O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, novembro 20, 2024

VAMOS CONHECER PORTUGAL (I) - AQUAE FLAVIAE

No passado dia 18 de outubro, fomos a Chaves para conhecer o ‘Museu Romano’ - inaugurado em 2021 - que alberga ‘um dos maiores balneários do Império Romano’, no dizer do arqueólogo Rui Lopes. Mais que surpreendidos, ficámos estupefactos com o que vimos nos espaços que percorremos, nos expositores que lemos, nos quadros interativos que consultámos. No final, subimos a Vilar de Perdizes para visitar o P. Fontes e saber da sua saúde após a cirurgia a que foi sujeito. Acolheu-nos com um sorriso: - “Ofereci a minha biblioteca à Câmara Municipal que vai criar uma sala no museu da vila (que se chama ‘’Espaço Padre Fontes, acrescentei eu…) para expor os meus livros. Será inaugurada na sexta feira dia 13 de dezembro”. E guiou-nos, em romagem de saudade, por entre as estantes da sua biblioteca. Inveterado bibliófilo, era húmida a sua voz, ao ver prateleiras já vazias: - “Aqueles já foram, agora vai o resto. Vai fazer-me falta a sua companhia…” Havia ternura, quase materna, no modo como me mostrava a coleção dos livros mais antigos, de que lembro um missal publicado em 1595. Mereceu-me especial atenção um grosso volume da ‘Illustração Trasmontana’, do início do século passado, onde encontrei os títulos ‘A Terra de Chaves’, ‘Aquae Faviae’ e ‘A Água (Termas de Chaves). Todos referiam a tradição dum balneário romano em Chaves, mas ignoravam a sua localização: José Fortes, em ‘Aquae Flaviae’, (março de 1909), afirma:” Das thermas onde o romano magnificente as utilizava em instalações usualmente luxuosas, já não aflora vestígio relevante”. (…) ”O único e eficaz esforço seria exumar a Aquae Flaviae subterrânea, com o rigor dos modernos processos de investigação Sirva ao menos esta ligeira amostra do muito que se ignora como incitamento a archeologos locaes – que benemeritamente removam esta deprimente ignorância”. Aqui chegados, algumas interrogações poderão surgir no espírito dos meus leitores: - O que aconteceu? A sugestão foi, finalmente, ouvida? O primeiro expositor do Museu explica-nos: “O projeto de construção de um parque de estacionamento subterrâneo (2006) previsto para o largo do Arrabalde motivou a realização de trabalhos prévios de avaliação arqueológica que permitiram documentar a história de ocupação e transformação deste local ao longo de 2000 anos. (…) A descoberta mais notável consistiu na identificação do Balneário Medicinal Romano de Aquae Flaviae, de grande relevância pela monumentalidade e estado de conservação das suas estruturas e sistemas hidráulicos, continuando uma das nascentes a brotar água bicarbonatada sódica a 69.ºC.”. O acaso, passado quase um século (1909 – 2006) ‘exumou a Aquae Flaviae subterrânea’ e trouxe para a luz do dia um património escondido há cerca de dois mil anos. - O que nos diz a história? O segundo expositor ensina-nos: “O que marcaria particularmente a imagem urbana de ‘Aquae Flaviae’ seria a monumentalidade e relevância do Complexo das Termas Medicinais Romanas, localizado junto à icónica ponte (de Trajano) sobre o Tâmega. Construído no séc. I d. C. e profundamente remodelado em inícios do III d. C., o complexo monumental viria a sofrer uma derrocada, nos últimos anos do séc. IV d. C. Parte ainda continuou em uso até que, abandonado e progressivamente soterrado pelos depósitos das cheias do Tâmega, acabou por desaparecer.” Os ‘depósitos das cheias do Tâmega’ ajudaram a preservar um tesouro que, doutro modo, teria sido destruído pelos homens. - O que podemos ver do ‘Complexo das Termas Medicinais Romanas’? (FOTOGRAFIA?) Ao deambular pelo espaço do Museu, podemos visualizar: duas piscinas grandes, uma pequena e sete de reduzidas dimensões; as cloacas que conduziam para o Tâmega as águas sujas; uma sala onde se despiam para as piscinas; E ainda, o ‘Castellum Aquae’, reservatório que distribuía a água mineromedicinal; condutas de abastecimento de água termal; termas higiénicas; o Ninfeu, pequeno templo dedicado às Ninfas da água; o sistema hidráulico e a palestra, um espaço de encontro e convívio. Vale a pena uma visita e Chaves bem a merece… (20/11/2024)