PELA DIGNIFICAÇÃO DOS POVOS COLONIZADOS - (V) - CABO VERDE
Neste arquipélago atlântico, termino o meu périplo histórico pelos ‘bispos missionários reformadores que têm em comum uma ligação à Diocese do Porto’.
• D. Faustino Moreira dos Santos - Chega-me do mais fundo da infância a memória deste bispo que nasceu (29/5/1885) no lugar de Moreira, em Gandra, Paredes. Da Congregação do Espírito Santo, como D. Moisés, foi bispo de Cabo-Verde de 1941 a 1955.
“D. Faustino e aqueles que o acompanharam foram considerados os verdadeiros protagonistas do reerguer do Cabo Verde católico. Foi apóstolo e missionário-“
• P. Augusto Nogueira de Sousa - Conterrâneo de D. Faustino, partiu para Cabo Verde em 1943 e aí trabalhou até 1978, chegando a ser Administrador Apostólico. Privilegiou a formação de clero local e muito se preocupava com o ensino e a educação no arquipélago.
A cordialidade e a cultura granjearam-lhe o respeito de todas as autoridades do Arquipélago. No período de transição da soberania portuguesa para o PAIGC, foi um interlocutor privilegiado no diálogo da Igreja com as novas autoridades. “Foram tempos difíceis, mas, se a Igreja hoje em Cabo Verde goza de um certo respeito e liberdade de acção, a ele muito o deve.”
Quando ouço louvar o regime cabo-verdiano como um exemplo de democracia nos PALOPs, penso que será, ainda, um fruto das sementes de fraternidade lançadas pelo Pe. Augusto.
• D. Paulino Évora - Conheci-o, era, então, seminarista espiritano, na casa paroquial de Campo/Valongo. onde o pároco, P. Joaquim, acolhia os seminaristas cabo-verdianos como ‘filhos’ do seu irmão Augusto.
Ordenado presbítero em 1962, foi o primeiro bispo cabo-verdiano e o primeiro de Cabo Verde independente.
Aquando da sua morte (16/6/2019), foi enaltecida a sua importância:
. Para o País: O Governo decretou dois dias de luto nacional de homenagem ao “Pastor humilde, Homem de convicções fortes e grande defensor da Liberdade dos cabo-verdianos” (Nota do Governo);
. Para a Igreja – “A Igreja, sob a sua orientação, conheceu grandes progressos em termos de organização, de aumento de padres e religiosos e leigos para a obra da Evangelização “(Expresso Ilhas. 16/6/2029);
. Em síntese: “Grande lutador e impulsionador da democracia no arquipélago e figura marcante na renovação da Igreja e da fé em Cabo Verde” (RFI – Rádio França Internacional
• Ao terminar esta série de onze artigos sobre “A Igreja e o 25 de Abril” - seis, na Metrópole, e cinco, nas Colónias - três notas finais se me impõem:
1. Fica claro que foram muitas as vozes da Igreja – e pagaram caro a sua ousadia - que, por exigência evangélica, tiveram a coragem de denunciar a opressão em favor da dignidade do Homem e dos Povos.
A história e a sociedade não podem ignorar o seu impacto no desmoronar do primeiro pilar do tripé em que o ‘Estado Novo’ se apoiava: Deus- Pátria – Família.
2. E, no entanto, como diz a historiadora Rita Mendonça Leite, da Universidade Católica:
“Permanece uma certa ideia da convivência que em determinadas alturas existiu entre boa parte da hierarquia católica e o regime. Se essa ideia permanece justifica-se que seja feito o pedido de perdão, em nome do esclarecimento do que foi o papel da Igreja Católica” (7Margens,30/1/2024).
3. Não foi sem razão que, logo após o ’25 de Abril’, testemunhei duas propostas de que faço memória…
. Na ‘Assembleia dos Párocos da Cidade do Porto’, um grupo propôs que todos deveriam pôr o seu lugar nas mãos do Senhor Bispo. Se houvesse acordo, eles seriam os primeiros a fazê-lo. O que não foi aprovado. E se o fosse, soubemos depois, o senhor Bispo não aceitaria.
. Num encontro com D. António Ferreira Gomes, na biblioteca do Seminário da Sé, um grupo de Padres apresentou uma moção que pedia a cada um dos bispos portugueses para, num assumir solidário de culpa, apresentar ao Santo Padre o pedido de renúncia.
Foi discutida, mas não aprovada. E foi pena porque, mesmo que não fosse aceite, seria um gesto simbólico que credibilizava a hierarquia e honrava a Igreja. (4/12/2024)
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