ESTA CANETA SALVOU MILHARES DE PESSOAS
“O Homem não é uma inutilidade num mundo feito, mas o obreiro dum mundo a fazer-se.” (Leonardo Coimbra)
- No ano de 2005, em ‘A Grande Viagem’ – um livro de História que, em coautoria com Fátima Silva, publiquei e, durante vários anos, foi estudado em muitas escolas do Continente e Ilhas – escrevemos:
“Aristides de Sousa Mendes nasceu (19/7/1885) em Cabanas de Viriato. Em 1938 é nomeado cônsul em Bordéus (França). É nessa cidade que se encontra quando rebenta a Segunda Guerra Mundial (1939); é aí que se vai jogar a sorte de muitos fugitivos aos horrores da guerra, às perseguições e campos de concentração nazis.
Contrariando as determinações de Salazar, ajuda a fuga de 30 000 refugiados, de França para Portugal, concedendo-lhes os necessários vistos de entrada. (…)
Foi forçado à aposentação, sem qualquer pensão e com impedimento do exercício da advocacia. (…) Morre em Lisboa (3/4/1954), ‘pobre e desonrado’.
Porque é preciso não o esquecer, na terra que o viu nascer, surgiu uma Fundação que o lembrará.”
- Em 2011, com minha esposa, fomos a Cabanas de Viriato para conhecer a casa onde viveu quem o ‘Memorial do Holocausto’, de Jerusalém, honra com o título de ‘Justo entre as nações’.
E dei notícia na crónica ‘Aristides de Sousa Mendes – Herói de Humanidade’ (VP, 23/3/2011):
“No centro da vila, lá estava uma avenida nova com o seu nome. Perto, uma imponente casa brasonada em ruínas. Não vi qualquer estátua ou busto, nem sequer uma lápide a informar que ali nascera um Homem que salvou milhares de pessoas do terror e da morte.
Perguntei pela Fundação anunciada. Disseram-me que existe, mas não tem dinheiro. Pobre País que endeusa os seus ‘heróis de papel’ e maltrata os que lhe dão honras de universalidade.
Foi no ‘Miradouro Cristo Rei’ que me surpreendi ao ver esta inscrição:
Monumento a Cristo Rei mandado construir em 1933 pelo ilustre cabanense doutor Aristides de Sousa Mendes diplomata que exerceu as funções de cônsul geral em Bordéus – 1940 – salvou milhares de vidas do holocausto nazi da II Guerra Mundial”.
- Em 2021, voltámos à sua terra, do que fiz crónica em ‘Casa da Consciência’ (VP, 3/11/2021):
“A sua casa (…) já foi restaurada no exterior, mas o interior continua em triste abandono”.
Estou a evocar este Português Maior, no dia (19/10/2021) em que a sua memória foi solenemente acolhida no Panteão Nacional com o descerramento da lápide: ‘ARISTIDES SOUSA MENDES -1885 – 1954 - JUSTO ENTRE AS NAÇÕES – DIPLOMATA’.
Apenas uma pergunta… - Se o Papa Francisco criou o “Dia da Consciência” em homenagem a Aristides de Sousa Mendes, porque não fazer do solar onde viveu a “Casa da Consciência? “
No passado 2 de agosto, fomos visitar o ‘Museu Aristides Sousa Mendes’ na sua casa, agora belamente recuperada, de cuja inauguração o ‘7Margens’ fez duas notáveis reportagens (20 e 21 de julho) que merecem ser lidas.
Em silêncio, peregrinámos pelas salas de exposição: Um Lugar de Memória; ‘Uma Família Patrícia’; Carreira Diplomática; ‘É a Guerra’; Bordéus1940; ‘Fragmentos de Vida’; Castigo e Reabilitação; ‘Refugiados Hoje’; Salvadores; ‘Dia da Consciência’.
Um silêncio meditativo que contrastava com o que experimentámos ao percorrer os campos de concentração de Dachau (Alemanha), em 1971, e de Auschwitz (Polónia), em 2013. Lá, foi de terror, aqui, de louvor; lá, foi de morte, aqui, de vida; lá, foi de extermínio, aqui, de libertação; lá, o medonho, aqui, o sublime; lá, ‘o monstro saído/do buraco mais fundo da caverna’; aqui, ‘o anjo caído/do tal Céu que Deus governa’, de que fala Miguel Torga.
E o silêncio fez-se emoção ao contemplarmos a caneta com que assinou os passaportes e o carimbo que autenticou a sua assinatura.
A terminar…
Louvor: Na pessoa de Paula Teles e de Luís Medeiros que tão bem nos acolheram, presto a homenagem a quem deu corpo e mantém vivo este ‘Legado do Salvador e Herói de Consciência’, a começar pela Fundação que honra o seu nome e pela autarquia de Carregal do Sal que a apoiou.
Sugestão: Amigo Leitor, se puder, vá conhecer este Museu ímpar da nossa História. A entrada e o opúsculo que guia a visita são gratuitos.
Será recebido com cordialidade e ajudará a reparar a injustiça que, durante muitos anos, silenciou um dos nossos heróis maiores, porque herói de toda a Humanidade. (11/9/2024)
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