o fizeram em 1835, quando foram queimados alguns mosteiros em Madrid e em Barcelona. Porém, foi durante a Guerra Civil (1936-1939) que o mosteiro sofreu os maiores ataques de toda a sua história. As monjas abandonaram o mosteiro, na noite de 23 de julho de 1936 (faz 83 anos, na próxima 3ª feira,) e, passados cinco dias, os revolucionários queimaram os retábulos, imagens, imobiliário, roupas e objetos litúrgicos que tinham recolhido no seu interior. E ainda lançaram o fogo ao cadeiral do coro gótico, aos bancos de nogueira da sala capitular, ao retábulo gótico do claustro. “De maneira absurda desapareceu entre as chamas um importante património cultural que tinha sido respeitado em todas as ocasiões anteriores.” Feridas…que ainda sangram.

A recuperação dos diversos elementos artísticos que não tinham perecido salvou algumas talhas e imagens que ainda hoje causam admiração.

Em 2 de fevereiro de 1939, regressaram as primeiras três monjas. Atualmente, são oito as que o habitam.

A visita leva-nos a contemplar o seu rico património artístico. Destaco o claustro onde convergem as principais instâncias monásticas, como a cozinha, o refeitório, e o “scriptorium”. De planta trapezoidal, o que o torna único, começou a ser construído pela galeria sul, nos finais do século XII. Também de estilo românico é o lado nascente, século XIII. A nave norte é de estilo gótico (século XIV) e a do oeste é neorromânica do século XV, o que não deixa de ser surpreendente. A joia arquitetónica, porém, é o magnífico zimbório da igreja, romano-gótico. Na estatuária, o tímpano (século XIII) do portal da igreja com a patrona do mosteiro, Santa Maria, e a imagem da “Mare de Déu del Cor” (século XIV) são as obras mais valiosas da escultura românica.

Percorrê-lo, é mergulhar na história. Sentimo-nos contemporâneos de outras eras…

(17/7/2019)